Onde tráfico impõe “lei do silêncio”, Pedrinho sobreviveu a “justiceiro”
Pedro José de Arruda Pinto, de 16 anos, tinha o perfil que "Nando", o serial killer que a Capital conheceu em 2016, "caçava"
Pedro José de Arruda Pinto, conhecido no Danúbio Azul como Pedrinho, sobreviveu até os 16 anos. Entre idas e vindas de Uneis (Unidades Educacionais de Internação), ele escapou do “justiceiro” do bairro, Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, que em 2016 confessou 16 assassinatos de moradores da região, segundo ele envolvidos com o tráfico e outros pequenos crimes relacionados ao consumo de drogas.
Pedrinho, que já havia cometido infrações como violência doméstica, receptação e comércio de entorpecentes, tinha o perfil que Nando “caçava”. Ele não foi alvo do serial killer, mas não teve a mesma sorte nessa quinta-feira (1º), quando acabou morto depois de passar por sessão de tortura.
Testemunha revelou à polícia viu dois rapazes conhecidos como “Bugue” e “Rato” levando o adolescente para a mata onde o corpo foi encontrado horas depois. Para a investigação, uma execução ligada ao tráfico.
Aliás, o domínio de traficantes no Danúbio Azul também impõe aos moradores “lei do silêncio”. No bairro já marcado pelo trauma de ter sido morada de um serial killer que manteve por anos um cemitério particular, quase ninguém quer falar sobre os crimes e muita gente ao ver o carro da reportagem, foge.
Um vendedor de 41 anos, que falou com a condição de ter o nome preservado, afirma que há muitas bocas de fumo na região. “O tráfico de drogas é uma realidade, a gente tem de se acostumar”.
Ele mora no Danúbio Azul desde 2014 e disse nunca ter tido a casa invadida por exemplo, mas conta que vizinhos já foram vítimas de ladrões por várias vezes.
“Quase não saio de casa”, afirma outra moradora, uma dona de casa de 51 anos. O Campo Grande News a abordou quando conversava com uma amiga no portão. “A gente tem de ter cuidado. Não sei de nada, não vi nada”, foi o máximo que ela disse sobre o último assassinato no bairro, que vitimou Pedrinho.
A amiga, de 58 anos, emendou: “tem que falar que não sabe de nada né?”. Para os moradores, falta policiamento na região.
O crime - Segundo apurou o delegado José Roberto de Oliveira Júnior, plantonista da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro, o adolescente foi sequestrado pelos dois suspeitos por volta das 6h de ontem, enquanto andava pelas ruas do bairro.
A dupla levou Pedro para uma área de mata próximo ao cruzamento das ruas Getulina com Wagner Jorge Borttoto Garcia. No local, o adolescente teve os braços amarrados para trás com a própria camiseta, foi torturado e estrangulado. O menino teve uma das mãos e pé quebrados e, nas costas, também havia marca de queimadura.
Ontem, depois de receber a informação de que Pedrinho havia sido sequestrado, a mãe do adolescente procurou a Depca (Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente) e registrou o desaparecimento.
A polícia fez buscas pelo bairro e encontrou o corpo da vítima por volta das 19h de ontem, na mata para onde testemunha viu o adolescente ser levado.
Um dos suspeitos foi identificado pela polícia e também passagem por tráfico de drogas. Por isso, segundo o delegado, “a linha de investigação é que [o assassinato] esteja relacionado com o tráfico”. “Pode ser por dívida de drogas”, completou.
Ninguém foi localizado e preso até agora.