Na corrida contra chuva, buraco “renasce” dois dias após ser fechado
Em ritmo de corrida contra a chuva, o serviço de tapa-buraco também desperdiça dinheiro público pelas ruas de Campo Grande. Na avenida Ministro João Arinos, saída para Três Lagoas, por exemplo, o remendo durou dois dias.
O serviço passou pela via na terça-feira (dia 12), mas o buraco já renasce nesta quinta-feira (dia 14). A situação em específico foi verificada pela reportagem próximo ao Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), no sentido Centro ao bairro.
Enquanto as águas de janeiro não dão trégua e os buracos se espalham, as equipes se lançam ao serviço a qualquer sinal de estiagem. E nem sempre há material para tanto buraco. A equipe que estava na Ministro João Arinos, por exemplo, tinha 6,4 toneladas de massa asfáltica para consertar também a Marquês de Pombal e a Marquês de Lavradio.
O obstáculo do tempo chuvoso é reconhecido pelo titular da Seintrha (Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Habitação), Amilton Cândido. Em entrevista ao programa Tribuna Livre, na Rádio Capital, nesta sexta, ele disse que na primeira semana de janeiro foram tapados apenas 2.600 buracos, com utilização de 300 toneladas de massa asfáltica. Segundo Amilton, a situação das vias da cidade só deve se resolver a partir de março.
Ainda de acordo com ele, em novembro foram fechados 11.923 buracos, com utilização de 900 toneladas de CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente) em 7.400 metros quadrados. Em dezembro, foram 21.700 buracos tapados.
Lançada em 11 de novembro e com validade de 90 dias, a “Operação Chega de Buracos e Lama” tinha previsão de custo de R$ 2 milhões por mês.
Chover no molhado - Tapar buraco em plena temporada de altos índices pluviométricos é como “enxugar gelo”. De acordo com o engenheiro civil e professor do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), Marcus Menezes Silveira, o tempo propício é entre março e outubro. “A chuva não tem dado trégua. Lógico que a população reclama, mas não é o momento propício”, afirma.
Ele explica que quando o serviço é feito nessas condições climáticas, é necessário trocar a base úmida por material seco. “Se não tiver verificado o estado da base, deteriora rapidamente”, diz sobre o que pode motivar a curta vida do serviço de tapa-buraco. Em geral, a base é feita de brita ou solo com cascalho.
Contudo, o especialista alerta que os buracos que cruzam o caminho dos campo-grandenses todos os dias são resultados de longos anos de uma política pública municipal que desprezou a recuperação do pavimento.
“Você vê buraco na Afonso Pena? Ela foi recapeada há alguns anos. Mas a maior parte do asfalto de Campo Grande tem 20, 25 anos”, afirma. O serviço na avenida foi obra do governo do Estado. Em média, o asfalto novo dura até 15 anos, depois envelhece e começa a apresentar os sinais da idade. Numa explicação sucinta, o asfalto, material orgânico, proveniente do petróleo, endurece com a ação dos raios solares. O material começa a rachar e a água infiltra, desgastando a base.
“Nessa época de chuva, toda água superficial aumenta e começa a pipocar buraco em efeito de progressão geométrica”, salienta o engenheiro.
Histórico - A suspensão do serviço de tapa-buraco foi divulgada em 10 de setembro como medida para amenizar déficit de R$ 30 milhões pelo prefeito Alcides Bernal (PP), que reassumiu em 25 de agosto.
Contudo, a medida convergiu com o fim da estiagem e a chuva foi recorde em setembro. De forma paliativa, no dia 16 de setembro, uma única equipe foi colocada pela Seintrha para atender toda a cidade. A estratégia não deu certos e a “buraqueira” tomou conta das vias urbanas.