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Interior

Bispo rebate deputada e diz que CPIs vão acabar “numa gostosa pizza”

Redovino Rizzardo disse que esteve em reunião apenas para saudar participantes, mas criticou momento em que evento foi realizado para discutir conflitos indígenas

Helio de Freitas, de Dourados | 16/10/2015 10:03
Bispo Redovino Rizzardo, da diocese de Dourados, critica Mara Caseiro e até o Cimi (Foto: A. Frota/Diário MS)
Bispo Redovino Rizzardo, da diocese de Dourados, critica Mara Caseiro e até o Cimi (Foto: A. Frota/Diário MS)

O bispo da diocese de Dourados, dom Redovino Rizzardo, voltou a rebater a deputada estadual Mara Caseiro (PTdoB), que o acusa de ser conivente com declarações feitas durante uma reunião realizada no dia 8 deste mês, em uma entidade da igreja católica, em que teria sido dito por uma das participantes que a soja e a carne produzidas em Mato Grosso do Sul são manchados com sangue de crianças indígenas.

Em entrevista nesta quinta-feira (15), o religioso diz que não participou da reunião, realizada no Ipad (Instituto Pastoral da Diocese de Dourados), e apenas foi ao local para saudar os participantes, pois estava sem voz, já que tinha acabado de fazer tratamento de quimioterapia.

“Eu soube depois que algumas pessoas pronunciaram essas expressões, mas inicialmente a deputada atribuiu essa frase a mim sendo que eu nem podia falar naquele dia. Depois disse que eu fui conivente. Mas eu nem estava presente quando foi dito [a frase citada por Mara Caseiro]. Não estava mais, vim a saber depois, fiquei apenas um minuto no local”, afirmou Rizzardo.

Reunião inoportuna – O bispo considerou a reunião, que teve a presença de religiosos e outros defensores da causa indígena, “inoportuna”, por ocorrer em um momento de tensão.

“É como colocar gasolina no fogo. Eu não sou defensor do radicalismo e essa expressão que foi dita lá é muito radical. Duvido que alguém prove que eu estava lá quando pronunciaram essa expressão. Eu não diria isso, como ficaria com os agricultores?”.

Cimi – Redovino Rizzardo disse que sempre teve “relação de adulto” com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), “dando a eles elogios quando preciso e também colocando minhas divergências quando necessário”.

O bispo afirmou que o Cimi é um órgão de defesa dos índios, da mesma forma que outras entidades defendem os interesses dos produtores rurais. “Se a Famasul defende os agricultores é bom ter alguém que defenda os índios, porque eles também merecem e nesse ponto o Cimi defende os índios”.

Segundo ele, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada na Assembleia Legislativa tem a oportunidade de provar ou descartar a suposta participação do Cimi nas ocupações de terra e diz que, na sua opinião, o papel do conselho é orientar e conscientizar os índios sobre seus direitos.

Críticas ao conselho – Apesar da ligação com o Cimi, o bispo afirma discordar do órgão da igreja católica por generalizar as críticas aos produtores rurais. “Eles colocam tudo o mesmo balaio, como se os produtores de Douradina fossem os mesmos de Antonio João [dois municípios em que existe disputa por terra]. O Cimi coloca como se todos fossem iguais, mas sabemos que o joio e o trigo estão tanto do lado do fazendeiro quanto do lado dos índios. Não se pode colocar todos os fazendeiros como criminosos e todos os índios como vítimas”.

Redovino diz que também questiona o relatório anual do Cimi sobre mortes de índios. “Os que foram mortos por fazendeiros ou policiais são dois, três, mas eles [Cimi] não explicam que os outros são vítimas da violência que tem dentro as aldeias. Deveria distinguir e não misturar tudo, senão o povo lá da Holanda pensa que aqui em Mato Grosso do Sul os agricultores são todos criminosos e estão matando os índios”.

CPI e pizza – Redovino Rizzardo criticou também a CPI do Cimi, instalada pela Assembleia Legislativa por iniciativa de Mara Caseiro para apurar a suposta participação do conselho nas ocupações de terra. “À primeira vista podemos dizer que a CPI é fruto de preconceito de uma sociedade que não quer deixar o índio sobreviver, mas na prática é bom que haja a CPI, porque através dela vamos saber o que existe de verdade nisso tudo. E para mim não vão encontrar nada”.

Para o bispo douradense, que ainda neste mês deve deixar a diocese, a CPI do Cimi e a CPI do Genocídio oferecem oportunidade para provar a verdade, tanto do lado dos produtores quanto do lado dos índios. “As duas CPIs vão se fundir, vão se ajudar, se é que vão chegar a algum lugar, porque a maioria das CPIs no Brasil sempre termina numa gostosa pizza, porque cada um procura seus interesses. Eu acho que as duas CPIs daqui [da AL] não vão dar em nada”.

Redovino Rizzardo voltou a defender mais diálogo e o pagamento de indenização pelas terras consideradas tradicionais indígenas. “É preciso indenizar a terra e as benfeitorias. Não se pode, para recuperar uma injustiça feita, fazer outra injustiça. Conversei com o Lula [ex-presidente da República] em 2009 e ele disse que dinheiro não faltava para as indenizações, mas faltou, não é mesmo?”.

Redovino Rizzardo disse que Cimi coloca todos os fazendeiros “no mesmo balaio” (Foto: A. Frota/Diário MS)
Redovino Rizzardo disse que Cimi coloca todos os fazendeiros “no mesmo balaio” (Foto: A. Frota/Diário MS)
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