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Capital

Delegado foi a 4ª vítima de pistolagem nos últimos 3 anos em Campo Grande

Crime sem solução, pistolagem assusta e assombra a cidade

Aline dos Santos | 26/06/2013 15:21
Magalhães foi assassinado no fim da tarde de ontem, dentro do carro.
Magalhães foi assassinado no fim da tarde de ontem, dentro do carro.

Com mais de 800 mil habitantes, Campo Grande volta a conviver com estigma de crime de cidade sem lei: a pistolagem. A última vítima da ação rápida, eficaz e fatal, foi o delegado aposentado Paulo Magalhães, de 57 anos.

Era começo de noite, chovia e ele esperava, dentro de um veículo Land Rover, a filha na saída de uma escola localizada no cruzamento das ruas Alagoas e da Paz. Uma moto se aproximou e o carona efetuou os disparos. A dupla fugiu e para trás deixam mais uma vez a cidade atônita diante de novo episódio de violência explícita.

“Infelizmente, estamos vendo o retorno de práticas ocorridas na época ‘negra’ de Campo Grabe. Anos 50,60. Isso está se tornando até uma rotina. Esse tipo de crime absurdo”, avalia o advogado criminalista Ricardo Trad. Em tempos idos, a morte à bala, de tão comum, chegou a ser mencionada como “doença da terra” no registro de um médico da cidade sobre causa mortis.

O advogado atua no caso que reabriu a temporada de crimes de mando. O presidente da Câmara Municipal de Alcinópolis, Carlos Antônio Carneiro, foi assassinado a tiros na avenida mais importante de Campo Grande. O crime foi em outubro de 2010, na avenida Afonso Pena.

Diante de crimes insolúveis que ficaram no passado – como a execução do delegado Robson Maia, morto em 1996 na avenida Bandeirantes, e do jornalista Edgar Lopes de Faria, assassinado em 1997 – o caso da execução do vereador caminha, ainda que a passos lentos, para um desfecho.

Uma falha na última etapa do crime de pistolagem, a fuga, foi determinante para que pessoas fossem levadas ao banco dos réus. Policiais que passavam, por acaso pelo local, prenderam os executores. Outro fato inédito é chegar aos suspeitos de terem pago e dado a ordem de execução.

Três vereadores e um ex-prefeito de Alcinópolis respondem como mandantes. Segundo Trad, o processo está em fase de instrução. “Falta ouvir testemunhas, alegações finais e sentença de pronúncia”, afirma o advogado. Na última etapa, o juiz decide se os réus vão ou não a júri popular.

Apesar da demora, Alcino Carneiro, pai da vítima, não desiste. “Eu acredito, ainda confio na Justiça de Mato Grosso do Sul. Eles vão pagar na cadeia”, diz. Segundo Alcino, a defesa recorreu a uma manobra para retardar o processo. “Arrolaram o Reinaldo Azambuja, o deputado federal, como testemunha para ganhar tempo”, reclama. Como parlamentar, o deputado tem direito a escolher a data e o local para ser ouvido.

Os vereadores acusados foram reeleitos no ano passado: Eliênio Almeida de Queiroz (PR), Valter Roniz Dias de Souza (PR) e Valdeci Lima de Oliveira (PSDB). Já Manoel Nunes da Silva (PR) perdeu a eleição para prefeito. Já foram condenados o pistoleiro e o intermediador do crime.

Andrey Cunha, mais uma vítima de pistoleiros em fevereiro de 2012.
Andrey Cunha, mais uma vítima de pistoleiros em fevereiro de 2012.

Sete meses – Em 21 de novembro do ano passado, mais uma execução em Campo Grande. Dono do jornal eletrônico Última Hora News e também policial aposentado, Eduardo Carvalho, de 51 anos, foi morto a tiros em frente de casa. No local do crime, foram encontradas cápsulas de munição ponto 45. Depois de sete meses, não houve desfecho.

“Estamos investigando”, afirma apenas o titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), Edilson dos Santos, que agora também está com o caso da execução de Paulo Magalhães. “Pistolagem é um crime muito difícil de solucionar, mas não é impossível”, afirma.

Em 23 de fevereiro de 2012, outro caso rumoroso e clássico de execução. O cenário, mais uma vez, imediações de escola, mas na rua Rio Grande do Sul. Andrey Galileu Cunha foi morto com tiro no pescoço. Ele era passageiro de um Siena.

Em junho, operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) revelou ligação entre o crime e a máfia da jogatina. Dois policiais civis foram presos e apontados como “cabeças” de uma organização criminosa que explora jogos de azar em Campo Grande, mas depois liberados.

Conforme a denúncia, havia “prova segura da materialidade dos delitos de homicídio”, bem como da formação da quadrilha, com a apreensão de máquinas caça-níqueis, máquinas jukebox, armas de fogo e munições. Um dos policiais era lotado na Deops (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social), local onde Andrey esteve horas antes de ser morto.

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