Em meio a desocupação, barracos sinalizam resistência em área invadida
Ao menos dez moradias em construção foram derrubadas na quarta-feira (18), durante inicio de desocupação de uma área pública invadida há quase seis meses no Jardim Montevideu, em Campo Grande. Para os que ainda estão no local, seja enquanto calculam os prejuízos diante do amontoado de tijolos ou os que moram em alguns dos barracos e casas ainda em pé, é unânime o desejo de resistir e, se necessário, recomeçar do zero.
“Ontem ele ficou chorando desesperado ao ver a patrola derrubando nossa casa. Foi ele quem me ajudou carregando tijolos, assentando a massa. Agora já não resta mais nada”, apontou para o filho de 3 anos Marcio Roberto, 42.
Nesta quinta-feira (19), ele estava no local tentando encontrar algo que pudesse ser reaproveitado em meio aos escombros. “Mas, só restou a areia”, comenta. Segundo ele, os tijolos que usou na obra, iniciada há dois meses, conseguiu de doações. Já a areia foi com a venda de CDs.
“Eu não tenho condições de comprar o material, mas não vou sair daqui. Nem que seja de papelão e madeira eu vou construir outro barraco, porque não tenho condições de pagar um aluguel”, se queixa.
Segundo outros moradores, as outras famílias que perderam o que tinham recém construído no local, estiveram por lá ontem a tarde. Ao se depararem com tudo o que foi destruído, alguns foram para casa de parentes ou amigos.
“Mais foi triste, muito triste. Ver gente que deu duro para conseguir esses materiais que deixou de comprar remédio, tirou da aposentadoria para tentar construir uma moradia, tentando catar os poucos tijolos que ainda dariam para ser aproveitados, depois que tudo estava no chão”, explica a desempregada Silviamara Oliveira Maciel de 27 anos.
Ela está grávida de cinco meses e mora em um barraco de um cômodo com o marido, João Pereira, de 35 anos, e os outros 3 filhos de 9, 7 e 4 anos. Por medo de serem expulsos, conta que ontem durante a visita dos fiscais da Semadur (Secretraria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) e Emha (Empresa Municipal de Habitação) preferiu não assinar o recebimento da notificação de despejo.
“Mas estamos preocupados porque não sabemos até quando vamos ser mantidos aqui. Hoje meu marido não foi nem atrás dos ´bicos' com medo de me deixar sozinha e tentarem fazer aqui o que fizeram na casa ao lado”, se queixa.
A casa que a desempregada menciona tinha cerca de cinco cômodos e também foi derrubada, na Rua Clark. A area invadida está localizada na Rua Ponônia, também entre as rua Manduba e Charim.
Apesar de toda a situação, o catador de recicláveis Moacir Gonçalves de 55 anos, ainda tem esperança de conseguir uma moradia digna. No terreno invadido pela rua Charim, estão cinco barracos.
Neles, todas as famílias receberam notificações para deixar o local em até cinco dias. “Mas nos disseram que a assistência social vai nos procurar para tentar resolver nossa situação e garantir ao menos uma inscrição de moradia”, comentou.
Antes dali, Moacir passou alguns dias no Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante) e por alguns meses morou debaixo de um viaduto, próximo do Montevidéu depois de perder emprego e toda a família no estado de São Paulo.
“Vai dar tudo certo. Estou pedindo a Deus para que eles deem uma solução para gente porque caso contrário, não sei mais o que vou fazer. Só sei que não quero voltar para debaixo do viaduto”, conclui.
Desocupação - A derrubada das casas da área invadida no Jardim Montevideu se estendeu por quase toda a tarde de ontem (18). O foco da desocupação eram os imóveis em que os moradores não estavam.
Os que estavam presentes receberiam notificação para desocupar em até cinco dias, mas a maioria não assinou a ordem de recebimento. A desocupação faz parte da força-tarefa da prefeitura do município em conter os processos de “favelização” em terrenos invadidos na Capítal.