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Capital

"Sou polícia, cara"; veja o que PRF disse antes de matar empresário a tiros

Conversa é transcrição da ligação ao 190, feita pelo policial Ricardo Hyun Su Moon, poucos minutos antes do crime

Luana Rodrigues | 24/01/2017 19:10
Trecho final da conversa. (Foto: Reprodução)
Trecho final da conversa. (Foto: Reprodução)

“Vou te mostrar, rapaz. Tá entendendo? Ta pensando o que, rapaz. Sô polícia, cara!” (Sic).

Esta foi a primeira frase que é possível ouvir em uma gravação de 7 minutos e 18 segundos, registrada pelo Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança) da Polícia Militar, no dia 31 de dezembro de 2016. 

O trecho é parte da transcrição do áudio de ligação feita pelo policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon de 47 anos, para o 190, no dia em que ele matou o empresário Adriano Correia do Nascimento, 33 anos, e atirou contra outras duas pessoas.

“Por favor. Manda uma viatura aqui que tem um motorista aqui que tá com indício de embriaguez. Eu tô aqui na Geisel, eu tô aqui na Geisel com... Aqui perto do parquinho, cara e...”, continua dizendo o PRF.

No texto, que descreve o diálogo do PRF com o policial militar responsável por atender as ligações de urgência, também está relatada parte da conversa de Moon com as vítimas, gravada ao fundo da ligação. “Você também ta bêbado então”, diz uma delas.

“Ô jovem, o que aconteceu aí? O cara ta conduzindo o veículo aí? O que é?”, questiona o policial, sem entender direito o que se passa do outro lado da linha.

Moon responde que o motorista de quem fala “fez uma barbeiragem” e que “quase entrou num acidente”, e completa, “que os três passageiros são suspeitos”.

De repente, o policial interrompe a explicação ao colega PM para dizer a alguém com quem está discutindo, que “vai mostrar”.

Do outro lado da linha, o policial da emergência então pergunta o endereço da ocorrência novamente. Moon se atrapalha e diz que vai buscar no GPS, ao mesmo tempo em que repete “eu vou mostra pro senhor, eu vou mostrar”.

Ainda na ligação, o policial passa o endereço para o colega da PM e diz que é preciso que levem o etilômetro, enquanto continua uma discussão com alguém não identificado nos documentos que transcrevem a gravação. “Vou fazer, vou fazer também, vou fazer com certeza”, diz o PRF, numa referência o teste de etilômetro.

Neste momento, alguém ao fundo grita: “Você ta louco, rapaz!”. Momento em que Moon responde: “Vocês três estão loucos!”.

A discussão segue, até o PRF volta a dizer para o colega no telefone que o trio é suspeito e que foi vítima de uma manobra perigosa no trânsito.

A partir desta hora, Moon começa a repetir uma ordem: “Mantenha distância. Mantenha distância.” E uma das vítimas responde: “A hora que você me mostrar a sua identidade, eu vou me afastar. Eu não saio daqui enquanto você não me mostrar a sua identidade”.

A discussão começa de novo, e o policial dá a entender que suspeita do passageiro do banco de trás, que pediu para ele mostrar algo, mas ele se recusou. “E daí cara? Eu pedi. (Ininteligível) e se você tá com uma arma atrás ai e não...” (vozes sobrepostas)

A transcrição da conversa termina com mais discussão entre o policial e uma das vítimas, onde o assunto é ameaça. “Ameaçaram. Ameaçaram. Por isso que eu tive que me defender, entendeu? Três contra um. Então. Vamos Esperar a chegada da PM aqui para resolver então. Beleza.”

A resposta também é gravada. Alguém, ao fundo, diz apenas: “Ta bom”. Momento em que o policial volta a discutir: “Beleza? Vocês fizeram errado.”

Pela transcrição, a ligação termina com o som de apenas duas palavras ditas por uma das vítimas: “a arma”.

Análise do conteúdo - Toda a conversa está registrada no inquérito da Polícia Civil sobre o caso, que tem 582 páginas. No documento, também é feita uma análise pericial sobre a gravação. 

Segundo o que consta no inquérito, nos exames, a perícia utilizou recursos computacionais adequados para o processamento e reprodução do arquivo digital que continha o registro sonoro questionado, possibilitando perceptual auditiva, bem como o tratamento  e análise acústica da conversa.

Nas degravações, também há registros de ligações de três testemunhas, sendo que ao fundo de uma delas, estão transcritas lamentações sobre a morte de Adriano e uma testemunha diz: “Se não tiver mais viatura a população vai tomar a providência cabível. O mesmo cidadão que disparou o tiro contra a caminhonete a Hilux tá colocando a mão na arma tentando alvejar o mesmo”, descreve uma testemunha.

Nas outras duas ligações, populares informam o acidente e pedem socorro. 

*Todas os diálogos descritos nesta reportagem foram reproduzidos na íntegra, conforme consta em transcrição no inquérito policial.

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