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Capital

Só laudos periciais vão responder o que matou Gabrielly, diz delegada

A menina morreu há seis dias, na Santa Casa de Campo Grande, uma semana depois de briga com colegas perto da escola Lino Villachá, no Nova Lima

Marta Ferreira | 12/12/2018 12:42
A menina Gabrielly morreu há seis dias, na Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal
A menina Gabrielly morreu há seis dias, na Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal

Há seis dias, a família de Gabrielly Ximenes Souza vive uma tristeza em dobro. Chora a perda da garota, morta aos 10 anos, e vive a angústia de tentar entender o que de fato aconteceu. A menina fazia o 4º ano do ensino fundamental na escola Lino Villachá, no Bairro Nova Lima, faleceu na Santa Casa de Campo Grande, uma semana depois de briga envolvendo colegas, a cem metros do local onde estudava.

De lá para cá, a Polícia Civil ouviu 14 pessoas, vai tomar o depoimento de pelo menos mais duas e aguarda laudos essenciais para responder a pergunta principal do inquérito: a agressão sofrida por Gabrielly tem relação com a morte dela? Esse é um dos 10 “quesitos” formulados ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) a serem respondidos pelos peritos que fizeram a necropsia do corpo e recolheram material para exames laboratoriais.

Responsável pelo caso, a delegada Ariene Murad disse nesta manhã ao Campo Grande News que, diferente da informação divulgada na semana passada, ainda não é possível afirmar com clareza quantas alunas se envolveram na confusão com Gabrielly. Na sexta-feira passada, a delegada Fernanda Félix, a primeira a ouvir depoimentos, disse que uma menina de 9 anos confessou ter agredido a colega sozinha, com “três mochiladas”. No dia, ela disse que seria investigada se uma doença pré-existente teria provocado a morte.

Outras envolvidas - Conforme a delegada Ariene Murad, mais pessoas foram ouvidas e elas indicaram testemunhas que teriam visto outras meninas na confusão. Inicialmente e de acordo com o relato da família, a informação é de que a confusão envolveu 2 adolescentes de 13 anos e a menina da mesma sala de Gabrielly.

Como o único local com câmeras na região não tinha mais as imagens, são os depoimentos os principais elementos da investigação para criar a cena da agressão.

Certeza, até agora, segundo a delegada, é que houve uma agressão, a menina caiu, sentiu dores muito fortes no quadril, teve ajuda de um rapaz na rua, foi andando para uma marquise, pois chovia na hora, onde aguardou “deitadinha” o socorro do Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência). “Ela chegou a chorar de dor”, relata a delegada.

A saúde de Gabrielly – O pai, a mãe e a irmã da menina, de 17 anos, foram ouvidos nesta quinta-feira na delegacia. O depoimento durou a manhã toda. Novamente, relataram que a garota não tinha qualquer enfermidade, suspeita levantada logo após a morte.  Para os pais, a menina foi vítima tanto da agressão quanto de negligência do atendimento médico.

“Por enquanto, não há indícios de doença pré-existente”, afirmou Ariene Murad ao Campo Grande News. Segundo ela, tanto o depoimento da família quando os dados do histórico médico de Gabrielly indicam uma família “zelosa”.

A Polícia Civil já recebeu os dados de atendimento na rede pública municipal e falta ainda do Samu e da Santa Casa. Foram identificados que, dos 115 registros de atendimento à menina na rede municipal de saúde, foram 67 idas ao médico, presenciais.

A coluna Jogo Aberto, do Campo Grande News, publicou ontem o número de registros de Gabrielly na rede municipal e a informação, de uma fonte do setor de saúde, de que chamavam atenção as idas à emergência.

A delegada Ariene Murad, diz que pergunta feita à perícia é essencial para definir o que provocou a morte da menina. (Foto: Arquivo)
A delegada Ariene Murad, diz que pergunta feita à perícia é essencial para definir o que provocou a morte da menina. (Foto: Arquivo)

Para a delegada, porém, tudo que foi apurado até agora indica um quadro sem alterações para a idade. “É o normal para uma criança da idade dela. As idas a emergência são de dor de garganta, de tosse, situações corriqueiras”, afirmou a policial.

Causa – Diante disso, a delegada afirma que só os laudos vão poder dizer de forma mais nítida o que provocou a morte de Gabrielly. Na linguagem técnica, explicou, é preciso saber se há “nexo causal” entre a agressão sofrida, a piora do estado de saúde e a morte.

O diagnóstico foi de “artrite séptica”, uma infecção que atinge articulações e pode ser provocada por bactérias e até vírus. No caso da menina morta, foi no quadril. 

Esse quadro foi identificado na segunda vez em que Gabrielly foi levada para a Santa Casa, no dia 4 de dezembro, depois de passar pela UPA (Unidade de Pronto Atendimento Coronel Antonino) e pelo CEM (Centro Especializado Municipal). No hospital, a situação evoluiu e a menina teve “tromboembolia”, que atinge os pulmões. Teve ainda quadro paradas cardiorrespiratórias e morreu na manhã do dia 6.

O atendimento de saúde recebido pela estudante também será alvo de investigação, conforme a delegada. Se for identificada algum tipo de negligência, pode haver responsabilização.

Quanto às agressoras, se forem de fato mais de uma, a responsabilização é diferente. A menina de 9 anos, de acordo com a lei, não pode ser punida por ato infracional. Nesses casos, o juiz da infância determina medidas de acompanhamento, colocadas em prática pelo Conselho Tutelar. No caso das mais velhas, de 13 anos, podem ser enquadradas em ato infracional comparável à lesão corporal seguida de morte, caso se confirme que a agressão levou à enfermidade que matou Gabrielly. O prazo máximo para internação de adolescentes infratores é de 3 anos.

O velório da estudante de 10 anos, na sexta-feira passada. (Foto: Marina Macheco)
O velório da estudante de 10 anos, na sexta-feira passada. (Foto: Marina Macheco)
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