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Interior

Fazendeiros pagaram índio para dificultar apuração sobre cacique morto, diz PF

Paula Maciulevicius | 20/07/2012 10:15
Polícia Federal conclui inquérito e encaminha caso ao MPF. No entanto buscas pelo corpo do indígena continuam. (Foto: Divulgação/Cimi)
Polícia Federal conclui inquérito e encaminha caso ao MPF. No entanto buscas pelo corpo do indígena continuam. (Foto: Divulgação/Cimi)

A conclusão do inquérito que apura o desaparecimento do indígena Nízio Gomes, 59 anos, desde novembro do ano passado apontou, em meio a uma trama bastante complicada, o envolvimento de um índio com os fazendeiros suspeitos pelo crime. Ele foi pago para sustentar a versão de que Nízio estava vivo e escondido no Paraguai.

Segundo a PF, em troca de receber apoio para ser eleito vereador pelos fazendeiros, dinheiro e um advogado caso precisasse, o indígena disse aos policiais no decorrer das investigações, que o cacique não havia morrido e que após o caso, se mudou com familiares para uma aldeia no Paraguai.

Antes do ataque, o mesmo índio tentou negociar com o cacique para a saída dos guarani-kaiowás da região do acampamento Guaiviry em troca de uma grande quantia em dinheiro.

Para sustentar a versão dos fazendeiros presos, mentir à Polícia e virar as costas para os índios do Guaiviry, o indígena recebeu além da promessa de que os fazendeiros presos o elegeriam a vereador, uma alta quantia em dinheiro, parte dela já havia sido paga.

Segundo a Polícia Federal, o indígena sustentou a versão acreditando que os policiais nunca iriam ter como checar se Nízio estava realmente morto, ou morando no país vizinho.

Durante as investigações, os policiais conseguiram provar ao indígena que ele estava indicando pistas falsas, momento em que ele resolveu falar a verdade de que Nízio Gomes estava morto e que ele havia sido contratado pelos fazendeiros na tentativa de enganar a Polícia.

O ataque, segundo inquérito apurou, aconteceu quando o indígena não conseguiu em negociação financeira, fazer com que Nízio deixasse a área. Os fazendeiros então contrataram uma empresa privada para o assassinato.

No total foram 23 pessoas indiciadas, das quais 18 estão presas pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de testemunhas.

Houve ainda o indiciamento de um funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) pelos crimes de quadrilha e coação no curso do processo, por tentar coagir uma testemunha “chave” a mudar o depoimento na Polícia.

O delegado responsável pelo caso, Jorge André Figueiredo, explicou que o indígena não foi indiciado por se retratar a tempo. “A princípio incorreria em falso testemunho, mas ele fez a retratação a tempo”

Como o caso ainda tramita em segredo de justiça, os nomes dos indiciados não serão divulgados pela Polícia Federal.

Dos oito presos, fazendeiros e advogado, que estão presos na Delegacia de Polícia Federal serão transferidos para outros estabelecimentos prisionais do Estado. O Campo Grande News apurou que três deles devem vir a Campo Grande ainda hoje.

De acordo com a Polícia Federal, entre os presos, 10 pessoas são ligadas a empresa de segurança Gaspem, de Dourados, incluindo o proprietário Aurelino Arce, gerentes e seis fazendeiros da região de Ponta Porã e Aral Moreira. Um destes fazendeiros é presidente de um Sindicato Rural no Estado de Mato Grosso do Sul, havendo também um advogado do Paraná.

Os passos da Polícia Federal agora são de localizar o corpo de Nízio. O caso segue para o MPF (Ministério Público Federal), mas de acordo com o delegado, uma equipe está especificamente à procura do corpo.

Pelo que consta no inquérito, alguns dos fazendeiros presos sabem exatamente onde o corpo estaria escondido, no entanto nenhum demonstrou interesse em colaborar com as investigações e informar o local.

Isto seria o motivo que justificaria o prolongamento das prisões. A Polícia Federal acredita que se soltos, dificilmente os policiais encontrariam o corpo do cacique.

Detalhes da execução - Nízio Gomes foi efetivamente morto no acampamento e teve o corpo levado em uma caminhonete. As armas utilizadas no ataque ao acampamento Guayviry foram fornecidas pelos fazendeiros e trataram-se de espingardas calibre 12, com munições classificadas de “menos letal”, mas que se disparadas em curta distancia podem matar.

Uma das pessoas presas que participou da execução confessou em interrogatório que o cacique foi atingido por um disparo na região subaxilar e que ele havia participado da retirada do corpo do local do ataque, tendo inclusive verificado o seu pulso e constatado a efetiva morte do índio. Este indiciado esclareceu, inclusive, que houve pouco sangramento do cacique Nízio, o que confirma o descrito no laudo pericial de que havia pouco sangue no local dos fatos.

Fato inédito - O delegado ressalta que o indiciamento de 23 pessoas seja um marco na história sul-mato-grossense da luta indígena pela demarcação de terras. “Foi emblemático e abre paradigma para um posicionamento futuro acerca desses conflitos. Pela primeira vez temos muitas pessoas indiciadas”, comentou Jorge André Figueiredo.

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