Preso por tráfico, empresário pagava dízimo mensal de R$ 86 mil à igreja
Quatro anos após deixar prisão, Marcel Martins Silva acumulou patrimônio de R$ 45 milhões
Apontado como chefe de esquema internacional de tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro, o empresário Marcel Martins Silva, 35, pagava dízimos mensais de até R$ 86 mil para a igreja evangélica que frequentava com a esposa, Evelyn Zobiole Marinelli Martins.
A congregação religiosa fica em Dourados, a 251 km de Campo Grande, onde Marcel e Evelyn possuem empresas e moram, em uma mansão no condomínio de luxo Porto Madero.
Assim como outros empresários da cidade e traficantes da fronteira, o casal é investigado no âmbito da Operação Prime, deflagrada no dia 15 de maio deste ano pela Polícia Federal. Evelyn cumpre prisão domiciliar e Marcel segue atrás das grades.
Ao rastrear trocas de mensagens entre os integrantes da organização, a Polícia Federal descobriu prints de conversas pelo aplicativo WhatsApp em que Marcel enviava para a esposa os comprovantes de pagamento via PIX para a igreja evangélica (não revelada pela PF).
Junto com os comprovantes de pagamento, ele mandava anotações manuscritas com somatória de rendimentos daquele mês para calcular o dízimo. Os valores flutuaram entre R$ 82 mil e R$ 86 mil nos meses de maio, junho e julho de 2022.
Na discriminação da origem dos rendimentos, Marcel Martins citava valores recebidos a título de pró-labore das empresas Primeira Linha Acabamentos e Efraim Construtora, renda de aluguel de imóveis e renda denominada “empreendimentos”. Segundo a PF, essas duas empresas e várias outras localizadas em Dourados e no Paraguai eram usadas para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.
Milionário – Comandando a organização que trazia cocaína da Bolívia e do Peru e enviava para grandes centros brasileiros e para o exterior, Marcel Martins Silva ficou milionário em período de quatro anos. Segundo a PF, ele chefiava o esquema junto com o irmão, Valter Ulisses Martins Silva, 27, que está foragido.
Marcel foi condenado por tráfico de drogas no Paraná e cumpriu pena de 2017 a 2020. Depois que saiu da cadeia, passou a investir em empresas quase à beira da falência em Dourados, uma delas a Primeira Linha Acabamentos.
Segundo a Polícia Federal, os irmãos Martins injetaram dinheiro do tráfico na empresa e se tornaram os verdadeiros donos do negócio. O fundador da loja e oficialmente sócio de Marcel, Carlos José Alencar Rodrigues, o “Carlinhos”, também foi preso na operação.
“Embora alguns bens estejam com valores menores (acredita-se que Marcel colocou apenas o que já foi pago) e outros não possuam valores, é possível ver que a somatória de parte de patrimônio de Marcel totaliza R$ 45.381.000,00 (quarenta e cinco milhões e trezentos e oitenta e um mil reais). Tal somatória em tão pouco tempo não condiz com as atividades lícitas de Marcel, uma vez que esteve preso de 2017 a 2020 e, na ocasião, teve todos os seus bens sequestrados”, afirma trecho do relatório da investigação.
Segundo a PF, os irmãos Martins são de fato os proprietários da Primeira Linha Acabamentos, da Paris Construtora, Israel Construtora, Efraim Construtora, Transfort e Agrocanaã S/A (empresa instalada em território paraguaio).
“Os irmãos Martins possuem uma vasta rede de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio composta por suas empresas e funcionários”, cita a Polícia Federal, que identificou 46 imóveis de Marcel e Valter em território brasileiro e no Paraguai.
Segundo investigadores da Operação Prime, os irmãos Martins possuem ligação com Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”. Também com prisão decretada na mesma operação, “Motinha” segue foragido. Foi a terceira vez em menos de dois anos que ele escapa da PF.
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