Nova cepa acelera contágio e aumenta reinfecção
Mato Grosso do Sul pode esperar números ainda maiores de pessoas infectadas e de ocupação de leitos de UTI
Estudos preliminares indicam que a variante P1 do novo coronavírus, descoberta em janeiro em Manaus (AM), tem maior carga viral, é mais transmissível e pode aumentar casos de reinfecção. Confirmada sua circulação em Mato Grosso do Sul, pode-se esperar ainda mais aumento de casos e ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no Estado.
Apesar de ponderar que o caos que se alastra pelo Brasil e que na segunda onda da doença em Manaus, no começo de 2021, não foi exclusivamente provocado pela nova cepa, o infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Rivaldo Venâncio, afirma que o momento é de engrossar as medidas de prevenção.
Isso porque, apesar de serem mal vistas por boa parcela da sociedade, elas são necessárias conter o avanço da covid-19 e a exacerbação de internações e mortes provocadas pela doença. “Em dezembro, escolas particulares de Manaus já estavam funcionando, houve passeatas para abrir tudo. O que houve lá é consequência disso”, avalia.
O pesquisador comenta ainda que o relaxamento de medidas diante da redução de casos, bem como a desorganização do sistema de saúde montado para combate à doença são também fatores que potencializam o agravamento da situação. Ele cita por exemplo, o fechamento de leitos de UTI, uma medida comum em todo Brasil nos momentos de menor crise com a covid-19.
Em Campo Grande, como demonstrado em quadro nesta página, esse vai-e-vem de abertura de leitos para dar suporte aos pacientes com covid e aos demais é perceptível mês a mês na pandemia, entre julho do ano passado e ontem.
Para se ter uma ideia, o mês com menos leitos de UTI disponíveis para infectados com o novo coronavírus foi em setembro de 2020, quando eram 265 vagas exclusivas para covid-19. A menor quantidade foi em novembro, quando havia apenas 79. Hoje são 208, conforme a plataforma Mais Saúde, mantida pela SES (Secretaria de Estado de Saúde).
“É desorganização da estrutura de saúde e relaxamento das medidas de distanciamento social e de circulação de pessoas. O caos lá em Santa Catarina ou em Porto Alegre vem disso aí. Medidas intermediárias não têm sido suficientes. Ou jogamos a toalha ou tentamos salvar vidas e pra salvar tem que ser mais rígido, infelizmente”, comenta Rivaldo Venâncio, que defende veementemente medidas mais duras.
O médico lembra que Araraquara (SP) está vencendo o pior momento da doença lá porque adotou fechamento total – lockdown – de 10 dias, que terminou ontem. Ele ressalta que as medidas individuais de cuidado - lavagem das mãos, uso de álcool 70% e máscara - devem ser mantidas.
Ministério da Saúde – Nota Técnica publicada terça-feira (2) pelo Ministério da Saúde norteia as ações em todo País diante da circulação da nova variante P1. Nela, a pasta evidencia que “tendo em vista o aumento rápido e expressivo do número de casos e óbitos pela doença em Manaus, a partir de dezembro de 2020, há uma hipótese de que isso esteja relacionado com uma maior infectividade dessa variante”.
Também ressalta-se que “estudos iniciais indicam que a variante descrita no Estado do Amazonas apresenta mutações que estão associadas à carga viral mais elevada e, consequentemente, maior capacidade do indivíduo portador do vírus transmitir para outra pessoa”.
Há ainda o alerta de reinfecção pela covid-19, porque em pesquisa da Fiocruz, “quase metade dos indivíduos (com amostras coletadas) parecia que nunca tinham sido infectados pelo microrganismo, sendo suscetíveis a uma nova infecção pelo SARS-CoV-2”.
Avanço em todo Brasil – De uma semana para outra, conforme boletim nacional da Fiocruz, publicado na terça-feira, Mato Grosso do Sul saiu de 76% de ocupação de leitos de UTI para 88%, índice de estado de alerta. O mesmo ocorre em outras 18 Estados do País. (Veja quadro acima)
“Pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG, alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais”, revela trecho da nota.
O documento lembra, inclusive, que o aumento no número de vagas em UTI é limitado, tanto devido à capacidade instalada nos hospitais e unidades de saúde quanto por quantidade de profissionais de saúde que podem atuar em unidades intensivas.
“A possibilidade de ampliação de leitos de UTI existe, mas não é ilimitada. Entre outros elementos, se impõem a necessidade de equipes altamente especializadas para dar conta de cuidados críticos”, diz.