Reordenar vias, criar ciclovias, proteger pedestres: os desafios da Prefeitura
Sancionada, lei sobre política de mobilidade da Capital traz sugestões com estudo feito em 2021
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Uma cidade viva deve ser inclusiva, permitindo condições de trânsito seguro para veículos, pedestres, ciclistas, cargas com produtos e alimentos, favorecendo o transporte coletivo e não motorizado para reduzir a quantidade de carros. Os desafios são os mesmos, variando conforme o tamanho da cidade.
Campo Grande tem diagnóstico feito com base em levantamentos de 2021 que embasam a Política Municipal de Mobilidade e Acessibilidade Urbana e revisam o Plano Diretor de Transporte e Mobilidade Urbana, textos aprovados pelos vereadores e publicados hoje no Diário Oficial.
Ter controle em tempo real da qualidade do transporte coletivo, para perceber demandas e aplicar mudanças, como redefinição e criação de rotas, destinação de vias exclusivas para os ônibus, como na Júlio de Castilho e entre os terminais Hércules Maymone e General Ozório.
Em centenas de páginas, a empresa contratada pela Prefeitura, Logit Engenharia Consultiva, condensou o que constatou em levantamentos feitos nas ruas da cidade nos últimos meses de 2021, uma época em que havia limitação da mobilidade em decorrência da pandemia. O tempo era outro, mas os problemas não se distanciaram muito.
O estudo, que somente neste ano foi à Câmara, acompanhando o projeto de lei, revela o que muitos veem e vivenciam no dia a dia. Faltam boas calçadas para o pedestre transitar fora do centro, falta padronização, cobertura e informação de linhas e horários dos coletivos (somente os mais centrais tem melhor estrutura).
O desafio é a Prefeitura cuidar de calçadas sob sua responsabilidade e incentivar proprietários de imóveis a fazer o mesmo, usar vias fora do centro para projetos piloto do chamado “trânsito calmo”, com semáforos e limitação de velocidade para o pedestre se sentir seguro e circular mais. A falta de calçadas e segurança à passagem foram pontos reprovados por moradores de bairros ouvidos para o estudo.
Ciclovias - O mesmo se repete com as ciclovias. A que corre leste oeste pela cidade, da Afonso Pena à Duque de Caxias, central, tem melhor iluminação, há trechos mais arborizados. A que segue no lado norte da cidade não é interligada.
O estudo para a efetivação da mobilidade, como prevê a lei aprovada e sancionada, chega a falar em investimento anual necessário para esse setor, com R$ 6,4 milhões por ano entre 2023 e 2026, período que inicialmente seria abrangido pelo material elaborado.
À época do estudo, a cidade tinha 93,5 km de ciclovias, malha considerada desconexa e fragmentada, com plano para chegar a 358,5 km. Entre os trechos mais movimentados constaram a Duque de Caxias, Fábio Zahran, Lúdio Martins Coelho e Afonso Pena.
Os pesquisadores ouviram dos ciclistas que “5% responderam que pedalariam caso se sentisse mais seguros em termos de segurança pública, 14% que pedalariam “se tivesse bicicletário e estacionamento adequado” e 12% indicam que o motivador seria uma “melhor iluminação”.
A lei sancionada fala em assegurar acesso a todos com segurança na mobilidade. Para tanto, a comunidade deverá ser ouvida e a Planurb e Agetran serão os órgãos centrais para concretizar as demandas.
Transporte coletivo – Essa modalidade de transporte foi destacada pelo estudo, por dar maior mobilidade a mais pessoas, gerando inclusão. Os pesquisadores chegaram a mencionar a possibilidade de gratuidade plena, como já se chegou a debater na Câmara, com custeio pelo poder público.
Os usuários foram ouvidos nos 9 terminais, em área que contemplava 128 linhas. Os pesquisadores identificaram que 75% estavam utilizando o ônibus para ir ao trabalho, seguido de 11% de estudantes. Aos finais de semana foi possível perceber redução de quase metade no número de passageiros. E nos horários de pico, o número de pessoas chegava a quintuplicar nos ônibus.
Os pontos de insatisfação revelados foram com o valor da passagem, disponibilidade de veículos e conservação.
Para permitir maior eficiência a essa modalidade de transporte, permitindo maior mobilidade, o estudo fala dos projetos de corredores de ônibus, citando o cenário que se apresentava em 2022.
Menciona que em 2011, a Prefeitura de Campo Grande conseguiu R$ 180 milhões junto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade Urbana, assegurados R$ 20 milhões para construir cinco terminais, R$ 110 milhões para construção dos corredores de transporte coletivo, R$ 4,5 milhões para modernização do sistema de controle eletrônico, R$ 40,3 milhões para intervenções viárias e R$ 6 milhões para estações de pré-embarque, conforme informações da AGETRAN.
A prefeitura também conta com recursos de empréstimo de R$ 120 milhões firmado com a Caixa Econômica Federal (CEF) em 2012.
Muito do mencionado não se concretizou, mas a cidade ganhou algumas vias rápidas para ônibus, como na Rui Barbosa e Rua Brilhante e uma faixa exclusiva na Avenida Mato Grosso.
Ordenar vias- O estudo para o plano de mobilidade também trouxe sugestões que já foram adotadas, como o reordenamento na Três Barras e a atenção à expansão da cidade rumo ao lado lestes, para além do anel viário, com a autorização de três viadutos e pontos de trevos com vistas a atender condomínios e empresas.
Outros projetos para facilitar o transporte ainda não se concretizaram como um novo acesso às Moreninhas a partir da Avenida Guaicurus, obra que dependia de desapropriações já na fase final, ou mesmo um corredor da avenida que chegasse até à Marechal Deodoro, na saída para Sidrolândia.
O plano inclui dar maior fluidez a vias com a extinção de faixa para estacionamento, como na Euler de Azevedo e Ernesto Geisel e aperfeiçoar o tráfego na Filinto Muller e Rua da Divisão. Dar segurança às vias faz sentido em uma cidade com tantos veículos e congestionamentos. O estudo menciona que nos cinco anos anteriores à elaboração do documento, de 2016 a 2021, houve aumento de 15% na frota.
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Mais veículos nas vias, mais mortes – Os dados incluídos nos anexos do plano de mobilidade apontam que entre 2011 e 2021 Campo Grande sentiu queda nas mortes no trânsito, de 57,3%, com maior queda em 2017 e estabilidade nos três anos seguintes. Com a pandemia houve aumento significativo dos serviços delivery e acidentes e mortes envolvendo motociclistas. Já naquela época, eles eram as maiores vítimas, com destaque para a faixa etária dos 18 aos 27 anos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) elegeu 2021 a 2023 como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito e o desafio posto foi reduzir à metade o número de mortes.
Como somente investir em estrutura e reformulações não basta para o trânsito se tornar mais seguro e humano, outro desafio posto à Prefeitura é apostar em educação. O estudo da Logit menciona a necessidade de atuar em diferentes frentes: nas escolas, em campanhas para a comunidade, busca de parceria com entidades e qualificação de pessoal.
Uma mudança que também deverá envolver as pessoas. Pelo texto da lei sancionada, a Prefeitura deverá manter um canal para receber sugestões da comunidade, que também poderá participar dos debates sobre a mobilidade urbana através dos Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano.