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Interior

MP denuncia policiais paraguaios que protegiam traficante da fronteira

Os dois estão presos desde fevereiro por apagar mandado de prisão expedido pela Justiça brasileira

Helio de Freitas, de Dourados | 03/08/2022 15:10
Suboficiais paraguaios são conduzidos por colegas após audiência na Justiça (Foto: ABC Color)
Suboficiais paraguaios são conduzidos por colegas após audiência na Justiça (Foto: ABC Color)

O Ministério Público do Paraguai ofereceu denúncia contra os suboficiais da Polícia Nacional Ramón Balbino Vargas Espinoza e Félix Antonio Ayala Caballero, presos no início deste ano acusados de proteger o narcotraficante fronteiriço José Luis Bogado Quevedo.

Na denúncia, os promotores da Unidade Especializada em Delitos Econômicos e Anticorrupção pedem o julgamento dos dois policiais por invasão ao sistema de informática da Polícia Nacional para esconder o mandado de prisão internacional de Bogado Quevedo.

Natural de Pedro Juan Caballero (cidade vizinha de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul), o narcotraficante responde a 34 processos no Brasil. A Justiça brasileira havia determinado a prisão dele para fins de extradição, mas o mandado não aparecia no sistema da polícia.

Os promotores Rodrigo Estigarribia, Francisco Cabrera e Liliana Alcaraz acusam os dois policiais por desrespeito à lei de execuções, acesso indevido ao sistema de informática e por alteração de dados relevantes.

Acusado de integrar organização criminosa que mandava cocaína e armas do Paraguai para o interior de São Paulo, Luis Bogado Quevedo teve a prisão decretada pela Justiça brasileira há oito anos, mas se escondeu no Paraguai e ficou livre até janeiro deste ano. Após vários anos em Pedro Juan Caballero, ele se mudou no início de 2022 para San Bernardino, cidade perto da capital Asunción.

No dia 30 de janeiro, o narcotraficante foi ferido a tiros em ataque de pistoleiros ocorrido durante a “Ja’umina Fest”, evento de danças típicas da Argentina e da Colômbia. Pelo menos 20 mil pessoas lotavam o espaço de eventos de San Bernardino no momento do atentado.

Outras quatro pessoas ficaram feridas e duas morreram – o também traficante Ignacio Rojas Mora, 29, e a influenciadora digital Cristina Isabel Vita Aranda Torres. Mulher do jogador de futebol Tito Torres, Cristina foi vítima colateral dos tiros.

Ainda naquela noite, Luis Bogado Quevedo procurou atendimento médico em hospital particular de Asunción, onde apresentou documento de identidade emitido em Mato Grosso do Sul. Entretanto, os policiais perceberam que o documento era falso.

Dias depois, os investigadores paraguaios descobriram que Bogado Quevedo circulava livremente no Paraguai desde 2014 mesmo estando na lista vermelha da Interpol, a polícia internacional.

Para o mandado de prisão ficar escondido no sistema da Polícia Nacional, ele subornou autoridades paraguaias, entre elas os suboficiais Ramon e Félix. Os dados foram alterados por 27 vezes. No dia seguinte ao tiroteio, o mandado de prisão voltou a aparecer no sistema.

Em maio deste ano, o juiz Rolando Duarte encerrou o processo de extradição de Bogado Quevedo devido ao fato de as autoridades brasileiras não terem enviado a documentação pertinente dentro do prazo estabelecido no Tratado de Extradições.

Entretanto, o traficante pedrojuanino continua preso em virtude de novo mandado de prisão emitido pela Justiça do Brasil. Ele está condenado em São Paulo a 17 anos e 3 meses de prisão por narcotráfico e organização criminosa. A extradição agora depende do novo processo, aberto em maio.

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