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Capital

"É mentira sua, Jamil Name!": promotor tenta convencer jurados contra réus

Douglas Oldegardo recorreu ao testemunho, Whats e fotos para mostrar conexão na execução de "Playboy"

Por Silvia Frias e Dayene Paz | 18/09/2024 13:38
Promotor de Justiça, Douglas Oldegardo, durante argumentação no julgamento (Foto: Henrique Kawaminami)
Promotor de Justiça, Douglas Oldegardo, durante argumentação no julgamento (Foto: Henrique Kawaminami)

“É mentira sua, Jamil Name!”, exaltou-se o promotor de Justiça Douglas Oldegardo Cavalheiro do Santos durante o julgamento do empresário, acusado de ser o mandante da morte de Marcel Costa Hernandes Colombo. Teatral em alguns momentos, Oldegardo usou vários recursos para chamar atenção dos jurados: desenho, áudio de testemunhas e fotos para demonstrar a ligação dos réus com a execução.

“Aqui na nossa Campo Grande, nós admitimos crimes dessa natureza? Não!”, bateu na mesa, enfático. “Campo Grande não será capital onde execuções sumárias são engolidas goela abaixo”, disse o promotor.

No início da argumentação, o promotor relembrou a morte do estudante Matheus Coutinho Xavier, crime que resultou na condenação de Jamilzinho em julho de 2023. “Lá não foi Matheus, como aqui não é Marcel, é a sociedade”, disse. “Hoje é o dia de fechar feridas que sangram aqui na nossa sociedade”.

Depois disso, passou a apresentar argumentos que, segundo a acusação, desmontam as justificativas apresentadas pelos réus.

Oldegardo diz que recado de Jamilzinho não estaria grudado na geladeira; "matem Marcel" (Foto: Henrique Kawaminami)
Oldegardo diz que recado de Jamilzinho não estaria grudado na geladeira; "matem Marcel" (Foto: Henrique Kawaminami)

Um deles era o que culminou na frase que acusou Jamilzinho de mentiroso. Oldegardo acusou Jamil Name Filho e rebateu a fala do réu, ao dizer que o taco de beisebol coberto de arame farpado foi comprado pelo filho de 10 anos e teria sido encontrado pela polícia no quarto da criança e não no escritório, como apontou a denúncia.

“Me tragam aqui uma criança de 10 anos que tenha visto um CD, tu conhece um guri de 10 anos que já viu um CD? trabalho com estagiário de 20 e poucos anos que nunca viu um CD”, questionou.

Também desqualificou o depoimento de Eliane Batalha e de Marcelo Rios, que voltaram a falar de tortura na Garras (Delegacia de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros). “Chora, chora, chora e não cai uma lágrima”.

Taco de beisebol com arame farpado encontrado na casa de Jamilzinho (Foto/Reprodução/Henrique Kawaminami)
Taco de beisebol com arame farpado encontrado na casa de Jamilzinho (Foto/Reprodução/Henrique Kawaminami)

O promotor disse que, até agora, defesa e réus contestaram as evidências, dizendo que as provas não prestam, que o relatório policial é inválido e atacaram reputações. “A única reputação aqui que não foi atacada é a reputação secular da família Name”.

Oldegardo disse que Jamilzinho era o “mandante dos crimes, o detentor da ordem”, sendo a pessoa que delegava ordens, tentando não deixar rastros. “Não há áudio, não há Whats, não há carta, não há telegrama, não há pedra talhada, não há nada escrito a carvão, não tem, não tem”. Depois disso, usou o cavalete para ilustrar que não encontraria o recado na porte da geladeira dos Name com o recado "matem Marcel Colombo”.

Sobre o incidente que seria o motivo da morte de Colombo, novamente contestou Jamilzinho, dizendo que todas as testemunhas falam que o entrevero na casa noturna aconteceu em 2016 e não em 2013, como o réu enfatiza no depoimento.

Recorreu ao testemunho de Paulo Roberto Teixeira Xavier, o PX, que trabalhava para família Name na época e prestou depoimento no outro julgamento da Operação Omertà, em julho de 2023. PX, ex-policial, é pai de Matheus Coutinho Xavier.

