Corte de verba atinge Sisfron e afasta chance de Exército policiar fronteira
Comandante do Exército vê risco de colapso e diz que vigilância das fronteiras ficou comprometida após corte de 40% do orçamento
A presença mais intensa de homens do Exército na fronteira do Brasil com o Paraguai, como cobrou o governador Reinaldo Azambuja do presidente Michel Temer no dia 31 de julho deste ano, não deve ser colocada em prática a curto prazo. O motivo é a falta de dinheiro.
Enquanto Temer prometia ao governador sul-mato-grossense enviar ao estado uma equipe dos ministérios da Defesa e da Justiça para avaliar a necessidade do plano de atuação, o governo cortava quase pela metade o orçamento das Forças Armadas.
Sem verba, o comando do Exército vê risco de colapso, afasta qualquer possibilidade de reforçar a segurança nas fronteiras e vai até liberar militares para passarem a noite em casa, para economizar.
Sisfron – Outro projeto duramente afetado pelo corte de orçamento é o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), cujo projeto-piloto é desenvolvido na faixa de fronteira de Bela Vista a Mundo Novo e pilotado pelo centro de comando instalado na 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada em Dourados.
Criado em 2012 para ser importante aliado no combate ao narcotráfico e à entrada de armas, o Sisfron estava previsto para ser concluído em dez anos, mas até agora só cobriu 600 km de uma faixa de 17 mil km de fronteiras. O prazo de conclusão foi adiado para 2040.
De acordo com dados das Forças Armadas divulgados ontem (14), dos R$ 427 milhões que o Exército colocou como previsão na Lei Orçamentária deste ano para o Sisfron, R$ 166 milhões foram contingenciados.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, divulgada ontem, mostrou que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica tiveram contingenciamento de 40% neste ano, sem contar alimentação, salário e saúde dos militares. O comando das Forças Armadas afirma que o dinheiro só será suficiente para cobrir os gastos até setembro.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que o contingenciamento de recursos compromete o Sisfron. "É essencial mantermos as fronteiras sob vigilância. Precisamos aplicar a tecnologia, um sistema avançado, que permita o monitoramento".
Vitrine – Enquanto o governo manda tropas federais para o Rio de Janeiro, com gasto de R$ 1 milhão por dia, as fronteiras continuam escancaradas e controladas pelo crime organizado. Na avaliação de um general ouvido pelo “Estadão”, cortar recursos do Sisfron e gastar em deslocamentos não ajuda a solucionar a violência.
Um oficial-general ouvido pela reportagem disse que o Sisfron é uma oportunidade de as Forças Armadas proporcionarem a outros órgãos, como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal, a possibilidade de operar também nas fronteiras.
Procurado para falar sobre a falta de recursos para as Forças Armadas, o Ministério do Planejamento informou que tenta resolver as questões mais graves, mas sem prometer ampliação de limites orçamentários.
Para casa – O general Villas Bôas descartou, "por enquanto", o fechamento de unidades militares, mas admitiu que alguns oficiais serão liberados para passarem a noite em casa, para diminuir gastos. Entretanto, considera "extremamente" desconfortável e “uma inversão absoluta” a hipótese de reduzir expediente.
"[A segurança nas fronteiras] fica comprometida”, afirmou Villas Bôas, ao anunciar redução das operações de fronteira por falta de combustível e outros insumos.