“A Justiça não tem força contra monstros”, diz mãe da 1º vítima de feminicídio
Sete anos após crime, família vive sofrimento da ausência de quem teve a vida interrompida por um crime brutal
Quando morre uma mulher vítima de feminicídio, morre também uma mãe, uma filha, uma família. Neste mês completa sete anos que a vida de Isis Caroline da Silva Santos, 22 anos, foi interrompida.
Ela se tornou um triste marco em Mato Grosso do Sul, por ser a primeira mulher morta após a vigência da Lei 13.104/2015, quer criou a tipificação feminicídio, o assassinato de uma mulher em razão de sua condição de gênero. Isis deixou duas filhas na época.
O Campo Grande News conversou com a mãe de Isis, dona Margareth Oliveira da Silva, 58 anos, que hoje mora com a neta Maria Fernanda, 10 anos. Ela é filha mais nova de Ísis e tinha apenas 2 anos quando a mãe desapareceu ao sair para jogar o lixo.
Hoje a menina sabe que Isis nunca mais voltou, porque foi assassinada pelo pedreiro e ex-namorado da mãe, Alex Arlindo Anacleto de Souza. Ele já havia torturado e estuprado a vítima quando ela morava em Três Lagoas. Chegou a ser preso, tinha histórico de violência doméstica, mas a Justiça o soltou. Foi então que ele voltou a cumprir a promessa de se vingar. Raptou Ísis e levou para um rio, onde afogou a mulher e deixou o corpo, próximo a Ribas do Rio Pardo.
Para a família, o homem é um monstro, que deveria ser isolado até o dia da sua execução. "Eles (assassinos) estão vivos, enquanto nós, mães estamos aqui sofrendo. Minhas netas sem mães. Preso, eles vão comer, beber, dormir, a custa do nosso dinheiro. São crápulas. A justiça não tem força, não tem poder. Sou a favor de pena de morte pra esse crime. Feminicídio está sendo uma lei sem comando. Uma justiça inadmissível. A nossa Justiça é muito fraca. É muita impunidade para esses covardes que estão acabando com nossas mulheres", desabafa a mãe de Isis.
Apesar dos anos, a dor ainda se faz presente. Dona Margareth não gosta de trazer à tona os momentos que passou. "Não é fácil. Tô dando essa entrevista porque não quero que isso seja esquecido.Isso não é gente é animal. Eu vejo que esse tipo de crime não tem como ir a júri, tem que ter prisão perpétua sem direito a nada. Nem visitas. Ultimamente os homens estão achando que são donos das mulheres. Que só tem uma no mundo. Que eles podem dominar", lamenta.
A vó teve que virar também mãe e reaprender a viver, ainda de luto. "Me deu uma sabedoria muito grande, coragem imensa e a responsabilidade que tenho de cuidar da filha dela, que ela deixou. Me sinto forte e corajosa, porque tive que criar essa força dentro de mim, que não sabia que tinha. Minha filha ainda vive com nós 24 horas. Ela que me sustenta. Ela que me guarda. Sinto falta dela me chamando de mãe preta e eu chamando ela de nega maluca."
O desejo de dona Margareth é que a lei de feminicídio ganhe força. Ao assistir nas últimas semanas a operação deflagrada pela Polícia Militar contra homens que praticaram violência doméstica com o nome da filha, a dona de casa chorou.
"Minha neta Maria Fernanda estava comigo. A televisão ligada passou a reportagem. Eu não sabia e quando vi aquilo o mundo acabou. Foi minha neta que me apoiou", conta. A filha de Isis relembra. "Pedi para ela ser forte, engolir o choro. Minha mãe estava ajudando a gente", disse a pequena.
Isis também deu nome a Lei nº 5.202, de 30 de maio de 2018, que instituiu no calendário oficial do Estado de Mato Grosso do Sul o dia 1º de junho, como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. A data lembra a morte da jovem Isis Caroline, em 2015. Já Alex Arlindo Anacleto de Souza, foi condenado a 26 anos de prisão pelo feminicídio.