Jamil Name Filho assiste sessão de julgamento e fala de Douglas Oldegardo (Foto: Henrique Kawaminami)
Jamil Name Filho assiste sessão de julgamento e fala de Douglas Oldegardo (Foto: Henrique Kawaminami)

Na fala de PX, Jamilzinho teria ficado agressivo depois de ter sido atingido pelo gelo jogado por Marcel Colombo. O empresário teria tentado agredir “Playboy”, mas acabou sendo atingido com soco no nariz. Depois disso, ficou obcecado com a ideia de matar o rapaz, conforme testemunho de PX. “Jamilzinho falou claramente para mim, só ia esperar um tempo, mas que iria matá-lo”, contou

“Lá no bar, quando ele briga com o Name, ele assina a sentença de morte”, disse o promotor.

O promotor ainda lembrou do aviso dos amigos de “Playboy” quando souberam a identidade da pessoa com quem tinha brigado na cassa noturna. “Os amigos se assustaram, falaram ‘que que tu cheirou? Que tu botou no pão de manhã, animal?’”. Embora as falas não sejam literais, foi a forma teatral usada pelo promotor para ilustrar o espanto deles quando souberam do entrevero.

Sobre o pedido de desculpas que teria ocorrido dois meses depois da briga, se baseou nas testemunhas ouvidas na investigação, que relataram que Jamilzinho não foi recíproco quando Marcel Colombo estendeu a mão.

A pilha do processo, com cerca de 10 mil páginas (Foto: Henrique Kawaminami)
A pilha do processo, com cerca de 10 mil páginas (Foto: Henrique Kawaminami)

Oldegardo diz que só uma pessoa, que prestou depoimento para defesa, diz que houve aperto de mão, sendo contestado pelo colega de acusação, Moisés Casarotto.

Depois disso, a investigação e quebra de dados telemáticos (Whats, áudio e dados digitais) mostraram que as ordens de Jamil Name Filho começaram a ser cumpridas. Segundo o promotor, foram encontrados arquivos do policial federal Everaldo Monteiro de Assis com pesquisa sobre Marcel Colombo; um pen-drive rosa, com dados sobre a vítima e que seria do PF, foi encontrado no “bunker” do Monte Líbano, onde a milícia escondia as armas.

Além do pen-drive, também foi encontrado material impresso com as pesquisas do grupo, em poder de Marcelo Rios.

O bilhete encontrado na cela de detento da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) faz a conexão do ex-guarda civil Rafael Antunes Vieira como o responsável por esconder a arma do crime. Porém, a presença de Antunes foi flagrada em outros momentos, trabalhando para Jamilzinho.

Advogado Jail Azambuja, que representa Everaldo Monteiro, oferece copo de água para promotor (Foto: Henrique Kawaminami)
Advogado Jail Azambuja, que representa Everaldo Monteiro, oferece copo de água para promotor (Foto: Henrique Kawaminami)

A investigação, segundo o promotor, também liga Juanil Miranda no caso, sendo ele o pistoleiro que executou Marcel Colombo. Pouco depois do crime, a quebra de dados telemáticos mostra que Marcelo Rios pesquisou 120 vezes o nome de Marcel Colombo na internet, da 0h18 até 7h39.

“O que o braço direito de Jamil Name Filho faz pesquisa do nome de Marcel Colombo, minutos depois dele ser executado? Nem a polícia estava sabendo, só o sicário, só o assassino sabia”, questionou o promotor.

“Os senhores têm alguma dúvida que Juanil executou, organizado e orquestrado por Marcelo Rios? E que Marcelo Rios fez isso por ordem de Jamil Name, alguém tem alguma dúvida sobre isso? Quem me traga a dúvida, que eu resolvo”, desafiou.

Estão sendo julgados quatro réus: além de Jamilzinho, os ex-guardas civis Marcelo Rios e Rafael Antunes Vieira e o policial federal Everaldo Monteiro de Assis.


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