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Interior

Abastecidos por “Motinha”, irmãos mandavam 4 cargas de cocaína por mês

PF interceptou negociação entre Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o “Dom”, e Valter Martins

Por Helio de Freitas, de Dourados | 14/06/2024 14:08
Policiais federais na casa de Marcel Martins, no dia da operação em Dourados (Foto: Divulgação)
Policiais federais na casa de Marcel Martins, no dia da operação em Dourados (Foto: Divulgação)

Investigação da Polícia Federal no âmbito da Operação Prime, desencadeada no dia 15 de maio deste ano, revela detalhes das negociações dos irmãos Marcel Martins Silva, 35, e Valter Ulisses Martins Silva, 27, com um dos principais traficantes da fronteira na atualidade: Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”.

Sócio de duas empresas em Dourados, Marcel está preso. Valter não foi localizado no dia da operação e continua foragido.

Conhecido por usar grupo formado por mercenários e até por um policial militar de Mato Grosso do Sul para proteção pessoal, “Dom” também está foragido. Ele já escapou de duas ações da PF. Nas duas ocasiões, foi resgatado de helicóptero após ser informado que seria preso.

A Polícia Federal conseguiu recuperar conversa entre “Dom” e Valter e acredita se tratar de negociação de carga de cocaína. A mensagem estava armazenada em nuvem e foi acessada com autorização judicial.

“Seguinte: troquei uma ideia com seu irmão, falei pra ele que fechamos em 2.7 [2,7 mil dólares por quilo]. Vamos fazer 4 cargas por mês, se ele não podia descontar os 100 e ele disse que tem que ser 160 e tal. Então falei pra ele o seguinte: eu vou entregar uma carga pra vocês e vocês desconta os 160 até liquidar isso e já era”, escreveu “Dom” a Valter Martins.

Segundo a Polícia Federal, Valter e seu irmão Marcel se associaram a “Dom” para distribuir remessas de drogas de forma estável e continuada. Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota também teve a prisão preventiva decretada na Operação Prime, mas já estava foragido e na lista da Interpol.

Conforme os investigadores, Marcel Martins desempenhava papel de liderança e comando da organização e Valter cuidava da logística e contato com fornecedores e outros operadores.

Depois de cumprir pena por tráfico no Paraná, Marcel se instalou em Dourados, onde mora em condomínio de alto padrão e levava vida “acima de qualquer suspeita”.

Na maior cidade do interior de MS, é sócio de duas empresas – a Efraim Incorporadora e a Primeira Linha Acabamentos. Os sócios deles nas empresas, Alexander Souza (do Paraná) e Carlos José Alencar Rodrigues, respectivamente, também estão presos.

Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o “Dom” (Foto: Arquivo)
Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o “Dom” (Foto: Arquivo)

Chácara e apartamento – A PF conseguiu descobrir que entre as negociações de Marcel Martins Silva com “Dom” estão uma chácara no Paraguai avaliada em 2,2 milhões de dólares, e um apartamento no Edifício Otto Sky View, em Joinville (SC), cotado em 1,2 milhão de dólares.

Anotações envolvendo a transação foram encontradas durante as buscas de 15 de maio na loja Primeira Linha, em Dourados. “Dom” aparece como comprador da chácara e como vendedora aparece a empresa Agrocanaã, com sede em Pedro Juan Caballero. Segundo a PF, a empresa paraguaia é dos irmãos Marcel e Valter.

“Bola” – Em outro trecho da investigação, fica clara a posição superior de Marcel na organização. Conversas interceptadas pela PF mostram “Dom” pedindo apoio a Valter para conseguir receber dinheiro de Marcel. “Tentei falar com mano, mas não tá me respondendo será que vc não dá uma força pra mandar os 200 antes das duas que preciso mandar pra Bola? Vê se ajeita com ele pra mim que eu preciso mandar pra Bola, por favor”.

Segundo a PF, o dinheiro cobrado por “Dom” era para pagar um fornecedor boliviano de cocaína. “Bola” é a referência usada pelos traficantes sobre a Bolívia, principal produtor da cocaína operada em território paraguaio.

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