Caos na saúde: falta de vagas em UTI sobrecarrega Defensoria Pública
A média diária de pedidos de vaga em CTI (Centro de Terapia Intensiva) e UTI (Unidade de Terapia Intensiva), disparou nos últimos dois meses, segundo a Defensoria Pública. Atualmente seis pessoas por dia procuram internação para pacientes em estado grave que estão em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da Capital. Há pouco tempo era uma solicitação por dia, em média. “É um caos”, diz o defensor público Fabrício Cedro Dias de Aquino, da 2ª Defensoria Pública de Atenção à Saúde Pública, às Pessoas com Deficiência e aos Idosos.
Em 12 anos de atuação, Fabrício admite que nunca viu situação tão preocupante quanto à saúde e conta que há duas semanas esteve com o prefeito, Alcides Bernal (PP) e o secretário adjunto de Saúde, Vítor Rocha, para expor o problema.
A epidemia de dengue do início do ano somada aos casos da gripe causada pelo vírus H1N1 são apontados como fatores agravantes para a ocupação dos leitos. A maior parte dos casos graves nas UPAs é de pacientes com quadro de pneumonia. Nessa época do ano, aumentam as infecções respiratórias e a circulação do vírus H1N1, causador da gripe A.
Em geral, os pedidos de vaga via Defensoria não se resolvem administrativamente, acabam indo para a Justiça e as decisões saem em algumas horas ou no dia seguinte. Como o assunto é prioridade, outros processos acabam sendo afetados.
O defensor afirma que em vários casos, mesmo com a decisão da Justiça, a transferência do paciente não é feita, como é o caso de idosa que espera a remoção da UPA do bairro Coronel Antonino desde quarta-feira (22). Nestes casos, é preciso ingressar com ação pedindo o sequestro de verba pública para o custeio do tratamento. Além de o acesso ao sistema público de saúde estar previsto pela Constituição Federal, resolução do Conselho Federal de Medicina 2.079/14, determina que o tempo máximo de permanência de pacientes em estado grave nas UPAs é de 24 horas.
“É uma questão existe planejamento de médiop e longo prazo, mas que agora estourou e exige medidas de curto prazo, como construção de outros hospitais”, avalia o defensor.
Nos primeiros 20 dias de junho, a Defensoria Pública recebeu na Capital 34 solicitações únicas para vagas hospitalares, das quais 28 viraram ações judiciais, a maioria delas para a área vermelha. Desesperados, parentes dos mesmos pacientes procuram várias vezes a Defensoria e muitas vezes mais de um parente vai até o local para buscar a vaga para uma mesma internação, o que pressiona o atendimento.
Ontem a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que 68 pacientes em situação crítica esperavam vagas em UTIs em postos de saúde, sendo seis crianças e oito pacientes com IOT (Intubação Orotraquial). Porém, os hospitais estão superlotados e quando há decisão judicial a Prefeitura tem que comprar vagas em hospitais privados.
Foi o que aconteceu no caso da idosa Mariana Felícia de Souza, 80 anos, que permaneceu por 3 dias na UPA da Vila Almeida, com respiração artificial e em estado gravíssimo. Ontem à noite ela finalmente foi transferida para o hospital El Kadri.
“Eu fico aliviada. A gente sabe que ela é idosa e um dia vai falecer, mas não aceito que seja por falta de recurso, em um posto. Agora ela está amparada e fico bem mais tranquila, fiz tudo que está ao meu alcance”, desabafa a neta, a operadora de caixa Tatiane Cândia de Souza Silva, 27 anos, que procurou a Defensoria e a mídia para apelar pela transferência da avó.