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Interior

Policial morto há um ano recebeu R$ 300 mil da Máfia do Cigarro, diz Gaeco

Relatório da Operação Oiketicus enviado à Justiça revela que policial civil aposentado agia em parceria com PM na cobrança de propina dos contrabandistas para liberar carga de cigarro do Paraguai

Helio de Freitas, de Dourados | 23/05/2018 15:35
Carreta com cigarro apreendida em fevereiro do ano passado em Maracaju (Foto: Divulgação)
Carreta com cigarro apreendida em fevereiro do ano passado em Maracaju (Foto: Divulgação)
Giuvan de Oliveira Barbosa foi morto em Maracaju, em maio de 2017 (Foto: Arquivo)
Giuvan de Oliveira Barbosa foi morto em Maracaju, em maio de 2017 (Foto: Arquivo)

O policial civil aposentado Giuvan de Oliveira Barbosa, assassinado por pistoleiros no dia 11 de maio do ano passado em Maracaju, a 160 km de Campo Grande, foi vítima da Máfia do Cigarro, o esquema de contrabando de cigarro do Paraguai que envolve dezenas de policiais de Mato Grosso do Sul.

O próprio Giuvan fazia parte do esquema e teria sido morto por causar prejuízo à organização criminosa. Conforme as investigações, ele teria recebido pelo menos R$ 300 mil da máfia, mas não cumpriu o prometido.

A suspeita de ligação do assassinato de Giuvan com a Máfia do Cigarro – revelada pelo Campo Grande News no mesmo dia da morte – faz parte do relatório de 110 páginas que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) mandou à Justiça Militar para justificar a prisão de 20 policiais militares durante a Operação Oiketicus.

Segundo as investigações, feitas em conjunto com a Corregedoria da PM, Giuvan agia em parceria com o 3º sargento da Polícia Militar Nilson Procedônio Espíndola, lotado Maracaju e um dos presos pelo Gaeco há uma semana.

Propina para liberar cigarro – Juntos, os dois estariam apreendendo veículos com cigarro contrabandeado e exigindo dinheiro dos contrabandistas para liberar as cargas. Além de Procedônio, o sargento Claudomiro de Goez Souza, outro preso semana passada na operação do Gaeco, também é acusado de fazer parte do esquema junto com o policial civil aposentado.

Um desses golpes contra os contrabandistas teria ocorrido no dia 1º de fevereiro de 2017, na BR-267, na saída de Maracaju para Rio Brilhante.

O motorista de uma carreta Scania fez boletim de ocorrência denunciando ter sido assaltado por um homem gordo em uma caminhonete Ranger cinza, que o teria parado na estrada com uma pistola na mão afirmando ser da polícia. O homem seria Giuvan, segundo o Gaeco. Ele tomou a chave e o documento da carreta.

No mesmo dia, uma equipe do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) encontrou a carreta no estacionamento de um posto de combustíveis na mesma rodovia. Outra Scania vermelha também foi apreendida no local. As duas estavam carregadas com cigarro contrabandeado.

“É a polícia” – Além das carretas com cigarro, a equipe do DOF encontrou cinco motoristas de caminhões que estavam no posto e relataram terem sofrido tentativa de assalto por um homem gordo numa Ranger cinza, que dizia ser “da polícia” para interceptar as cargas.

Os motoristas, todos do Rio Grande do Sul, apontaram ainda a presença de outra caminhonete, uma Nissan Frontier, “provavelmente ocupada por outros policiais civis e/ou militares”, diz o relatório do Gaeco. O sargento Procedônio acompanhava Giuvan nesse dia, segundo a investigação.

Conforme a operação que investiga o envolvimento de policiais com a Máfia do Cigarro, Giuvan de Oliveira Barbosa teria recebido os R$ 300 mil para liberar duas carretas de cigarro sem que os veículos estivessem em sua posse.

Atentados – Como represália, os contrabandistas teriam ordenado a morte dele. No dia 11 de fevereiro do ano passado, Giuvan sofreu tentativa de homicídio quando chegava em casa na mesma caminhonete Ranger usada para interceptar os caminhoneiros na estrada. O veículo foi atingido por tiros de fuzil calibre 7,62, mas o policial sobreviveu.

Três meses depois, quando estava em uma revendedora de veículos no centro de Maracaju, Giuvan foi alvo de outro ataque e morreu crivado de tiros de pistola 9 milímetros por dois homens até agora não identificados.

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