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Capital

Valorizada na logística do crime, Campo Grande se firma como depósito de cocaína

Droga segue viagem em busca de mais lucro, mas cerca de 10% abastece o tráfico doméstico

Aline dos Santos | 14/07/2023 12:38
"As organizações criminosas fazem consórcio e trazem a droga para Campo Grande", diz delegado Hoffman. (Foto: Paulo Francis)
"As organizações criminosas fazem consórcio e trazem a droga para Campo Grande", diz delegado Hoffman. (Foto: Paulo Francis)

Com posição central num Estado que faz divisa com outras cinco unidades da federação e dois países, Campo Grande se firmou como entreposto do tráfico, mas passa por uma mudança: cresce o estoque de cocaína, em substituição ao armazenamento de maconha.

Os depósitos ficam em casas, galpões ou chácaras alugados, com flagrante até em bunker, esconderijos no solo. São os chamados guarda-roupas do crime, devido à finalidade de estocar maior quantidade de entorpecente.

Neste ano, a Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) já incinerou uma tonelada de cocaína e se prepara para uma segunda ação, com mais 500 quilos. A maconha faz movimento oposto, enquanto eram incineradas nove toneladas, neste ano foram seis toneladas.

“Mato Grosso do Sul está em posição geográfica bastante vulnerável em relação aos olhos dos traficantes. Faz divisa com Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Além de fronteira com dois países, Bolívia e Paraguai, que são exportadores de cocaína e maconha, respectivamente. As organizações criminosas fazem consórcio, vão para Bolívia e Paraguai e trazem a droga para Campo Grande. Aqui, fazem o chamando guarda-roupa, local onde armazenam o entorpecente. Principalmente, a cocaína”, afirma o titular da Denar, Hoffman D’Ávila Cândido e Sousa.

Na sequência, a droga é pulverizada, cerca de 10% fica na Capital para abastecer as boca de fumo. O restante segue viagem para destinos como São Paulo e Rio de Janeiro. Em Campo Grande, o quilo da cocaína vale R$ 25 mil. No mercado paulista, já dobra para R$ 50 mil.

Cocaína apreendida em funilaria de fachada em Campo Grande. (Foto: Direto das Ruas)
Cocaína apreendida em funilaria de fachada em Campo Grande. (Foto: Direto das Ruas)

De acordo com o delegado, além da questão financeira, a cocaína é mais fácil de ser transportada, pois ocupa menor volume, e é uma modalidade de tráfico mais difícil de ser flagrada, sendo escondida em cargas ou fundos falsos de carretas.

“Nos últimos meses, a apreensão de maconha diminuiu e, por outro lado, teve aumento dos flagrantes de cocaína. A maconha ocupa grande volume, tem odor e há mais facilidade, em tese, para identificar um carregamento. A cocaína é financeiramente mais interessante e ocupa menos espaço. Neste mês, já incineramos uma tonelada de cocaína apreendida em Campo Grande. Isso é uma questão de logística dos criminosos, a questão financeira. A maconha não está sendo mais interessante”, afirma o titular da Denar.

A investigação sobre as quadrilhas aponta para estrutura que inclui do motorista ao patrão, passando pelo responsável pela locação dos “guarda-roupas”.

Mini cracolândia - O tráfico de drogas redunda em outros crimes, como furto e roubos pela cidade. O delegado destaca que Campo Grande tem “mini cracolândias” nos Bairros Tiradentes e Vila Nha Nhá.

Hoffman D’Ávila é titular da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Foto: Paulo Francis)
Hoffman D’Ávila é titular da Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Foto: Paulo Francis)

Temos essa outra vertente que é trabalhar no combate ao tráfico doméstico, as biqueiras. É o tráfico formiguinha, que não para dia e noite. Que incomoda a população, que não deixa o vizinho dormir, que ameaça comerciante, alicia adolescentes”, destaca o delegado.

No varejo, uma trouxinha de cocaína custa R$ 50. A porção de maconha é revendida por R$ 10. “Se você combate o tráfico de drogas, você está combatendo outros tipos de delito. Você consegue até diminuir a incidência de furtos e roubos”.

A droga, que rende milhões para as organizações criminosas, se espalha pelas bocas de fumo, rede de disque entrega por aplicativo, anúncio em rede social, unidades especializadas em atendimento a dependente químico e não encontra limite nas muralhas de presídios.

“Nesta semana, cumprimos dois mandados no Presídio de Segurança Máxima, dando apoio para a delegacia de Bataguassu. Foram apreendidos mais de 20 celulares, maconha, cocaína e trouxe quatro presos. Isso num presídio de segurança máxima, é um absurdo. O sistema é falho”, afirma o delegado.

A Denar atua em três frentes: preventiva, repressiva e a incineração. O delegado ministra palestras em escolas públicas, privadas, empresas.

Celulares, maconha e cocaína: saldo de operação em uma única cela de presídio. (Foto: Divulgação/Denar)
Celulares, maconha e cocaína: saldo de operação em uma única cela de presídio. (Foto: Divulgação/Denar)

Fachadas - No último dia 6, traficantes foram alvos de operação da Polícia Civil e da PRF (Polícia Rodoviária Federal). A ação descobriu um bunker, na saída de Campo Grande, sentido a MS-262. Foram apreendidas armas, munições, veículos adulterados, drogas e dinheiro em espécie. Um homem foi preso em flagrante.

Na fachada, uma funilaria; no subsolo, 461 quilos de cocaína. Esse foi o flagrante do Dracco (Departamento de Repressão a Corrupção e ao Crime Organizado), na Rua Ana Rosa Castilho Ocampos, região do Bairro Montevidéu, em Campo Grande. A droga, descoberta em 31 de agosto de 2021, estava avaliada em R$ 11,5 milhões.

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