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Interior

Garoto que teve vísceras expostas é recebido como herói em área de confronto

Adolescente de 13 anos foi ferido por policiais do Choque e chegou a ser dado como morto

Helio de Freitas, de Dourados | 06/07/2022 16:18
Adolescente indígena mostra cicatrizes dos ferimentos (Foto: Direto das Ruas)
Adolescente indígena mostra cicatrizes dos ferimentos (Foto: Direto das Ruas)

O adolescente indígena que teve as vísceras expostas e foi dado como morto durante o confronto com policiais do Batalhão de Choque da PM em Amambai no dia 24 de junho, voltou nesta quarta-feira (6) ao campo de batalha.

Levado por amigos, o garoto de 13 anos foi recebido como herói pelos guarani-kaiowá que há nove dias ocupam a Fazenda Borda da Mata. Ele ficou quase uma semana internado no Hospital Regional de Ponta Porã, onde permaneceu na UTI entre a vida e a morte.

A recepção ao sobrevivente ocorreu no acampamento montado ao lado da sepultura de Vito Fernandes, 42, morto a tiros pelos PMs durante o confronto do dia 24. No dia do enterro, os índios voltaram para a fazenda e lá permanecem.

A comunidade indígena acusa do Batalhão de Choque de promover despejo ilegal, já que não havia ordem judicial e, mesmo que a Justiça tivesse determinado a reintegração, a desocupação deveria ser feita pela Polícia Federal. A Secretaria de Segurança Pública nega ter ido ao local para expulsar os índios.

Segundo indígenas do acampamento, todos os feridos já tiveram alta. Oito moradores da Aldeia Amambai receberam atendimento médico. Líderes do grupo afirmam que pelo menos 30 pessoas foram atingidas por tiros de munição menos letal e bombas de gás, mas não procuraram socorro médico. Três policiais também sofreram ferimentos leves.

Na segunda-feira (4), o juiz Thales Braghini Leão, da 2ª Vara da Justiça Federal em Ponta Porã, negou liminar de reintegração de posse da Fazenda Borda da Mata. Segundo ele, apesar de os proprietários apresentarem documentos de aquisição da área, não há como ignorar a "existência de conflitos latentes" mal resolvidos na região.

"O fato de não existir demarcação sobre a área ou qualquer processo administrativo tendente a promovê-la não é suficiente para descaracterizar a luta pela posse das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. O papel que a parte autora tanto exibe para cumprimento pelas leis do direito é produção humana, e de homens brancos. Naturalmente, a legitimidade dessa busca indigenista é algo a ser averiguado pelos órgãos e meios próprios", disse o juiz.

Thales Braghini criticou a presença da Polícia Militar no local. "A Polícia Federal é a autoridade policial judiciária e ostensiva neste tipo de situação, de modo que não se pode admitir que as forças locais atuem sem a liderança dela, ou sem ordens judiciais. Esse tipo de atuação apenas agrava o conflito”.

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