Empresário dribla imprensa e à PF nega ter recebido propina da Odebrecht
Thiago Cance foi alvo de mandado de condução coercitiva expedido na segunda-feira, mas só prestou depoimento hoje
Tanto para chegar à sede da Polícia Federal quando para sair do local após prestar depoimento, Thiago Nunes Cance, conseguiu driblar a imprensa com a ajuda dos advogados. O empresário de Campo Grande citado na Operação Lava Jato usou entradas alternativas para não ser fotografado.
Ninguém conseguiu conversar com o dono da Move Club e da antiga Wood’s quando ele chegou ao local por volta de 13h30. Apenas o advogado dele, Augusto Arruda Botelho, entrou pela porta principal, a qual a imprensa tem acesso. Ele disse na ocasião que o cliente já estava prestando depoimento e que a defesa se manifestaria ao final da oitiva.
Já na saída por volta das 14h45, Botelho apareceu na entrada principal para fumar um cigarro e disse que o depoimento ainda não havia acabado. Minutos depois, funcionários da Polícia Federal disseram que Cance já havia deixado a superintendência.
A assessoria de imprensa da PF confirma a informação.
Lava Jato – Thiago Cance foi alvo de mandado de condução coercitiva expedido na segunda-feira (26) pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba (PR), a pedido do MPF (Ministério Público Federal) do Paraná. Mas, não estava na cidade e por isso, segundo os advogados dele, só pode comparecer para depor hoje (28).
Dados relativos a 2010 recuperados de um dos computadores da Odebrecht, empreiteira investigada na força-tarefa, trouxeram à tona suposto pagamento de propina ao empresário naquele ano.
O nome de Cance estava registrado em documentos recuperados do computador da “gerente de pagamento de propinas” da Odebrecht. São estas as informações que constam nos pedidos de expedição de mandados de busca e apreensão e condução coercitiva contra o empresário de Campo Grande, que foram feitos MPF (Ministério Público Federal) do Paraná.
Thiago é filho de Aurélio Cance Júnior, envolvido no esquema de corrupção da Sanasa, empresa de saneamento de Campinas (SP), ainda conforme o MPF. O escândalo também aconteceu em 2010.
Os procuradores da República dão a entender nos pedidos feitos ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que o dinheiro ilícito seria destinado ao pai de Thiago, uma vez que naquele ano a Sanasa havia contratado a Odebrecht para obras.
Além da condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a ir até a polícia para depor – o empresário foi alvo de mandado de busca e apreensão. O MPF pediu ainda a quebra do sigilo telemático – relativo a equipamentos para telecomunicações, ou seja, telefone, e-mail – de Thiago.
Defesa – Depois de deixou a sede da PF, Augusto Botelho deu a volta na quadra e voltou ao local para falar com a imprensa. Ele nega que o cliente tenha recebido propina e que usava as boates para lavar dinheiro ilegal. “Ele foi ouvido como testemunha, respondeu a todas as perguntas feitas pelo delegado e agora a investigação continua, mas não há qualquer acusação contra ele. Isso [lavagem de dinheiro] é uma mentira que vem sendo repetida”, garantiu.
Questionado sobre o porquê de o empresário ter sido alvo dos mandados, Botelho afirmou que o procedimento é de praxe. “Esse recurso vem sendo utilizado nesta investigação, é uma prática comum. Meu cliente não tem nenhuma ligação com a Oldebrecht”.
A viagem de Cance ao interior do Estado era para lazer, segundo o defensor.