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Interior

Um mês após morte de Rafaat, fronteira tem “vida normal” e crimes continuam

Até agora, Paraguai não prendeu ninguém pelo ataque; Sergio Lima dos Santos, que teria manuseado metralhadora, foi abandonado ferido no hospital e suposto mandante já estava preso há sete anos

Helio de Freitas, de Dourados | 15/07/2016 08:49
Carro de Jorge Rafaat metralhado na noite de 15 de junho deste ano (Foto: Leo Veras)
Carro de Jorge Rafaat metralhado na noite de 15 de junho deste ano (Foto: Leo Veras)
Metralhadora usada para matar Jorge Rafaat, no dia 15 de junho (Foto: Arquivo)
Metralhadora usada para matar Jorge Rafaat, no dia 15 de junho (Foto: Arquivo)

Um mês após o ataque cinematográfico que eliminou o narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, na noite de 15 de junho, a vida voltou ao normal na linha de fronteira entre Pedro Juan Caballero no Paraguai, e Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande.

Os moradores das duas cidades vizinhas contam que aos poucos as pessoas retomaram a rotina, principalmente à noite – afetada nos dias seguintes ao ataque, que envolveu pelo menos cem pistoleiros e o uso de uma metralhadora antiaérea calibre 50 para conseguir perfurar a blindagem do carro do chefão do narcotráfico.

No submundo do crime a rotina também voltou ao normal. Policiais que atuam na repressão ao tráfico nos dois lados da fronteira não sabem ao certo quem está dando as ordens na distribuição de drogas e de armas em Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, mas os negócios seguem "de vento em popa" – só ontem (14), mais de duas toneladas de maconha foram apreendidas em Mato Grosso do Sul.

As execuções tanto do lado paraguaio quanto brasileiro da fronteira também continuaram nesses 30 dias após a morte de Rafaat.

Mortes continuam – Várias pessoas foram assassinadas em um mês, entre elas os brasileiros José Ivan Ferreira de Brito, morto em sua garagem de veículos em Ponta Porã, no dia 4 deste mês, e Antonio Valdir da Silva, encontrado carbonizado dentro de uma caminhonete na estrada entre Aral Moreira a Coronel Sapucaia, no dia 10.

Em Pedro Juan, o brasileiro Fabio Villalba da Silva, 23, e os irmãos paraguaios Esteban Benítez Espinoza, 35, e Nelson Benitez Espinoza, 37, jogavam vôlei quando foram executados por pistoleiros na noite do dia 19, quatro dias após a morte de Rafaat.

Policiais da região afirmam que, ao contrário do que se imagina longe da fronteira, essas mortes não têm, necessariamente, ligação com a execução do chefão do crime. Sempre aconteceram e vão continuar acontecendo, principalmente por “desacordo” entre criminosos, segundo a polícia.

Sergio Lima dos Santos, que teria manuseado metralhadora, só está preso porque foi abandonado ferido no hospital (Foto: ABC Color)
Sergio Lima dos Santos, que teria manuseado metralhadora, só está preso porque foi abandonado ferido no hospital (Foto: ABC Color)
Jarvis Pavão está preso há sete anos (Foto: Última Hora)
Jarvis Pavão está preso há sete anos (Foto: Última Hora)

Investigação não avança – Em Pedro Juan Caballero, onde Rafaat morava e tinha várias empresas, as investigações de sua morte pouco avançaram. Pelo menos dez pessoas que estavam envolvidas no ataque foram presas, mas nove eram seguranças do narcotraficante.

O único integrante do bando que eliminou Rafaat que está preso é o brasileiro Sergio Lima dos Santos, 34. Ferido com um tiro no rosto por seguranças do narcotraficante, o carioca foi abandonado em um hospital particular de Pedro Juan Caballero horas após o ataque.

Na mesma noite, Sergio foi levado para um hospital de Fernando de la Mora, na região metropolitana de Assunção, onde foi preso. Atualmente está recolhido na penitenciária de Tacumbú, na capital paraguaia.

A polícia do Paraguai diz que Sergio Lima dos Santos manuseou a metralhadora usada para matar Rafaat.

O brasileiro seria integrante do Comando Vermelho, facção carioca apontada pelas autoridades do país vizinho como “sócia” do PCC (Primeiro Comando da Capital) no plano para eliminar Jorge Rafaat e assumirem o controle do crime na região.

O chefão não permitia que os brasileiros atuassem na fronteira e mandou matar vários deles, segundo a polícia paraguaia.

Substituto está preso – O Paraguai também acusa de envolvimento na morte de Jorge Rafaat o pontaporanense Jarvis Chimenes Pavão, que está preso desde 2009 e cumpre pena em Tacumbú.

Ex-sócio de Rafaat na atividade criminosa, Jarvis teria, segundo a polícia paraguaia, se aliado ao PCC – que tem forte atuação na penitenciária de Assunção – para eliminar o chefão do narcotráfico e assumir, com apoio das facções brasileiras, a distribuição de drogas e armas na fronteira.

Uma semana depois da morte do empresário-traficante, a família de Rafaat divulgou uma carta pedindo paz e negando a participação de Jarvis Pavão no crime.

Galã na Bolívia – Outro brasileiro acusado pela polícia paraguaia de participação direta na morte de Rafaat é Elton Leonel Rumich da Silva, 32, o “Galã”. Responsável por planejar e colocar em prática o ataque ao narcotraficante, ele dirigiu a caminhonete Toyota onde estava a metralhadora manuseada por Sergio dos Santos.

Na semana passada, autoridades paraguaias informaram que Elton da Silva fugiu para o território boliviano depois que a Promotoria de Justiça do país vizinho determinou a prisão dele por associação criminosa e falsificação de documento.

O brasileiro usa pelo menos três identidades falsas - Elton Rumich Leonel da Silva, Oliver Giovanni da Silva e Rodrigo Ronald Benites. De acordo com policiais paraguaios, Galã é o representante do PCC na fronteira entre Brasil e Paraguai.

Para entrar na Bolívia, Elton usou com uma identidade verdadeira emitida no Paraguai, usando o nome de Rodrigo Benites. O promotor Samuel Valdez, que ordenou a prisão de Galã, pediu também informações da Justiça brasileira para descobrir a verdadeira identidade do criminoso.

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