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Capital

Para testemunhas da morte de empresário, ‘Coreia’ não era policial

Mulher disse que PRF vestia roupas normais e motorista que passava pelo local da confusão chegou a pensar que seria assaltado; testemunhas escolhidas pela acusação foram ouvidas em juízo

Anahi Zurutuza e Luana Rodrigues | 05/04/2017 16:52
Ricardo Moon ao deixar sala de audiências (Foto: André Bittar)
Ricardo Moon ao deixar sala de audiências (Foto: André Bittar)

Testemunhas arroladas pela acusação contra Ricardo Hyun Su Moon, o “Coreia”, concordam em um ponto: o homem armado que abordou a caminhonete Toyota Hilux conduzida por Adriano Correia do Nascimento, 33, não aparentava ser um policial rodoviário federal.

Na tarde desta quarta-feira (5), a testemunha-chave do caso, Agnaldo Espinosa da Silva, de 48 anos, e outras seis pessoas responderam perguntas da acusação e defesa do PRF na frente do juiz Carlos Alberto Garcete, 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande.

A auxiliar-administrativa Jade Cristiane foi a segunda pessoa a ser ouvida, depois de Agnaldo. Ela conta que chegou à cena do crime segundos depois de ouvir tiros e o barulho da batida da Toyota Hilux, e foi enfática ao relatar que “Coreia” não estava uniformizado. “Vi um homem no chão e outro com arma na mão apontando para ele. Não sabia que era policial, ele estava com roupas normais”, disse em juízo.

O construtor Ermes Ferreira de Almeida relatou que estava em um velório que acontecia numa funerária da avenida Ernesto Geisel, quase em frente ao local do crime. Ele também não identificou “Coreia” como policial. “Ouvi disparos, corri para ver o que era e vi o acidente. Ele [o PRF] estava com a arma em punho, transtornado, nervoso. Gritei com ele, pedi para ele guardar a arma e chamei reforço imediatamente”, completou.

Marcos Roberto Gonçalves passou de carro pelo local no momento da confusão. Ele conta que foi avisado pelo atendente da central de emergência da PM (Polícia Militar) - 190 - que o homem armado era um policial. “Estava saindo pra viagem, de carro, tive que parar e vi um que o homem estava fora do carro com uma arma na cintura, com a mão na cintura. Gesticulava em direção ao outro carro. Liguei para o 190 e disseram para eu ficar tranquilo”.

Uma quarta testemunha relata que chegou a pensar que seria assaltada quando passou pelo local do crime. “O homem [o PRF] estava vindo em direção ao meu lado com uma arma. O sinal estava aberto. No momento eu pensei que era um bandido que queria me assaltar. Depois vi o clarão [caminhonete batendo]”, contou o auxiliar de serviços gerais, Dijailton Daniel dos Santos.

Ele lembra que esperou a chegada da polícia a certa distância. “Ele [Coreia] estava conversando com o rapaz caído no chão, pedindo calma e a pessoa falava que era assassino”.

Sala onde testemunhas responderam a perguntas da defesa e da acusação (Foto: André Bittar)
Sala onde testemunhas responderam a perguntas da defesa e da acusação (Foto: André Bittar)

Antes dos tiros – A cabeleireira Leodeia da Costa Menezes mora na avenida Ernesto Geisel e testemunhou a primeira discussão entre o policial rodoviário e os ocupantes da caminhonete. Ela conta que Moon se identificou como policial, embora não estivesse fardado.

“Os dois carros estavam parados e havia um senhor na porta da Hilux. A única coisa que ouvi foi ele se identificando, dizendo que era policial e estava armado. A outra pessoa disse: mostra a arma. Em seguida duas pessoas que estavam dentro da camionete desceram foram até ele é voltaram. Foi muito rápido”.

A mulher contou ainda que os carros aceleraram e depois de ouvir o barulho de pneus “cantando”, ela escutou os disparos.

Testemunha-chave – Durante a audiência, Agnaldo Espinosa falou sobre a noite na companhia do enteado, de 17 anos, e Adriano. Ele admitiu que os três ingeriram álcool, mas negou ter visto o amigo empresário usar drogas.

O laudo necroscópico assinado pela médica legista Vania Esteves Silva apontou que Adriano tinha feito uso de entorpecente (ecstasy), um remédio para ansiedade (Setralina), além de estar com “elevados níveis de álcool no sangue”.

Agnaldo também foi questionado sobre quais objetos estavam no interior do veículo do amigo. Renê Siufi, que defende o PRF, perguntou sobre os maçaricos – objetos semelhantes a um revólver e que é usado na confecção de pratos em restaurantes –, que foram encontrados na caminhonete do empresário depois que o veículo havia passado por perícia.

Agnaldo disse não ter visto nada e depois, à imprensa, que era dever da polícia investigar o “aparecimento” dos objetos. Veja a entrevista:

Blindado – Moon ouviu a todos os depoimentos, mas passou as audiências em silêncio, com um boné nas mãos.

“Coreia” deixou a audiência sob escolta, que dificultou inclusive que ele fosse fotografado. Não foi permitido à imprensa entrevistas, nem aproximação ao acusado.

Renê Siufi disse aos repórteres que está satisfeito com o resultado das oitiivas. “A verdade está começando a aparecer”. 

Audiências – Para a próxima semana, no dias 11 e 12, foram marcadas mais duas audiências. No dia 11, o juiz Carlos Alberto Garcete quer ouvir peritos e delegados.

No dia seguinte, será a vez das testemunhas arroladas pela defesa e também do adolescente, de 17 anos, que estava com o empresário no dia do crime.

Crime - O comerciante, que conduzia uma caminhonete Toyota Hilux, foi morto na madrugada de 31 de dezembro de 2016, um sábado, na avenida Ernesto Geisel, em Campo Grande. Atingido por tiros, ele perdeu o controle do veículo e a caminhonete bateu em um poste.

Ricardo Moon foi denunciado por homicídio doloso contra Adriano e tentativa de homicídio contra Agnaldo e o enteado. Ele foi preso por duas vezes, mas está em liberdade.

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