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Capital

Defesa de Name tenta anulação, mas TJ mantém sentença de assassinato por engano

Nefi Cordeiro, que comanda o time defensivo de Jamil Name Filho, fez sustentação oral nesta terça-feira

Por Anahi Zurutuza e Kamila Alcântara | 17/12/2024 19:32
Defesa de Name tenta anulação, mas TJ mantém sentença de assassinato por engano
Jamilzinho olha para Paulo Xavier, homem que, segundo acusação, era real alvo de atentado que matou estudante (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Desembargadores da 2ª Câmara Criminal, por unanimidade, mantiveram a condenação de Jamil Name Filho pelo assassinato do estudante de Direito, Matheus Coutinho Xavier, executado por engano em 9 de abril de 2019. Aos 20 anos, o jovem foi fuzilado quando saía da garagem de casa. Os disparos eram para pai da vítima, Paulo Roberto Teixeira Xavier, a quem Jamilzinho havia sentenciado à morte, segundo investigação policial e a acusação.

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O caso de Jamil Name Filho, condenado pelo assassinato do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, destaca a complexidade do julgamento e a manutenção das penas por parte da 2ª Câmara Criminal. O crime ocorreu em 9 de abril de 2019, quando Matheus foi morto por engano, sendo o alvo real seu pai, considerado traidor por uma milícia armada. Apesar dos apelos da defesa, que questionou a validade de depoimentos e alegou coação, as condenações foram mantidas, refletindo a gravidade do crime e a luta contra a impunidade em Mato Grosso do Sul. O julgamento, considerado um marco na justiça local, durou três dias e envolveu extensos depoimentos e discussões jurídicas, culminando em penas severas para os réus envolvidos na execução.

O policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo e o ex-guarda civil metropolitano, Marcelo Rios, também foram condenados pelo homicídio e tiveram as sentenças mantidas.

Não é a primeira vez que a decisão do júri popular, realizado em julho do ano passado, é questionada na 2ª instância. Em fevereiro deste ano, por exemplo, recurso apresentado pela defesa de Marcelo Rios, podendo ser extensivo aos demais condenados, foi julgado. Os advogados do ex-guarda alegaram que a decisão dos jurados foi contrária às provas, tornando-a injusta, e pediram a anulação do julgamento considerado histórico para Mato Grosso do Sul. As condenações, contudo, foram mantidas.

Nesta terça-feira (17), foi a vez da defesa de Name Filho apresentar os argumentos. O advogado Nefi Cordeiro, ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que comanda o time defensivo, sustentou as alegações diante dos desembargadores.

A apelação é baseada principalmente em três argumentos. Um deles é que o depoimento de Eliane Benitez Batalha dado ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), em sala da Garras (Delegacia de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), é inválido, porque foi obtido por meio de coação por parte de investigadores. “Nem a Lei Maria da Penha determina que uma mulher agredida permaneça em delegacia. Permitir que a mulher passe dias na delegacia, com os filhos, para a defesa, é uma situação que não pode ser admitida”, disse.

Defesa de Name tenta anulação, mas TJ mantém sentença de assassinato por engano
Nefi Cordeiro, advogado de Name, durante sessão da 2ª Câmara Criminal. Ele fez sustentação oral por videoconferência, do escritório, em Brasília (Foto: Reprodução)

Cordeiro referiu-se aos dias que Eliane passou em alojamento da Garras junto com os filhos. Segundo a polícia, ela estava sob proteção após receber ameaças veladas para evitar que o marido, Marcelo Rios, delatasse a milícia armada liderada por Name. A mulher, que chegou a ser considerada testemunha-chave da Operação Omertà, mudou de versão depois chegando a falar em tortura psicológica para que depusesse contra o esquema violento para a manutenção de negócios escusos que perdurou décadas, sustenta o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

O advogado de Name também alegou ser inválido que o júri considerasse suposta confissão informal de Rios, levada ao julgamento durante depoimento de policial da Garras, Giancarlos de Araújo e Silva. Por fim, argumentou que a tese de assassinato por encomenda como vingança contra “PX”, como era conhecido Paulo Xavier, é frágil. “A defesa é clara no sentido de que ele ainda estava trabalhando para família, ele ainda prestava serviços para a família Name”, afirmou, como quem diz que o cliente não teria motivos para mandar matar o suposto alvo.

Apesar de todos os argumentos apresentados, seguindo o voto do relator, o desembargador Luiz Gonzaga Mendes Marques, os demais magistrados decidiram pela manutenção do veredicto, mas proveram parcialmente os recursos de Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Daniel Olmedo, além dos pedidos feitos pelo MPMS. Ainda não disponível no sistema processual online do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), o acórdão do julgamento pela 2ª Câmara Criminal trará detalhes das mudanças aplicadas à sentença com base nos pedidos das defesas e acusação.

Defesa de Name tenta anulação, mas TJ mantém sentença de assassinato por engano
Matheus, em foto no ano que morreu. (Foto: Arquivo)

Morto por engano – O acadêmico de Direito foi assassinado no dia 9 de abril de 2019. O ataque aconteceu por volta das 18h, quando ele saía da casa onde vivia com o pai e irmãos, no Jardim Bela Vista, bairro nobre de Campo Grande.

A investigação apurou que o universitário foi morto por engano, pois estava manobrando a caminhonete S10 do pai. O policial militar reformado Paulo Xavier era considerado traidor pela família Name, por isso, seria o alvo.

O rapaz foi atingido com sete tiros de fuzil AK-47 e o disparo fatal foi na base do crânio. A morte foi o início de uma investigação jamais imaginada, que levaria à queda de um dos clãs mais tradicionais de Campo Grande.

O júri –  Ao longo dos três exaustivos dias - total de 32 horas -, o conselho de sentença, formado por pessoas comuns, representantes da sociedade sul-mato-grossense, ouviu os depoimentos de cinco testemunhas de acusação e quatro convocadas pelas defesas, além dos interrogatórios dos réus e os debates entre advogados e promotores para chegar ao veredicto. O julgamento "da década" aconteceu em 17, 18 e 19 de julho de 2023.

Jamilzinho foi condenado a 23 anos e 6 meses de prisão em regime fechado, distribuídos em 20 anos por homicídio qualificado e 3 anos e 6 meses pelo porte ilegal de arma. Apontados como organizadores da execução, Rios e Vlad, receberam penas de 23 anos e 21 anos e 6 meses de prisão, respectivamente.

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