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Capital

Comoção se espalha no adeus a “Jorginho” com velório lotado de policiais

Velório ocorre desde às 3h da madrugada, com imagens raras nesse tempo de pandemia: abraços e capela lotada

Izabela Sanchez e Bruna Marques | 10/06/2020 09:35
Amigos, policiais civis tentam segurar a tristeza no abraço (Foto: Henrique Kawaminami)
Amigos, policiais civis tentam segurar a tristeza no abraço (Foto: Henrique Kawaminami)

A lotação se impõe em meio aos sussurros das conversas baixas e ao choro na manhã desta quarta-feira (10). Mais de 100 pessoas se despedem de Jorge Silva dos Santos, 50 anos, o “Jorginho”, investigador da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), assassinado na tarde de terça-feira (9), junto com o colega, também investigador, Antônio Marques Roque da Silva , de 39 anos, em Campo Grande.

A pandemia com sua regras de não aglomerar e decreto que proíbe essa lotação em velórios que devem durar, no máximo, 2 horas ficaram, hoje, em segundo lugar.

Desde às 3h30 da madrugada, imagem rara é vista na funerária Nippon: com muitos abraços sem máscaras. Os policiais civis que foram em peso se despedir do amigo.

Titular da Derf Reginaldo Salomão não segura a emoção na despedida (Foto: Henrique Kawaminami)
Titular da Derf Reginaldo Salomão não segura a emoção na despedida (Foto: Henrique Kawaminami)

Assim como nos rostos de pessoas da família. Todos choram sem entender como, durante uma condução policial à tarde, em região nobre da cidade, Jorge e Antonio perderam a vida de forma tão rápida, e até silenciosa, baleados na nuca por Ozeias Silveira de Moraes, de 45 anos. Ozeias foi morto também, horas depois, em confronto com a polícia. Sequer estava algemado na viatura pois era levado pelos policiais em meio à investigação da Derf como “testemunha”.

Na rua, muitas viaturas da polícia civil, da Derf, mas também de outras delegacias, como a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), e colegas de várias unidades da polícia civil. Dentro e fora da funerária, todos juntos compartilham a dor para que fique menos pesada.

Viatura da Derf em frente à Funerária Nippon (Foto: Henrique Kawaminami)
Viatura da Derf em frente à Funerária Nippon (Foto: Henrique Kawaminami)

O protocolo de pandemia perde lugar com a quadra da Rua 13 de Maio fechada pela Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) em meio ao movimento intenso. Perde lugar, também, aos abraços apertados entre colegas, amigos que confortam a família e rostos sem máscara.

Investigador da 2ª DP (Delegacia de Polícia) Amarildo Rodrigues da Silva, resumiu o “mea culpa” pela aglomeração. “Nesse momento não tinha como deixar de vir”, disse, avaliando o movimento na rua e dentro da funerária. Amarildo é amigo de Jorginho há 18 anos.

Início da cerimônia foi registrada nesta imagem, já com muitos policiais (Foto: Henrique Kawaminami)
Início da cerimônia foi registrada nesta imagem, já com muitos policiais (Foto: Henrique Kawaminami)

“Há 18 anos o Jorginho fez academia de polícia comigo. Ele era um policial civil exemplar, não tinha hora e nem lugar, sempre muito disposto a participar das operações. É um sentimento de vulnerabilidade, não é só a gente que perde um amigo, é uma família toda que perdeu um ente querido”, comenta.

Irmão de Jorge, o motorista Marcos da Silva Fontes, 45, olhos inchados nesta manhã, prefere ser chamado de “finin”, apelido irônico que o irmão deu a ele “por ser gordinho”. Jorge, conta o irmão, era alegre, “um cara família”, casado com a mesma mulher há 10 anos.

“Minha mãe que me deu a notícia, na hora eu senti um vazio, fiquei em choque, eu não consigo nem te descrever o sentimento que estou sentido agora. É difícil de acreditar, éramos muito amigos. Ele vai fazer uma falta imensa. Não é fácil, está doendo demais. E o pior é que ele foi morto de uma forma covarde e sem direito à defesa”, declarou.

Marcos, irmão caçula de Jorginho (Foto: Bruna Marques)
Marcos, irmão caçula de Jorginho (Foto: Bruna Marques)

É o que também comentou o delegado geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas. “O sentimento que a gente tem é de tristeza, estamos muito abalados, perdemos excelentes profissionais, Jorginho trabalhava há muitos anos na Derf, e o Antonio veio de Coxim, tinha pedido para ser cedido e voltar para Coxim de novo, a tristeza é nossa”, avaliou.

Ele emenda que ali “todo mundo é policial”.

“Nós trabalhamos integrados, aqui não tem farda, todo mundo é policial, inclusive a guarda. Foi um ato covarde, nenhum dos dois teve a menor chance de reagir. Ficamos tristes, mas essa é a verdade do dia-a-dia do policial. É inerente à profissão os riscos”, disse.

O outro policial morto em ação ontem, Antônio Marcos Roque da Silva, de 39 anos, será sepultado em Coxim.

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