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Cidades

Governo manda periciar 34 pontes projetadas por engenheiro investigado

Serviço será contratado em caráter emergencial; alvo são estruturas idênticas á que desabou em Guia Lopes da Laguna, em janeiro

Aline dos Santos | 04/02/2016 16:01
Ponte sobre o Rio Santo Antônio, que desmoronou no começo de janeiro (Foto: Rodrigo Arruda)
Ponte sobre o Rio Santo Antônio, que desmoronou no começo de janeiro (Foto: Rodrigo Arruda)
Segundo Milgioli, perícia em 34 pontes é medida de prevenção.  (Foto: Moisés Silva)
Segundo Milgioli, perícia em 34 pontes é medida de prevenção. (Foto: Moisés Silva)

O desabamento de ponte em Guia Lopes da Laguna, no começo de janeiro, acendeu a luz de alerta para o governo de Mato Grosso do Sul, que contratará em caráter emergencial perícia técnicas em outras 34 estruturas de concreto que dividem uma mesma origem: foram lançadas num pacote em 2011 e tiveram projetos assinados pelo engenheiro Wilson Roberto Mariano de Oliveira, o Beto Mariano. Servidor da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), ele foi alvo das operações Lama Asfáltica, realizada em 9 de julho pela PF (Polícia Federal), e de força-tarefa do MPE (Ministério Público Estadual) que apura irregularidades em obras.

“Teve um problema numa ponte desse pacote. Caiu por completo e nós fizemos uma auditoria que identificou falhas de projeto. Tendo esse laudo técnico em mãos, por questão de responsabilidade, estamos contratando perícia técnica nas outras pontes. Para que possa verificar se existe algum grau de comprometimento ou não. Não estamos afirmando que as outras pontes têm o mesmo problema”, afirma o titular da Seinfra (Secretaria Estadual de Infraestrutura), Ednei Marcelo Miglioli.

No trabalho, as obras, que tiveram custo médio de R$ 30 milhões, oriundos do Ministério da Integração Nacional, terão os projetos analisados e visitas de técnicos. “O projeto da ponte que caiu foi desenvolvido aqui na Agesul pelo engenheiro Wilson Roberto Mariano, que também atesta o projeto das outras pontes. Ficamos surpresos com o resultado. Isso faz com que a gente tome algumas ações preventivas, mas que a obrigação e a responsabilidade nos exige”, diz o secretário.

A perícia será contratada com dispensa de licitação. Conforme Miglioli, será adotado o regime de emergência, com apresentação de três orçamentos. A opção será pelo menor preço. No caso da ponte que desabou, a Seinfra contratou um engenheiro de forma emergencial, que identificou a falha no projeto.

De acordo com o secretário, três motivos fundamentam a contratação de uma consultoria externa. “Primeiro, esse é um trabalho especializado e não tenho aqui nenhuma pessoa habilitada a fazer esse trabalho. Segundo, minha estruturara é pequena. Terceiro, um relatório feito pela própria secretaria, independente do resultado, ele pode ser questionado de alguma maneira”, salienta Miglioli. Não há prazo para o começo do trabalho e nem tempo estimado de duração.

Ponte desmoronou no começo de janeiro e, segundo o governo, foram identificadas falhas de projeto (Foto: Rodrigo Arruda)
Ponte desmoronou no começo de janeiro e, segundo o governo, foram identificadas falhas de projeto (Foto: Rodrigo Arruda)

Prejuízo – O fato de a falha ser no projeto da própria Agesul, inviabiliza pedidos de ressarcimento com queda da ponte, que custou R$ 1,3 milhão. “Na verdade, como o laudo detectou falha no projeto da Agesul, fica complicado a gente cobrar responsabilidade da empresa executora”, diz o secretário.

A ponte, inaugurada em abril de 2012 sobre o rio Santo Antônio, veio abaixo em 2 de janeiro deste ano, O relatório identificou que a construção foi vítima de um colapso progressivo. Tecnicamente, a ponte é considerada curta, o que provocou uma erosão do aterro, deslocamento da cortina (elemento estrutural para contenção do aterro) e instabilidade.

A situação levou a mudança administrativa na Seinfra, que passou a terceirizar a elaboração dos projetos das obras de pavimentação e pontes.

Sob suspeita – As pontes do pacote de obras de 2011 ficam em Ponta Porã, Chapadão do Sul, Paranaíba, Nova Andradina, Figueirão, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de Mato Grosso, Caarapó, Ribas do Rio Pardo, Porto Murtinho, Terenos, Bandeirantes, Dois Irmãos do Buriti, Aquidauana e Aparecida do Taboado. As pontes de madeiras foram substituídas com verba para reparar estragos da chuva em 2011.

Outro lado – Conforme a defesa de Beto Mariano, a ponte caiu em Guia Lopes por falta de manutenção. Segundo o advogado Hilário Carlos de Oliveira, toda vez que ocorre uma enchente é necessário fazer limpeza no leito do rio para impedir que a água vá para a cabeceira do aterro.

Outro fator apontado por ele é que seria necessário levar material novo para fazer, por camadas, o reaterro. “Mas empurraram com pá carregadeira para poder fazer o aterro. Mais de cem pontes foram feitas no Estado e nenhuma caiu”, afirma. A defesa informa que Beto Mariano é servidor concursado, lotado em Paranaíba (onde foi prefeito) e segue trabalhando.

Governo manda periciar 34 pontes projetadas por engenheiro investigado
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