Justiça recebeu 21 notificações de acidentes de trabalho por dia em 2017
Segundo órgão, número pode ser ainda maior, já que existem casos que são subnotificados
A quantidade de acidentes de trabalho aumentou 4,74% em Mato Grosso do Sul nos últimos dois anos. Segundo dados da Justiça do Trabalho, somente em 2017 foram registrados 7.830 casos, o que resulta em aproximadamente 21 por dia. Desse total, 38 resultaram em morte, 72% a mais que no período anterior.
Os números por si só já assustam, mas o órgão garante que eles podem ser ainda maiores graças às subnotificações. Segundo o juiz do trabalho Márcio Alexandre da Silva, isso ocorre porque existem situações que acabam passando batidas.
“Um acidente de trânsito, por exemplo, que acontece enquanto o empregado sai de casa e está a caminho do serviço é considerado acidente de trabalho. No caso dos motociclistas, por exemplo, foi criado até um adicional de risco por conta disso”, pontua o magistrado.
Outro problema, segundo ele, são as doenças mentais adquiridas no exercício das funções. “Pressão no trabalho, cobrança de metas e jornadas excessivas dão sobrecarga mental a alguns trabalhadores e eles começam a desenvolver problemas psíquicos, como a depressão, por exemplo, que hoje é a terceira maior causa de afastamentos”.
Silva acrescenta que a própria legislação brasileira tem sua parcela de culpa na ocultação dos acidentes de trabalho.
“Existe um seguro que o empregador paga todos os meses calculado sobre a folha, que é de 1%, 2% ou 3% de acordo com o risco das atividades. Se ele tem muitas notificações de acidentes, há um acréscimo de 0,5% a 2% nesses percentuais que ele já paga. Ou seja, a lei previdenciária acaba penalizando o empregador que notifica os acidentes”, pontua.
“Fazer política de segurança do trabalho no Brasil ainda é complexo por conta dessas deficiências estruturais e de legislação”, conclui.
Conscientização - A Justiça do Trabalho junto com outros órgãos ligados ao setor, como Ministério do Trabalho e MPT (Ministério Público do Trabalho) promovem o abril verde, quando dedicam o mês a ações de prevenção a acidentes no exercício das funções e promoção da saúde do trabalhador.
Grupos com representantes dessas entidades visitarão vários locais orientando as direções sobre a importância das notificações dos acidentes e darão dicas sobre formas de preveni-los.
A Santa Casa foi a primeira a receber a ação, já que é a terceira maior responsável pelas notificações em Campo Grande. Somente ano passado foram 194 casos de funcionários do hospital acidentados.
Dados – A Capital é a cidade com mais acidentes de trabalho no estado, concentrando 2.977 casos ano passado. Em segundo lugar aparece Três Lagoas, com 682 e Dourados com 644. Entre os casos que terminaram com a morte das vítimas, cinco deles foram em Dourados, quatro em Ribas do Rio Pardo e dois em Bela Vista.
Trabalho em linha de produção foi o mais perigoso ano passado, com 552 acidentes. Em segundo lugar na lista aparece o ofício de técnico em enfermagem, com 367 casos. Os caminhoneiros compõem a terceira categoria com mais notificações, com 293, seguidos dos coletores de lixo com 248.
As cinco empresas com mais notificações de acidentes de trabalho em 2017 foram a Solurb (276), Marfrig (264), a Santa Casa (194), Adecoagro Vale do Ivinhema (127) e a JBS (116).