Santa Casa diz que aguarda entrega de materiais para operar "indiozinho"
A cirurgia cardíaca do “indiozinho” Edemar Gonçalves da Silva, 4 anos, ainda não foi realizada pela Santa Casa, mesmo após a compra dos materiais para o procedimento – que custam R$ 20,7 mil. O procedimento foi autorizado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) na quinta-feira (28), e o hospital afirma ter adquirido os itens no dia seguinte. Porém, até agora não existe previsão para realizar a preparação cirúrgica do garoto, ao contrário da informação divulgada na semana passada pela SES – quando a cirurgia deveria acontecer até sexta-feira (29).
A Santa Casa, onde o menino está internado, afirmou que aguarda a chegada dos materiais que serão usados no procedimento pré-operatório – que deve acontecer no setor de hemodinâmica do hospital. O local só pode agendar o atendimento após a chegada dos materiais, previstos para estar disponíveis até o fim de desta semana. Mas mesmo assim o procedimento ainda deverá ser agendado, e por isso não existe previsão para acontecer. A Santa Casa não informou em qual estado os materiais foram adquiridos, e afirmou apenas monitorar o envio dos mesmos.
Nem mesmo o presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), que administra o hospital, Esacheu Nascimento, conhecia o real motivo do procedimento ainda não ter sido realizado. “Conversei com a médica dele na quinta-feira (28) a tarde e fui informado que a situação é de altíssimo risco. Se foi autorizado e não saiu deve ser por conta da elaboração de um planejamento dada a fragilidade e o alto risco da cirurgia”, afirmou.
Enquanto o procedimento é adiado a espera de Edemar, pela cirurgia que pode salvar sua vida, já dura um ano. Desde a divulgação da reportagem sobre o caso do “indiozinho” pelo Campo Grande News, no dia 21 de janeiro, a SES estabeleceu prazo de uma semana para realizar o procedimento, que venceu na quarta-feira (27).
Edemar espera desde dezembro de 2014 pelo procedimento e desde então já passou por dois hospitais. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros da Capital, ele ficou internado por mais de 10 meses. E atualmente aguarda na Santa Casa de Campo Grande, para onde foi transferido em outubro de 2015.
Edemar nasceu no dia 23 de dezembro de 2011, no Hospital Regional de Amambai. Entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2012 ficou internado no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Depois disso, só existe um registro de alta da Santa Casa de Campo Grande, do dia 7 de janeiro de 2013.
Somente no dia 4 de dezembro de 2014 o garotinho retornou para o HU de Dourados, levado pela irmã Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha (a mãe teria sido assassinada pelo pai de Edemar). O hospital informou que o menino foi internado com pneumonia. Na Santa Casa de Campo Grande ele só deu entrada dez meses depois, de acordo com a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias, por conta do quadro de saúde delicado.
Doença – Edemar tem um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação.
O problema no coração não impede que a criança viva fora do hospital, ele poderia aguardar a cirurgia em casa. Porém, a “internação social” na Santa Casa é o único meio encontrado para garantir que ele receba o tratamento necessário.
Ele recebeu o diagnóstico da doença também na Santa Casa de Campo Grande. Na época os pais foram informados sobre a gravidade do caso, mas não permitiram que o filho fosse submetido aos procedimentos.
O pai de Edemar, Roberto Gomes da Silva, registrou em uma carta – provavelmente escrita em 2013 – o desejo de que o menino não fosse submetido à cirurgia cardíaca. O documento está guardado junto com outras documentações do garoto, na Casai (Casa de Apoio àSaúde do Índio), na Capital.