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Capital

Quando bebê corre risco de morte, também se escancaram as dores das "mães solo"

Conforme levantamento, elas chefiam 13,7% dos lares em Mato Grosso do Sul

Por Aline dos Santos e Idaicy Solano | 14/12/2023 12:23
Maguilene, com o filho recém-nascido nos braços, não consegue estudar e nem trabalhar. (Foto: Idaicy Solano)
Maguilene, com o filho recém-nascido nos braços, não consegue estudar e nem trabalhar. (Foto: Idaicy Solano)

Quando um bebê de quatro meses cai do terceiro andar de um prédio, após se desprender acidentalmente das mãos de uma criança de 7 anos, retirada da escola para ser “babá” de dois irmãos, se move uma engrenagem conhecida: leis, prisão da mãe, indignação e muito julgamento.

Mas também há um pano de fundo “invisível”: o drama das mães solo, mulheres que sozinhas chefiam o lar e têm sobre os seus ombros toda a responsabilidade, seja financeira ou afetiva, pelos filhos.

No caso da queda acidental, a mulher cuidava sozinha de três crianças e com salário de R$ 1.300. E esse duro retrato não fica restrito ao apartamento de 39,92 metros quadrados, no Aero Rancho CH8, condomínio de 14 blocos no bairro de mesmo nome, o mais populoso de Campo Grande.

De acordo com levantamento divulgado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), a mãe solo é a referência em 13,7% dos lares em Mato Grosso do Sul.

No Jardim Noroeste, Victória Heloiza de Souza Lima, 22 anos, conta que teve que parar os estudos para cuidar das filhas. A mais velha, de cinco anos, está na escola, mas ela ainda busca vaga na educação infantil para a menina de um ano e dez meses.

“Não tenho com quem deixar as crianças e babá é muito caro. O pai da mais velha só fica com ela duas vezes por mês, no fim de semana. A bebê fica comigo 24 horas por dia. Quando estava trabalhando, pagava R$ 600 para cuidar das duas, mas não compensa muito”, diz a mãe.

Mãe solo, Victória sonha em voltar a estudar e cursar Gastronomia. (Foto: Marcos Maluf)
Mãe solo, Victória sonha em voltar a estudar e cursar Gastronomia. (Foto: Marcos Maluf)

O apoio mais efetivo que recebe é da bisavó da filha mais velha. “Ela mora aqui perto e me ajuda bastante. Estou esperando conseguir vaga para a mais nova para que eu possa terminar os estudos. Meu sonho é cursar gastronomia”, diz Victória, que parou de estudar no segundo ano do Ensino Médio.

Maguilene Silva Barbosa, 30 anos, conta que não pode trabalhar, pois precisa cuidar sozinha dos filhos de 9 anos, 3 anos e um recém-nascido. “Casei com 18 anos e tive o primeiro com 21 anos. Não tenho condições de pagar alguém para cuidar porque já ganho pouco. Pretendo um dia terminar os estudos”, diz a mãe.

Ela conta que também tem receio de deixá-los sob cuidado de terceiros e ficou extremante apreensiva no parto, há um mês, quando precisou se afastar das crianças. “Fiquei doida para vir embora logo. Quando cheguei aqui e vi todo mundo bem, fiquei mais tranquila”, rememora. O menino mais velho estuda, mas a menina de 3 anos ainda não conseguiu vaga na creche.

Divulgada em 8 de março deste ano, lista da Semed (Secretaria Municipal de Educação) mostra que são 8.736 crianças à espera de vaga em Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) na Capital.

Criança teve queda acidental do terceiro andar de prédio no Aero Rancho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Criança teve queda acidental do terceiro andar de prédio no Aero Rancho. (Foto: Henrique Kawaminami)

Solidariedade na dor - No condomínio onde a criança caiu,  surgiu uma mão estendida para auxiliar a mãe. Vizinhos organizaram vaquinha para pagar advogado e custear a instalação de rede de proteção na janela.

Por lá, infelizmente, eles já testemunharam outro acidente trágico com criança. No ano passado, menino de três anos morreu afogado quando a mãe, que monitorava pela janela, precisou dar banho no outro filho, que tem microcefalia.

A mãe da menina que caiu do terceiro andar acabou presa por abandono de incapaz, qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave. Mas foi liberada nesta quinta-feira, na audiência de custódia.

O acidente aconteceu na noite de terça-feira (dia 12). A criança foi socorrida em estado grave e levada para o Hospital Regional Rosa Pedrossian. Na sequência, a menina foi transferida para a Santa Casa.

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