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Capital

“Randandandan” foi válvula de escape, mas atormentou e acabou em morte

Manobras com motos viraram "rolezinho" mais popular com proibição das baladas, mas deram muita dor de cabeça

Anahi Zurutuza | 02/01/2022 13:21
Em março, cerca de 20 motociclista se reuniram para manobras na região da cachoeira do Ceuzinho, em Campo Grande (Foto: Direto das Ruas)
Em março, cerca de 20 motociclista se reuniram para manobras na região da cachoeira do Ceuzinho, em Campo Grande (Foto: Direto das Ruas)

Novo normal? As restrições de circulação e o fim da balada por conta da pandemia, revelaram uma prática perigosa, mas que já era comum, na periferia e lugares mais afastados. As aglomerações em alguns bairros de Campo Grande e nos altos da Avenida Afonso Pena para a prática de manobras com motocicletas, o chamado “randandandan”, foram válvula de escape para muita gente que não aguentava mais a máscara no rosto e assumiu o risco de se contaminar com a covid-19 para curtir o calor humano e dos motores.

Mas sob a cortina de fumaça, teve até morte. Estudante de Enfermagem, Rhennan Matheus Oliveira Tosi, de 19 anos, foi assassinado na noite do dia 31 de outubro, na Santa Casa de Campo Grande, cerca de uma hora depois de levar um tiro no abdômen durante “randandandan” na Afonso Pena.

Rhennan Matheus, de 19 anos, posa para foto em moto (Foto: Reprodução das redes sociais)
Rhennan Matheus, de 19 anos, posa para foto em moto (Foto: Reprodução das redes sociais)

De acordo com o boletim de ocorrência registrado naquele domingo, a morte de Rhennan aconteceu por causa de um desentendimento. Segundo as testemunhas, por volta das 22h, Jhonny Souza, o “Pulapão”, de 23 anos, estava em uma Volkswagen Saveiro junto com outras pessoas, no estacionamento das obras do Aquário do Pantanal, quando Rhennan, que estava fazendo “zerinho” no mesmo local, se aproximou e reclamou de alguma coisa.

Conforme o relato de quem presenciou o crime, no mesmo momento o motorista da Saveiro entrou no carro, pegou um revólver e disparou contra Rhennan, que foi atingido do lado esquerdo do abdômen. Depois do tiro, “Pulapão” entregou a arma para um amigo que estava de moto, também executando manobras, e fugiu do local. Jhonny foi preso no dia seguinte e confessou o crime.

Vanessa, mãe de Rhennan, precisou ser amparada durante velório (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Vanessa, mãe de Rhennan, precisou ser amparada durante velório (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Emoção e barulho - A despedida de Rhennan foi emocionante e reuniu muita gente. Inconformada, a mãe precisou ser amparada várias vezes. O jovem foi homenageado pelos amigos com muito barulho de moto acelerando e cartaz que dizia: “Cria não morre, vira lenda”.

Quem também recebeu homenagem ruidosa foi Juliana dos Santos Machado Ferreira, de 38 anos, digital influencer conhecida como Ju Petronas. O adeus, no dia 22 de agosto, foi com muitas manobras de motocicletas realizadas pelos amigos e seguidores dela, desde a saída da capela da Pax Mundial, na Avenida Ernesto Geisel, onde foi o velório, até o Cemitério Santo Amaro.

"Randandandan" para homenagear Ju Petronas (Foto: Kísie Ainoã)
"Randandandan" para homenagear Ju Petronas (Foto: Kísie Ainoã)

Ju Petronas era famosa em vários estados por participar de corridas com motos de alta cilindrada, produzindo conteúdo para as redes sociais.

Ela morreu no dia 20 de agosto, após ficar quase uma semana internada e passar por cirurgias na Santa Casa. Juliana caiu de um carro em movimento dirigido pelo namorado, de 32 anos, na noite do dia 14, na Avenida Nelly Martins, a Via Parque, em Campo Grande.

Ele contou à polícia que houve uma discussão por ciúmes. Na sequência, a mulher abriu a porta e saiu do veículo. Ele acionou o socorro e compareceu de forma espontânea à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para prestar esclarecimentos. O caso ainda é investigado.

"Rolezinho" no Autódromo Internacional de Campo Grande reuniu multidão em janeiro, quando a pandemia ainda estava no auge (Foto: Direto das Ruas)
"Rolezinho" no Autódromo Internacional de Campo Grande reuniu multidão em janeiro, quando a pandemia ainda estava no auge (Foto: Direto das Ruas)

Incômodo – O Campo Grande News perdeu as contas de quantas reclamações recebeu, por meio do canal Direto das Ruas, das aglomerações e barulheiras nos “randandandans”.

Além do estacionamento do Aquário do Pantanal ter virado ponto de encontro para os motociclistas, bairros da periferia também estão entre os escolhidos para as manobras. Em junho, moradores da Rua Adelaide Maia Figueiredo, no Dom Antônio Barbosa, denunciaram à reportagem que há seis meses não conseguiam dormir nos fins de semana, já que casa com piscina, alugada para eventos, se tornou a dor de cabeça, com festas lotadas e “randandandan” madrugada adentro. “É desesperador”, descreveu um dos entrevistados.

Aglomeração, som alto e manobras com carros e motos também foram rotina para moradores do Bairro Serra Azul. A Guarda Civil Metropolitana tentou impedir a bagunça, mas mesmo após as “batidas”, apreensões de veículos e notificação de cidadãos, muita gente voltava a se reunir para “fazer fumaça” depois que a poeira baixava.

O Autódromo Internacional de Campo Grande também foi ponto de aglomerações.

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