Comoção se espalha no adeus a “Jorginho” com velório lotado de policiais
Velório ocorre desde às 3h da madrugada, com imagens raras nesse tempo de pandemia: abraços e capela lotada
A lotação se impõe em meio aos sussurros das conversas baixas e ao choro na manhã desta quarta-feira (10). Mais de 100 pessoas se despedem de Jorge Silva dos Santos, 50 anos, o “Jorginho”, investigador da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), assassinado na tarde de terça-feira (9), junto com o colega, também investigador, Antônio Marques Roque da Silva , de 39 anos, em Campo Grande.
A pandemia com sua regras de não aglomerar e decreto que proíbe essa lotação em velórios que devem durar, no máximo, 2 horas ficaram, hoje, em segundo lugar.
Desde às 3h30 da madrugada, imagem rara é vista na funerária Nippon: com muitos abraços sem máscaras. Os policiais civis que foram em peso se despedir do amigo.
Assim como nos rostos de pessoas da família. Todos choram sem entender como, durante uma condução policial à tarde, em região nobre da cidade, Jorge e Antonio perderam a vida de forma tão rápida, e até silenciosa, baleados na nuca por Ozeias Silveira de Moraes, de 45 anos. Ozeias foi morto também, horas depois, em confronto com a polícia. Sequer estava algemado na viatura pois era levado pelos policiais em meio à investigação da Derf como “testemunha”.
Na rua, muitas viaturas da polícia civil, da Derf, mas também de outras delegacias, como a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), e colegas de várias unidades da polícia civil. Dentro e fora da funerária, todos juntos compartilham a dor para que fique menos pesada.
O protocolo de pandemia perde lugar com a quadra da Rua 13 de Maio fechada pela Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) em meio ao movimento intenso. Perde lugar, também, aos abraços apertados entre colegas, amigos que confortam a família e rostos sem máscara.
Investigador da 2ª DP (Delegacia de Polícia) Amarildo Rodrigues da Silva, resumiu o “mea culpa” pela aglomeração. “Nesse momento não tinha como deixar de vir”, disse, avaliando o movimento na rua e dentro da funerária. Amarildo é amigo de Jorginho há 18 anos.
“Há 18 anos o Jorginho fez academia de polícia comigo. Ele era um policial civil exemplar, não tinha hora e nem lugar, sempre muito disposto a participar das operações. É um sentimento de vulnerabilidade, não é só a gente que perde um amigo, é uma família toda que perdeu um ente querido”, comenta.
Irmão de Jorge, o motorista Marcos da Silva Fontes, 45, olhos inchados nesta manhã, prefere ser chamado de “finin”, apelido irônico que o irmão deu a ele “por ser gordinho”. Jorge, conta o irmão, era alegre, “um cara família”, casado com a mesma mulher há 10 anos.
“Minha mãe que me deu a notícia, na hora eu senti um vazio, fiquei em choque, eu não consigo nem te descrever o sentimento que estou sentido agora. É difícil de acreditar, éramos muito amigos. Ele vai fazer uma falta imensa. Não é fácil, está doendo demais. E o pior é que ele foi morto de uma forma covarde e sem direito à defesa”, declarou.
É o que também comentou o delegado geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas. “O sentimento que a gente tem é de tristeza, estamos muito abalados, perdemos excelentes profissionais, Jorginho trabalhava há muitos anos na Derf, e o Antonio veio de Coxim, tinha pedido para ser cedido e voltar para Coxim de novo, a tristeza é nossa”, avaliou.
Ele emenda que ali “todo mundo é policial”.
“Nós trabalhamos integrados, aqui não tem farda, todo mundo é policial, inclusive a guarda. Foi um ato covarde, nenhum dos dois teve a menor chance de reagir. Ficamos tristes, mas essa é a verdade do dia-a-dia do policial. É inerente à profissão os riscos”, disse.
O outro policial morto em ação ontem, Antônio Marcos Roque da Silva, de 39 anos, será sepultado em Coxim.