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Interior

Em escutas, vereador debocha de eleitor e manda "povo se f..."

Caroline Maldonado e Helio de Freitas, de Dourados | 09/10/2014 10:52
Cícero dos Santos, presidente da Câmara, é conduzido por policiais federais, ontem de manhã (Foto: Osvaldo Duarte/Grande FM)
Cícero dos Santos, presidente da Câmara, é conduzido por policiais federais, ontem de manhã (Foto: Osvaldo Duarte/Grande FM)

Escutas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça revelam detalhes sobre o esquema de corrupção comandado por seis vereadores de Naviraí, cidade a 366 km de Campo Grande. Além de conversas sobre os métodos adotados pelo grupo para desviar dinheiro público e cobrar propina, as gravações mostram também diálogos debochados, carregados de palavrões contra a população.

Numa das conversas, a que o Campo Grande News teve acesso, o presidente da Câmara Municipal, Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, e o vereador e advogado Marcus Douglas Miranda (PMN) se divertem debochando do povo ao comentarem o esquema de desvio de dinheiro. “Quero que o povo se f... Povo, vai se f... Vou colocar no Facebook: o povo tem que se f...”

Cícero dos Santos, Marcus Douglas e outros quatro vereadores – Adriano José Silvério (PMDB), Solange Olímpia Pereira de Castro Melo (PSDB), Carlos Alberto Sanches, o Carlão (PSDB) e Vanderlei Chagas (PSD) – foram presos ontem pela Polícia Federal durante a Operação Atenas, desencadeada em novembro de 2013 para investigar o esquema de corrupção montado para extorquir empresários em troca da liberação de alvará, fraudar licitações, receber diárias da Câmara por viagens que nunca aconteceram e contratar funcionários para o Legislativo e obrigá-los a fazer empréstimos consignados e ficar com parte desse dinheiro.

Além dos vereadores, foram presos três assessores da Câmara de Naviraí e a mulher de Cicinho do PT, Mainara dos Santos, proprietária de uma loja de grife no centro da cidade.

Os seis vereadores foram transferidos ontem mesmo para a carceragem da Polícia Federal em Dourados. Por ser advogado, Marcus Douglas tem direito à cela especial. Solange Melo e Mainara foram levadas para o presídio feminino de Jateí e os três assessores transferidos para o presídio de segurança máxima de Naviraí. Os vereadores, Mainara e um assessor cujo nome não foi divulgado estão recolhidos por força de mandado de prisão preventiva. Os outros dois assessores foram presos temporariamente (por cinco dias).

Dois empresários que estavam entre as 28 pessoas levadas para a delegacia para prestar depoimento foram presos por posse ilegal de armas, encontradas na casa deles. Eles foram autuados em flagrante pelas armas, não por causa dos crimes de corrupção.

Os delegados e agentes envolvidos na operação trabalharam até às 21h30 de ontem para concluir todos os depoimentos. Hoje o trabalho continua, principalmente na análise de documentos e computadores apreendidos em empresas, residências e na Câmara de Naviraí, que reabriu nesta quinta-feira.

Esquema de corrupção - O esquema desvendado pela Operação Atenas incluía uma série de atividades criminosas. A rede de corrupção era ampla, conforme explicaram os delegados responsáveis pela operação. Através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, os policiais em conjunto com o Ministério Público Estadual descobriram que os vereadores da cidade exigiam e recebiam vantagens indevidas para aprovação de leis e para atuações ilegais na expedição de alvarás para estabelecimentos comerciais. Foi descoberto também um esquema ilegal de recebimento de diárias pagas a servidores públicos municipais por viagens que só existiram no papel.

Outro crime era praticado contra servidores contratados pelos vereadores como comissionados na Câmara. Em troca do emprego, o servidor tinha que fazer um empréstimo consignado e entregar o dinheiro ao vereador que arrumou o cargo para ele. Depois ia pagando as parcelas mensalmente.

A vereadora Solange Melo, 55 anos, é policial civil aposentada e mulher do delegado federal Severino Alexandre de Andrade Melo, que por 16 anos foi titular da delegacia da PF em Naviraí. Em 2005 ele foi transferido para São Paulo.

Candidato a deputado estadual nas eleições deste ano, o vereador Marcus Douglas tinha sido detido no sábado, véspera da votação, por desrespeito à lei eleitoral e desacato ao juiz Eduardo Lacerda Trevisan. Marcus fazia uma carreta na cidade que passou em frente ao Cartório Eleitoral, contrariando a lei. No mesmo dia ele foi liberado. Cicinho do PT também foi candidato a deputado estadual e assim como o colega Marcus Douglas teve problema com a Justiça Eleitoral na véspera das eleições. Um assessor dele foi detido com R$ 19 mil em dinheiro. Esse mesmo assessor estaria entre os presos na Operação Atenas.

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