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Interior

Ação contra policiais prendeu sobrinho de “gerentona” do jogo do bicho

Gaeco afirma que Marcos Alcântara, sobrinho de Darlene Borges, negociava droga com escrivão de Ponta Porã

Helio de Freitas, de Dourados | 06/05/2022 10:43
Marcos Alberto Alcântara, preso na Operação Codicia. (Foto: Reprodução)
Marcos Alberto Alcântara, preso na Operação Codicia. (Foto: Reprodução)

O campo-grandense Marcos Alberto Alcântara, 48, um dos nove presos no dia 25 de abril no âmbito da Operação Codicia, é sobrinho de Darlene Luiza Borges, apontada como “gerentona” do jogo do bicho na Capital. Ela foi presa na Operação Arca de Noé (6ª fase da Operação Omertà), em maio do ano passado, e ganhou liberdade dois meses depois.

Segundo a investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Marcos fazia parte do núcleo do tráfico, comandado pelo escrivão de polícia Jonatas Pontes Gusmão, o “Jhow”, também preso na Operação Codicia (ganância, em espanhol).

Além de Marcos Alcântara e Jonatas Gusmão, continuam presos os policiais Adriana Jarcem da Silva, Valdenei Peromalle, Marcio André Molina Azevedo, Mauro Ranzi e Rogério Insfran Ocampos (perito criminal), e os irmãos Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior.

Conforme o Gaeco, os irmãos Olmedo também integravam o núcleo do tráfico e recebiam drogas desviadas por Jonatas Gusmão do depósito da 2ª Delegacia de Polícia de Ponta Porã, cidade a 313 km de Campo Grande, onde o esquema era concentrado.

Residente na Rua Agostinho Bacha, no Recanto dos Rouxinóis, em Campo Grande, Marcos Alcântara está recolhido por força de mandado de prisão temporária (válido por 30 dias). Os demais estão presos preventivamente.

Durante um ano, o Gaeco investigou crimes de concussão (usar o cargo público para obter vantagem indevida), peculato (se apropriar ou desviar bem público) e tráfico de drogas envolvendo policiais civis da ativa e aposentados.

Além dos seis integrantes dos quadros da Polícia Civil que estão presos, também figuram entre os investigados o delegado Patrick Linares da Costa, o investigador aposentado Ronaldo Medina, 67, e a escrivã aposentada Doelza Lopes Ferreira, 59. O Gaeco pediu a prisão deles, mas o pedido foi negado pela Justiça.

“Bicheiro” – Preso em agosto de 2017 com 89 quilos de maconha e 2 quilos de pasta base de cocaína, Marcos Alcântara ficou na cadeia até 25 de maio do ano passado, quando ganhou direito à prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.

No dia em que foi preso, Marcos disse que sua profissão era “bicheiro”, situação considerada possível pela polícia devido ao parentesco dele com Darlene Borges, a “Dadá”. Darlene e a mãe de Marcos são irmãs.

Segundo o Gaeco, Marcos Alcântara surgiu no segundo período de interceptação telefônica dos investigados. Ele mantinha contatos frequentes com o escrivão Jonatas Gusmão.

Encomenda – Os dois chegaram a ter desentendimento por causa de uma “encomenda” que Marcos deveria enviar para o policial, mas se negava a despachar a caixa antes de receber o combinado. O Gaeco não descobriu o que tinha na caixa, mas suspeita que fosse droga ou armas.

Sem conseguir convencer Marcos a enviar a encomenda, Jonatas Gusmão chegou a usar um policial lotado na 1ª DP de Campo Grande para tentar pegar a caixa. Sem saber do que se tratava, o policial chegou a ir até a casa de Marcos na Vila Margarida, mas o traficante não entregou o produto.

“O cara diz que quer o dinheiro, senão não vai entregar”, afirmou o policial da Capital em conversa com Jonatas Gusmão. Desconfiado, o policial perguntou ao colega da fronteira: “Quem é esse cara e que negócio é esse?”

Jonatas respondeu que não o conhecia e que Marcos seria “conhecido de um conhecido”. Sobre a encomenda, o escrivão informou que se tratava de um coldre (dispositivo usado para carregar armas junto ao corpo). “O cara é meio estranho e cabuloso e o lugar também, que não dá pra ficar indo à noite”, respondeu o policial da 1ª DP da Capital.

Frustrado por não conseguir retirar a encomenda, Jonatas ligou para João Batista Olmedo Júnior informando que Marcos tinha se negado a entregar o negócio. “Ele não pode fazer isso não, o cara é louco e vai mandar os caras irem lá e dar um fecha na casa dele.”

Segundo a investigação, nas conversas com Olmedo Júnior, Jonatas Gusmão afirmou que a encomenda se tratava de “coisa urgente” e que o delegado estava “louco”, achando que tinha sido enrolado e por isso iria mandar uma viatura até a casa de Marcos Alcântara.

“É óbvio que se realmente estivessem tratando de um coldre, não haveria tanto desespero e urgência por parte dos envolvidos, muito menos a participação oficial da Polícia Civil (viatura) iria ‘ferrar’ com tudo”, afirma o Gaeco. O nome do delegado citado por Jonatas não foi revelado nas conversas.

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