Associação repudia ataques a delegado durante júri da Omertà
Adepol rebateu acusações de tortura fundadas por ex-esposa de réu
A entidade que representa os delegados que atuam em Mato Grosso do Sul saiu em defesa do ex-titular da Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), Fábio Peró Correa Paes, acusado de tortura durante o júri da Operação Omertà, na tarde desta terça-feira (17), em Campo Grande.
Conforme a nota pública, a Adepol (Associação Estadual dos Delegados de Polícia) repudiou as declarações prestadas por Eliane Benitez Batalha, ex-esposa de Marcelo Rios, enquanto a testemunha do caso prestava depoimento.
"A mulher do réu, na data de hoje e perante o Tribunal do Júri, imputou falsamente o delegado durante as investigações do crime de homicídio que resultou na morte de Marcel Colombo. A conduta já havia ocorrido no ano de 2019, quando o mesmo réu foi condenado a 23 anos de prisão por outro homicídio e naquela oportunidade Eliane também imputou falsamente ao delegado a prática de crimes".
Ainda segundo a entidade, "atacar com fatos inverídicos a honra pessoal do agente público que investiga, acusa e julga é uma prática reprovável que já não surte mais efeito dissuasório perante a opinião pública ou perante a Justiça criminal, tratando-se de ofensas gratuitas que não desmerecem a investigação policial nem a ação penal, tanto é que a despeito das calúnias o réu foi condenado em 2019".
Por fim, a Adepol destacou que está adotando medidas cíveis e criminais contra Eliane, "[...] fato que sempre ocorreu diante de afronta à honra, prerrogativa ou direito de qualquer associado, pois nenhum Delegado de Polícia está sozinho em Mato Grosso do Sul".
Entenda - Em frente ao júri, Eliane pontuou que ouvia o tempo todo que ela estava em perigo. “O delegado Fábio Peró e os policiais começaram a conversar comigo, dizendo que iam me matar e eu precisava prestar um depoimento falando tudo o que eles me diziam. Não falavam quem que ia me matar. Falavam que iam arrancar minha cabeça e a cabeça do Marcelo. Mostraram fotos e vídeos de pessoas que eu nunca tinha visto na minha frente”.
A testemunha narrou que os filhos – de 5 e 7 anos – foram “usados” para manipulá-la. As crianças ficaram sem se alimentar direito e confinadas no alojamento da delegacia, na versão dela, embora admita que até em mercado foi levada para comprar guloseimas para as crianças.
Disse, ainda, que Marcelo Rios foi fisicamente torturado e que os pedidos de socorro dele em cela eram ouvidos por ela e pelas crianças. “Ouviram o pai chorando, agonizando logo ali. Fazer isso com uma criança é desumano”.
Como no primeiro júri, ela descreveu o episódio que o filho teria vivido naqueles dias. As crianças teriam sido deixadas no alojamento, enquanto a mãe foi levada até a casa dela pela equipe da Garras. O menino, inconformado com a demora da mãe, teria deixado o quarto à procura dela, mas se deparou com um homem que descreveu como “barbudo, todo de preto, com cara de monstro”. “Era o delegado Fabio Peró”, afirmou Eliane.
No julgamento do ano passado, ela havia dito que neste momento o policial teria dito ao garoto que “arrancariam” a cabeça da mãe. “Ele olhou para o meu filho e disse: ‘nós mandamos a sua mãe para arrancar a cabeça dela. Nós vamos arrancar a cabeça da sua mãe’”, descreveu, aos prantos no dia 18 de julho de 2023.
A versão mudou nesta terça. Segundo a mulher, naquele momento que o menino deixou o alojamento e deparou-se com Peró, o delegado teria dito que os pais deveriam “ajudar” a polícia. “Ele fala: ‘pede pra mamãe ajudar, se não, cada um de vocês vai para uma família'”. Hoje, enquanto Eliane falava, Marcelo Rios colocava as mãos na cabeça e fazia cara de choro, em vários momentos.
No ano passado, após saber do teor dos depoimentos das testemunhas de defesa no julgamento que condenou Name Filho e Rios pela morte do estudante de Direito, Matheus Coutinho Xavier, Fábio Peró deu entrevista ao Campo Grande News e rebateu as acusações. “A tática é velha para descredibilizar a investigação e os policiais”.
O delegado explica que a força-tarefa atuou “o tempo todo para proteger” Eliane Batalha e as crianças. O depoimento dela só mudou, segundo a Omertà, depois que ela e Rios receberam a visita do advogado enviado pela família Name à Garras.
Omertà - O júri de hoje faz parte do caso Playboy da Mansão. Marcelo Rios é acusado de arquitetar o plano para matar Marcel Hernandes Colombo, a mando do patrão, Jamil Name Filho. A vítima foi executada aos 31 anos com tiros de pistola 9 milímetros à queima-roupa em um bar da Avenida Fernando Corrêa da Costa, Vila Rosa Pires, em Campo Grande, na madrugada de 18 de outubro de 2018. Um amigo dele ficou ferido.
A história, porém, remonta a 2016, quando houve desentendimento entre Jamil Name Filho e vítima em uma boate da Capital, segundo o próprio acusado de ser o mandante do crime, por causa de balde de gelo.
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