ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, TERÇA  24    CAMPO GRANDE 29º

Capital

Denúncia em delegacia contra suspeito de matar Kauan foi ignorada em 2014

Mulher diz que tentou denunciar Deivid Almeida Lopes, 38 anos, mas servidor se negou a fazer registro

Luana Rodrigues | 29/07/2017 08:32
Engenheira civil procurou polícia em 2014, mas denúncia não foi registrada, segundo elar (Foto: João Paulo Gonçalves)
Engenheira civil procurou polícia em 2014, mas denúncia não foi registrada, segundo elar (Foto: João Paulo Gonçalves)

Há 15 dias, a Polícia Civil identifcou como suspeito de matar o menino Kauan, de 9 anos, um homem de 38 anos, que já foi professor de escolas estaduais e municipais. De lá para cá, surgiram mais 9 vítimas, todas crianças e adolescentes que, segundo a investigação, eram atraídas com dinheiro pelo criminoso, e violentadas sexualmente. Tudo poderia ser diferente se, há 3 anos, tivesse sido registrada, e investigada, a denúncia de uma engenheira civil, de que o afilhado havia sido assediado por Deivid de Almeida Lopes, agora preso. Ela conta ao Campo Grande News que um servidor da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), em Campo Grande, se negou a fazer o registro.

De acordo com a mulher, de 33 anos, na época, ela encontrou conversas no celular do afilhado, que tinha 12 anos, com um homem que diz ser Deivid, então professor do garoto. “Ele mandava vídeos pornográficos para o meu afilhado e marcou um encontro com ele e um coleguinha numa praça, disse que era para eles brincarem e que depois iria ajudá-los a fazer um trabalho da escola, entendi na hora que era uma isca, fiquei horrorizada e decidi denunciar”, conta.

A engenheira afirma ter contado o que houve ao pai do menino, que é tio dela, e os dois juntos foram até a Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), para denunciar o homem. “Chegamos lá e tomamos um chá de cadeira. Depois, um homem, que não sei se é policial ou servidor administrativo, chamou a gente num corredor perto da escada e perguntou o que era, contamos a história, mas ele disse que não poderia registrar a denúncia sem a presença da vítima”, lembra.

Segundo a mulher, o menino estava em casa, envergonhado, depois de uma conversa com a madrinha e o irmão, durante a qual negou ter tido qualquer encontro ou relação com o então professor.

“Mas eu estava com o celular dele nas mãos, e disse ao policial que podia entregar para que eles investigassem, mesmo assim, ele se negou a registrar o boletim e mandou a gente procurar Deus, porque era isso que estava faltando em nossa família”, explica.

A mulher conta que ela e o tio voltaram para casa revoltados com tamanho descaso, por isso desistiram da denúncia e apenas passaram o observar melhor o adolescente.

“Meu tio queria pegar ele (professor) na porta da escola, chegou a ir um dia lá, mas o homem não estava. Depois, graças a Deus, ele desistiu, ou faria uma besteira”, afirma.

O que a engenheira não imaginava, é que três anos depois reconheceria o mesmo homem que trocava conversas com seu afilhado nas capas de jornais, apontado como suspeito de estupros e até o provável desaparecimento de crianças.

“Eu entrei em desespero, me senti arrasada, porque sei que isso poderia ter sido evitado se eu tivesse batido o pé naquela delegacia e denunciado. Por isso eu resolvi falar agora, para que as pessoas não desistam. Se souberem de algo, vão e denunciem, mesmo que tentem impedir”, reforça.

Procurado, o delegado geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas, afirma que todas as ocorrências que chegam nas delegacias devem ser registradas e irá tomar providências, caso a vítima procure a diretoria ou a Corregedoria da Polícia Civil. “Se alguém procedeu desta forma e a vítima denuncie de fato, nós vamos apurar, vamos investigar”, diz.

A engenheira diz que ainda não decidiu se fará denúncia à polícia, pois já não acredita se iriam aceitar que erraram. "Eu estou desacreditada da polícia, porque eu vou lá e dizer que a culpa é dele e eu não sei se eles iriam aceitar isso bem. Na minha opinião, com todas as letras do mundo, isso que aconteceu com o menino Kauan foi culpa deles, porque eu tinha todas as provas do que o cara era, mas não fizeram nada, foram omissos", finaliza.

Essa não é a primeira informação que chega ao Campo Grande News sobre vítimas que reconheceram Deivid anos depois. Uma jovem de 26 anos contou à reportagem que foi abusada por ele há 12 anos. Sobre esse caso, a informação da Polícia Civil é que poderia ainda ser denunciando, uma vez que a Lei Joana Maranhão ampliou o prazo de prescrição desse tipo de crime. A prescrição, de 12 anos, só passa a contar a partir do momento em que a vítima faz 18 anos. O titular da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente), Paulo Sérgio Lauretto, recomendou às vítimas que reconheceram o suspeito que procurem a delegacia.

A investigação do caso - O delegado Lauretto confirmou na tarde desta sexta-feira (28), que subiu para nove o número de acusações de estupro de vulneráveis contra Deivid de Almeida Lopes, 38 anos, suspeito de estuprar e matar o menino Kauan, desaparecido há mais de um mês.

O delegado evitou responder perguntas da imprensa, não comentando detalhes sobre as investigações e se as buscas pelo corpo de Kauan serão retomadas.

Deivid chegou à Depca por volta das 15h48 de ontem acompanhado por investigadores e pela delegada Marília de Brito Martins. O suspeito ficou cerca de uma hora e deixou o local em uma viatura da Polícia Militar, para retornar ao Instituto Penal de Campo Grande, no Jardim Noroeste.

No início desta semana, Deivid foi indiciado por seis estupros e por possuir materiais pornográficos envolvendo crianças ou adolescentes. Na residência do suspeito, foram encontrados vários filmes pornográficos e dois filmes do próprio homem tendo relações sexuais.

O suspeito está preso desde o dia 22 de julho. (Foto: Adriano Fernandes)
O suspeito está preso desde o dia 22 de julho. (Foto: Adriano Fernandes)
Nos siga no Google Notícias