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Capital

Mãe de estudante morto por engano assiste 2º júri contra “milícia que mata”

Cristiane Coutinho atuou no julgamento da Jamil Name Filho e Marcelo Rios pela morte do filho em 2023

Por Anahi Zurutuza e Dayene Paz | 18/09/2024 15:00
Cristiane de Almeida Coutinho na plateia do auditório do Tribunal do Júri nesta quarta-feira (18) (Foto: Paulo Francis)
Cristiane de Almeida Coutinho na plateia do auditório do Tribunal do Júri nesta quarta-feira (18) (Foto: Paulo Francis)

Se nos dois primeiros dias do júri, de esperado clamor popular, a ausência da família da vítima e a baixa lotação da plateia chamaram a atenção, nesta quarta-feira (18), o último dia do julgamento, uma presença no auditório não passa despercebida: a mãe de Matheus Coutinho Xavier, o estudante de Direito assassinado no lugar do pai em 2019, alvo da milícia revelada naquele mesmo ano, acompanha de perto o segundo julgamento pela Operação Omertà.

No ano passado, quando dois dos réus de hoje foram condenados pelo homicídio, Cristiane de Almeida Coutinho, 48, atuou em plenário como assistente dos mesmos promotores que, agora, buscam a segunda sentença para Jamil Name Filho e Marcelo Rios.

A mãe chegou discreta, ainda pela manhã, para ocupar uma das cadeiras. Os olhos atentos à sessão de julgamento a impediram de conversar com a reportagem. Ela pediu que entrevista fosse feita num dos intervalos dos trabalhos.

Agora, por volta das 15h30, falou ao Campo Grande News e disse que nunca teve contato com a família de Marcel Colombo, a vítima "da vez", mas decidiu de última hora estar ali como forma de apoio. "Eu vim mais prestar solidariedade, porque são situações que não são idênticas, são momentos diferentes, mas com o mesmo resultado, que é a perda de um filho. Então foi com esse intuito de solidariedade que eu vim".

Foi até uma decisão de última hora eu ter vindo, mas foi em solidariedade mesmo, sabe? Eu imagino o quão difícil deve ser para eles, o quão doloroso, inclusive, assistir ao júri, deve ser extremamente doloroso, porque eu sei, porque eu já senti e sinto essa dor", completou Cristiane Coutinho ao final da entrevista.

Nesta quarta, Jamilzinho é julgado como mandante do assassinato de Marcel Hernandes Colombo, empresário de família tradicional da Capital que ficou conhecido como “Playboy da Mansão”. A morte dele aconteceu em 18 de outubro de 2018, meses antes daquele 9 de abril de 2019, data em que Matheus partiu após ser atingido por vários tiros de fuzil que eram endereçados a Paulo Xavier, conforme investigado na Omertà.

Advogada, mãe de Matheus Coutinho durante argumentação para jurados no ano passado (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Advogada, mãe de Matheus Coutinho durante argumentação para jurados no ano passado (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Júri de 2023 - Em julho do ano passado, no primeiro júri popular resultante do trabalho da força-tarefa que dedicou-se a desvendar a autoria de execuções em série na cidade, a atuação inédita de uma mãe como assistente da acusação foi considerada decisiva para as condenações.

Em entrevista ao Campo Grande News, em 21 de julho, dia seguinte ao término do julgamento, Cristiane disse que era uma mãe mais aliviada por ter conseguido, como advogada, honrar o nome do filho, que havia optado seguir o mesmo caminho do dela, mas teve o sonho de ser um tribuno interrompido.

Não por isso, a dor da perda e a saudade foram embora, também descreveu na entrevista. A “alma lavada”, contudo, lhe dava forças para seguir em frente.

No último dia do julgamento de 2023, Cristiane, que nunca havia pisado num Tribunal do Júri, tampouco é criminalista, recebeu das mãos de Moisés Casarotto – repita-se, um dos integrantes da bancada da acusação neste novo júri – uma beca bordada com o nome de Matheus. “Depois dos meus filhos, que foram um presente de Deus para mim, este é o melhor presente que já recebi na vida”, afirmou a advogada na entrevista emocionante. Leia aqui.

Júri de 2024 - Hoje, a advogada diz que também decidiu prestigiar o trabalho da promotoria, com quem atuou há um ano. "Vim, é claro, acompanhar o trabalho dos promotores, que é maravilhoso. É um trabalho denso e que com certeza eu acredito no êxito dos promotores, no resultado da ação".

Já a mãe revela que mantém-se inspirada o sonho do filho para continuar os dias, que "nunca são, nem serão fáceis" após a morte de Matheus.

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