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Interior

Por regalias, brasileiro fez reforma em presídio e construiu ala adventista

Ministério Público do Paraguai investiga mordomia de Jarvis Gimenes Pavão em presídio de Assunção; reforma paga por ele foi inaugurada por ministra da Justiça, em 2013

Helio de Freitas, de Dourados | 04/08/2016 08:56
Sala de star montada em “cela vip” onde Jarvis Pavão estava preso, no Paraguai (Foto: ABC Color)
Sala de star montada em “cela vip” onde Jarvis Pavão estava preso, no Paraguai (Foto: ABC Color)

Para disfarçar a entrada de materiais de construção, eletrodomésticos e utensílios que colocaria em sua “cela vip”, e também para contar com as vistas grossas da direção, o narcotraficante brasileiro Jarvis Gimenes Pavão fez uma reforma no setor administrativo do presídio de Tacumbú, localizado em Assunção, capital do Paraguai.

Simultaneamente à reforma de quatro salas no piso superior do setor administrativo, onde se instalou com seus seguranças – também presidiários – Pavão bancou a reforma da biblioteca do presídio e da sala do diretor e ainda financiou a construção do “pavilhão adventista”, com capacidade para 120 detentos.

De acordo com o jornal ABC Color, a reforma do setor vip de Pavão foi feita por operários contratados para as obras oficiais no presídio e o material entrou na prisão todos os dias, pelo portão principal.

Preso desde dezembro de 2009 no Paraguai acusado de narcotráfico e lavagem de dinheiro, Jarvis Gimenes Pavão, que é natural de Ponta Porã, cumpria pena de oito anos no presídio de Tacumbú até a semana passada, quando foi levado para o quartel de um grupo especial da Polícia Nacional, também na capital paraguaia.

A transferência, determinada diretamente pelo presidente da República Horácio Cartes após descoberta de um plano de fuga, causou uma crise política no governo e derrubou a então ministra da Justiça, Carla Bacigalupo, demitida após descumprir a ordem presidencial.

Quando agentes especiais da polícia chegaram ao presídio para a transferência, na noite de 26 de julho deste ano, encontraram seguranças vigiando a “cela vip” de Pavão – um espaço com acabamento de alto padrão, bem diferente da pobreza extrema e abandono das demais dependências da penitenciária.

Pavão também é acusado de ser o mandante da execução de outro narcotraficante da fronteira, Jorge Rafaat Toumani, ocorrida no dia 15 de junho, em Pedro Juan Caballero.

Ministra inaugurou – De acordo com o ABC Color, a reforma oficial do presídio, financiada por Pavão, foi inaugurada no dia 18 de novembro de 2013, com a presença da então ministra da Justiça Sheila Abed e autoridades prisionais do país.

Jarvis Pavão chegou ao presídio em dezembro de 2009 após ser preso em uma fazenda em Concepción, perto da fronteira com Mato Grosso do Sul. Logo em seguida começou a reformar o setor de quatro salas, no piso superior dos escritórios administrativos.

Dois cômodos foram decorados e convertidos em quartos, outro foi usado como “casa de banho” e o último foi transformado em um escritório, de onde, segundo fontes ouvidas pelo jornal ABC Color, Jarvis Pavão gerenciava os negócios e recebia políticos e cúmplices do crime.

Não é crime – Apesar do escândalo político que a cela vip de Pavão provocou no Paraguai, o procurador-geral do Estado, Javier Diaz Veron, disse em entrevista a uma rádio de Assunção que o fato não representa qualquer crime.

Diaz Veron criticou a “opulência ultrajante” em que o brasileiro vivia em contraste à pobreza extrema em que os outros presos se encontram. Muitos não têm sequer um colchão ou cobertor.

Apesar da interpretação da Procuradoria do governo, o Ministério Público do Paraguai escalou dois promotores de Justiça para investigar o caso.

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