Cápsulas de calibres usados pela Polícia são encontradas em fazenda
Cápsulas de três diferentes calibres foram encontradas na fazenda Buriti, local onde o índio Oziel Gabriel, de 35 anos, foi baleado. Ele foi ferido durante o cumprimento da decisão judicial de reintegração de posse e morreu, em seguida, no hospital beneficente Elmíria Silvério Barbosa, em Sidrolândia.
De acordo com o procurador Emerson Kalif Siqueira, do MPF (Ministério Público Federal), foram recolhidas casulas de calibre ponto 40, usualmente utilizada pela PM (Polícia Militar), 9 mm e ponto 45, utilizadas pela PF (Polícia Federal).
O MPF pediu uma nova autópsia no corpo, que foi realizada no último sábado. Vieram a Campo Grande um perito da polícia e outro da Secretaria Especial de Direitos Humanos. O novo procedimento tenta determinar que tipo de projétil atingiu a vítima.
O procurador afirmou que busca esclarecimento. “Em nota oficial, o governo diz que a PM só utilizou bala de borracha”, disse em entrevista no último sábado, durante reunião entre índios e fazendeiros no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
Na quinta-feira, feriado de Corpus Cristhi, dia da reintegração e da morte o governo do Estaco veiculou nota apontando o uso de munição não letal. Na sexta-feira, o comandante da Cigcoe (Companhia de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais), afirmou que este tipo de munição foi levada sim ao local da desocupação, porém não disse se foi utilizado ou não.
No dia da morte, o corpo seguiu direto do hospital para a Pax Bom Jesus, sem passar pelo IML (Instituto Médico Legal). A plantonista do IML não estava na cidade e viajou com a chave do local. Então, dois médicos foram à Pax.
Conforme o laudo, o óbito foi por choque hipovolêmico decorrente de ferimento por arma de fogo. Oziel foi atingido por um tiro no abdômen, a bala passou pelo fígado e o projétil saiu pelas costas.
Com os índios, a PF apreendeu armas artesanais, facões e duas espingardas. A fazenda Buriti foi invadida pelos terenas em 15 de maio. No mesmo dia, saiu uma decisão para que os índios deixassem o local. Mas a reintegração não foi cumprida e no dia 18 a decisão acabou suspensa até última quarta-feira, quando foi realizada audiência na Justiça Federal.
Sem acordo, a PF e a PM cumpriram a decisão. O confronto no campo durou nove horas, das 6h às 15h. Os índios atearam fogo a imóveis da fazenda, que pertence ao ex-deputado Ricardo Bacha. Já no dia seguinte à desocupação, os terenas voltaram a Buriti.