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Capital

Advogado ensinava a "conquistar" crianças e teria dopado menino para estuprar

Conquistar confiança seria para "evitar a frustração dos abusos", dizia advogado na deep web

Dayene Paz e Aline dos Santos | 15/03/2022 10:39
Policial federal durante o cumprimento de um dos mandados da Operação Lobos 2. (Foto: PF/Divulgação)
Policial federal durante o cumprimento de um dos mandados da Operação Lobos 2. (Foto: PF/Divulgação)

Réu por pedofilia, advogado de 33 anos, morador em Campo Grande, alvo da Operação Lobos 2, deflagrada pela PF (Polícia Federal) contra pedófilos, relatou na deep web (internet profunda, com material que não aparece nas buscas comuns e protegido por criptografia), que teria dopado um menino para estuprá-lo. Além disso, ensinava na rede como manter a confiança de crianças para “evitar frustrações nos abusos”.

Os relatos feitos pelo próprio advogado investigado, que se apresentava na rede como “lepolepolepo”, constam em processo de investigação da PF e foram apresentados na decisão da 3ª Vara Federal, que negou pedido de liberdade provisória feito pela defesa. Para a Justiça, a investigação está em andamento e há necessidade de mantê-lo preso.

Investigação - O advogado foi preso em dezembro do ano passado, durante a Operação Lobos 2, contra pedófilos. Ele foi denunciado e virou réu por disponibilizar, publicar e divulgar conteúdo com sexo explicito envolvendo menores de idade. O crime é previsto no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Além disso, a PF ainda investiga se ele praticou abusos contra 13 crianças, com idades entre oito e 13 anos.

A denúncia aponta que o homem, ou “lepolepolepo”, como se identificava na rede, disponibilizou material num fórum chamado “Anjos Proibidos”, dedicado ao compartilhamento de material de abuso sexual de meninos, sendo os brasileiros a maioria dos usuários.

Ele usava páginas do ambiente fora da rede mundial, armazenadas na Deep/Dark Web, o que somente é acessível por browsers específicos, tais como o “Tor”, ou "The Onion Router" (roteador cebola). O nome se refere à maneira como ele funciona, pois percorre diferentes redes de sobreposições ou camadas (como uma cebola), e cada uma delas ajuda a criptografar o tráfego do computador.

Uma das senhas descoberta pela PF era “sharingiscaring”, que significa, numa tradução literal da Língua Inglesa para o Português, “compartilhar é cuidar”. Isso demonstra, conforme a Justiça, que o advogado ensinava a compartilhar material com discrição e também a praticar os crimes. "(...) não é um singelo consumidor de pornografia infantojuvenil (...), mas um "militante" ativo em prol da normalização do comportamento pedófilo, como se pode ver de suas diversas postagens na rede profunda ou obscura (...)”.

Ensinamentos - O advogado não apenas postava textos, como ainda publicava material de abuso sexual infantojuvenil por meio de links e dividia as senhas para acesso. Também relatava possíveis abusos sexuais praticados por ele e, por fim, orientava outros usuários desses fóruns sobre a prática do aliciamento de crianças, antes de submetê-las a violência sexual. Ele narrava como experiência própria de “fracassos” anteriores e ensinava a terceiros como ganhar a confiança das crianças e evitar a frustração dos abusos.

Para a polícia, o advogado alega que tudo não passava de postagens “fantasiosas” e de conteúdo “literário”. No entanto, foi possível ver que o réu fez, principalmente nos primeiros meses de 2016, quando a PF identificou seu início (ou reinício) de atividades no fórum “Anjos Proibidos”, postagens que mais parecem de experiências reais.

O próprio acusado admitiu ter postado fotos de seu cunhado – de nove anos – em roupa íntima para uma rede de predadores sexuais infantis. Para a Justiça, chama a atenção a quantidade imensa de detalhes.

Em um relato surpreendente, segundo a decisão judicial, e que o próprio advogado admitiu que “não tem” e “nunca teve” pudor algum com fazer suas vítimas familiares, citando ainda abusos que teria sofrido em sua infância de um tio. Também o fato de que afirmou não abusar de meninas, porque possui duas filhas.

Estupros - Mesmo o advogado alegando relato fantasioso sobre os abusos, foi aberta investigação de possíveis crimes de estupro de vulnerável, que está em andamento. Provas seriam relatos entre abril de 2016 e setembro de 2017, na deep web, que revelam a prática de estupro contra um menor identificado por ele como "cunhadinho". É possível constatar que o acusado seria casado com a irmã do menor e que tinha facilmente acesso a ele, prometendo presentes em troca de favores sexuais.

Em 14 de dezembro de 2018, “lepolepolepo” fez uma nova postagem sobre o caso, revelando que insistia em ter relação com "cunhadinho", mas que não estava mais sendo correspondido. Em outras postagens, confessa ter estuprado outro irmão da esposa, de 11 anos, também o próprio irmão e um vizinho. Em 2018, “lepolepolepo” afirma estar abusando sexualmente de outro menor, de 13 anos.

Em postagem no dia 21 de abril de 2019, o acusado relata "estraguei 5 relacionamentos com garotos", listando, em seguida, seis orientações do que não fazer para não perder relações com as crianças, demonstrando assim, segundo a investigação, experiência no abuso de menores.

Dopado - Em mensagem compartilhada em 29 de setembro de 2017, o acusado afirma ter dado 50 gotas de dipirona ao “cunhadinho”, o estuprando depois que adormeceu com o medicamento. O advogado ainda conta na deep web que a criança acordou agressivamente, “chutando-o e mandando-o à merda”, demonstrando a consciência dos abusos e o trauma.

Defesa - A defesa pediu para o processo não ser compartilhado com a OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil), que fará processo administrativo contra o advogado. A justificativa é de que se trata de dados preliminares, “informações inquisitoriais, sem o crivo do contraditório e do devido processo legal”.

Já as filhas do réu, que são menores de idade, solicitaram ingresso como assistente de acusação, sendo representadas pela mãe. Elas informaram ser possíveis vítimas. O magistrado autorizou o compartilhamento dos dados com a OAB e negou o pedido das filhas por falta de provas.

O nome do advogado não foi divulgado para não identificar as possíveis vítimas. A Operação Lobos 2 foi realizada em 20 estados contra abusadores sexuais.

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