Sem lombada, motoristas transformam Parque dos Poderes em pista de corrida
Animais atropelados são rotina, o que freava os motoristas eram radares desativados há dois anos
De caminhonete a motocicleta, caminhão e carro de passeio, a alta velocidade é unânime entre os motoristas que cruzam o Parque dos Poderes. Na manhã de hoje, o Campo Grande News flagrou a cena acima na Avenida do Poeta, em frente à Governadoria. São 15 segundos que dão uma amostra do que é visto em especial nos horários de pico.
Há dois anos sem lombadas eletrônicas, até atropelamento de animais se tornou "comum". Nessa quarta-feira (26) um macaco bugio foi resgatado depois de ser atingido por um veículo no parque. Encontrado pela PMA (Polícia Militar Ambiental), o condutor sequer prestou socorro ao bichinho que foi levado para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres).
Funcionária no Parque dos Poderes há quase 30 anos, a advogada Rovena Coccen começou a trabalhar ali aos 18. Hoje no Tribunal de Contas, Rovena se indigna em ver como os motoristas abusam da velocidade.
"Eu fiquei muito preocupada e triste também, vejo que os motoristas trafegam aqui e todo mundo que mora em Campo Grande sabe que temos animais, pedestres e ciclistas aqui, os carros não deveriam correr tanto", acredita.
O expediente começa logo cedo, às 7h da manhã, justamente horário em que ela relata ver condutores entrando no Parque a toda velocidade vindos da Avenida Mato Grosso. "Quando eu entro já diminuo a velocidade automaticamente, porque morro de medo de que os quatis, os animais em geral, passem na frente e eu não consiga parar", explica.
Além da história do macaco de ontem, Rovena tem outros acidentes na memória que poderiam ter sido evitados se os motoristas não excedessem a velocidade. "Eu fico impressionada, porque atropelam e nem para ligar no Cras, nem para a Prefeitura do Parque ou a Polícia Ambiental. Há quantos anos parque existe e as pessoas circulam por aqui?" questiona.
As lombadas, quando estavam em funcionamento, era a única forma de frear os condutores. "Agora tem mais de ano que tiraram e não colocaram de volta. Então, os motoristas estão simplesmente à vontade para abusar da velocidade", diz.
A advogada chegou a pedir na ouvidoria do Governo e até no Detran o retorno das lombadas, mas não obteve resposta. "É o único momento em que vi as pessoas tomarem cuidado, mas só para não serem multadas".
Durante o tempo em que a equipe esteve no local, não viu nenhuma fiscalização nem agentes de trânsito que pudessem orientar e inibir o comportamento dos motoristas. Policial, Lucas Souza, de 28 anos, sai três vezes por semana do Bairro Pioneiros, onde mora, para correr no parque.
"Nos horários de fluxo aumenta muito a velocidade dos carros. Já vi quatis atropelados, se as lombadas voltassem, evitaria esse tipo de situação", afirma.
Aposentado, Arisvaldo Barreto de Queiroz, de 64 anos, não chegou a testemunhar acidentes, mas diz que sente falta das lombadas. "Aqui passa muitos animais", justifica.
Empresária de 39 anos, que pediu para não ter o nome divulgado por questões de segurança, fala que há menos de um mês viu um carro bater em uma capivara que foi deixada a própria sorte. "Ela ficou agonizando, um pedestre que a tirou da via e chamaram a polícia, mas o motorista fugiu".
Para ela, a questão do retorno das lombadas é essencial. "Tem muitas famílias caminhando por aqui, pessoas que correm. Teve aquele acidente em março da ciclista (Emanuelle Gorski)", relembra.
Resposta - Sobre a volta das lombadas no Parque dos Poderes, o Detran (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) informou que está em "processo para licitação do estudo e levantamento técnico". Sem prazo para concluir essa fase, o Detran diz que encerra esta fase no "decorrer do ano", para então partir para a licitação que vai contratar os serviços de instalação.
A mesma licitação vai atender as 24 faixas no Parque dos Poderes, além de outros municípios com 58 lombadas e 270 radares, totalizando 328 equipamentos.