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Capital

"Deu tudo certo": policial diz que mulher de réu ouviu conversa com Jamilzinho

Defesa de Marcelo Rios alegou que informações não constam em relatório do policial: "lembrou no júri?"

Por Silvia Frias e Dayene Paz | 16/09/2024 17:54


Parte do depoimento do investigador Giancarlo de Araújo e Silva é baseado em conversas informais que teve com o ex-guarda municipal, Marcelo Rios e a esposa do réu, Eliane Batalha. Em uma delas, a mulher teria dito ao policial que ouviu uma conversa do marido com Jamil Name Filho, logo após a confirmação da morte Marcel Costa Hernandes Colombo: “deu tudo certo”.

A frase teria sido falada por Rios, dos quatro julgados pela morte de Colombo, conhecido como “Playboy da Mansão”.

O investigador disse que conversou várias vezes com o casal, em momentos distintos, durante os dias que eles estiveram na sede da Garras (Delegacia de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), logo após a prisão de Marcelo Rios.

Essas conversas geraram relatório de 40 páginas, entregue à Garras no dia 16 de agosto de 2019. O material foi embasado no artigo 150 da Lei Orgânica da Polícia Civil, que trata da coleta e formalização de relatório para instruir os delegados na apuração.

Depois de ser preso no flagrante do “bunker” de armas na casa do bairro Monte Líbano e que seriam da organização comandada pelos Name, Rios teria manifestado preocupação em deixar a esposa e os filhos em casa, sem segurança. Todos foram levados para a delegacia, que serviu de alojamento, enquanto se decidia se ela seria incluída no programa de proteção à testemunhas.

Giancarlo de Araújo (azul) presta depoimento durante júri da morte de Marcel Colombo (Foto: Paulo Francis)
Giancarlo de Araújo (azul) presta depoimento durante júri da morte de Marcel Colombo (Foto: Paulo Francis)

Nesse período, de três a quatro dias, segundo o investigador, muito foi falado com os investigadores que levavam marmita para a família, doce para as crianças ou intermediavam contato com os advogados.

Segundo Giancarlo de Araújo, em uma dessas conversas, Eliane teria dito que Jamilzinho entregou R$ 50 mil para que Rios contratasse um servidor da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e matasse Colombo dentro da cadeia.

Como o plano não deu certo, quando Colombo saiu da cadeia, Jamilzinho teria começado a pressionar Rios. “Se ele não matou lá, ele tinha que se virar na rua”, disse, em depoimento. Depois, Eliane teria contado ao investigador que o marido mandou que ela procurasse matérias na internet. “Acho que aconteceu alguma coisa aí”.

O investigador contou que ela encontrou a notícia da morte de Marcel Colombo e, depois, presenciou o marido, no banheiro, conversando com Jamilzinho por telefone. “Deu tudo certo”.

O advogado Márcio Widal, que representa Rios, recorreu ao citado relatório para rebater as informações prestadas pelo investigador. Leu o parágrafo que trata da morte de Colombo, que cita o pagamento de R$ 50 mil ao servidor da Agepen. “O senhor não registrou aqui a consulta da internet e que Jamilzinho teria pressionado o Marcelo Rios para matar na rua, se virar”, rebateu.

Em depoimento formal, o casal não confirmou as informações. Eliane chegou a dizer que foi torturada na delegacia.

Giancarlo de Araújo respondeu que o relatório tem umas 54 páginas, “quase uma narração de livro” e rebateu. “Tudo não está aqui, doutor, não tem condição de estar tudo aqui”, afirmou “Ia anotando algumas coisas, a gente ia fazendo, pode ter passado um vazio aqui, mas, foi dito”.

Widal aproveitou a oportunidade. “Relatório foi feito em 2019, mais de cinco anos depois, aí você lembra em plenário do júri algumas informações tão importantes como essa que não foram anotadas em um relatório tão importante...”.

O investigador comparou a situação a encontro com amigo de bola, que pergunta se ele se lembraria dos dois terem jogado. Ao detalhar o momento, se recorda. “A memória, ela vem, o fato ocorreu, não tem por que eu mentir, o fato aconteceu”.

Nefi Cordeiro, que representa Jamilzinho, perguntou aos outros advogados sobre o comportamento de Marcel Colombo, que era “bem complicado”. O policial falou que tinha essa informação, de que ele bebia, fazia uso de droga e arrumava confusão com PM, PF. “Era um cara que achava que nunca ia dar nada para ele”.

Em outro momento, Widal perguntou aos investigadores sobre a denúncia de que esse grupo de pessoas matava por “motivo fútil, matava porque decidia que ia matar”. Perguntou quais casos se encaixariam nesse contexto: o investigador citou, entre outros, o do delegado Paulo Magalhães. “Têm vários e vários crimes, mas é entendimento da investigação”, acrescentando que, se não chega a denúncia, é por outro entendimento na fase processual.

Sessão - Hoje foi o primeiro dia do julgamento, que está sendo previsto para acabar somente na quinta-feira (19).

Quatro pessoas serão julgadas pela morte de Marcel: Jamil Name Filho, Marcelo Rios (ex-guarda municipal), Everaldo Monteiro de Assis (policial federal) e Rafael Antunes Vieira (ex-guarda municipal). Rafael Antunes Vieira está em regime aberto, sob uso de tornozeleira eletrônica e Everaldo Monteiro de Assis responde ao processo em liberdade.

O processo tem mais um réu, o pistoleiro Juanil Miranda Lima, mas o processo foi desmembrado, já que é tido como foragido da Justiça.

De acordo com a decisão que determinou o júri popular, Juanil Miranda efetuou os tiros de pistola contra a vítima. Conforme a denúncia, os mandantes foram Jamil Name (falecido) e o filho Jamilzinho. “Destaca que Jamil Name e Jamil Name Filho agiram por motivo torpe, visto que mandaram matar em razão de vingança por agressão anterior praticada pela vítima”.

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