O método que, há 5 anos, deixa mães juntinho do recém-nascido
A porta branca precisa ser aberta devagar e quando os olhos passam pelo quarto, os tons de branco e lilás da parede anunciam que ali é um quarto de bebê. Ao lado da cama, o bercinho e uma poltrona para que a mãe amamente. O silêncio precisa ser total para não acordar e nem assustar os pequenos. O cheirinho de limpeza remete ao perfume dos cremes e do talco na hora da troca da fralda.
Na poltrona, a mãe de primeira viagem que está sentada é a estudante Jéssica Leite, que aos 18 anos teve o primeiro filho, nascido de 26 semanas. Jonas que estava previsto para março veio no dia 23 de dezembro, como presente de Natal antecipado. Junto com a chegada dele veio a certificação, pelo Ministério da Saúde, do Hospital Regional como Centro de Referência Estadual no método Canguru. Um passo para disseminar a prática por todo o Estado.
“Não sabia que ia nascer, veio de surpresa. Estava passando mal em casa, fui pro hospital. Eu não peguei ele lá, vim pegar só aqui”. Para quem só pegou o bebê pela primeira vez quatro dias depois de nascido, agora o ‘atraso’ está sendo tirado.
Jéssica e Jonas estão trocando os primeiros e mais importantes afetos no método Canguru, no Hospital Regional, em Campo Grande. Há duas semanas no método, a menina e o filho vieram de Porto Murtinho em uma ambulância depois que a criança nasceu prematura e bem abaixo do peso.
“Agora ele está enorme. Ele era pequeno, demais de pequeno”. A voz ainda é infantil e no carinho das palavras, Jéssica revela que ainda tem a inocência da juventude. Estar enorme para ela é ver com orgulho as primeiras conquistas do filho. Quem nasceu com 1,550 kg, hoje já está com 2,045 kg.
Desde que chegaram a Campo Grande, a nova mamãe ficou na casa do irmão. Mas passava o tempo todo no hospital. Quando a criança ficou estável e alcançou mais peso, pode passar da UTI neonatal para o método.
“Eu já sabia pegar ele, mas estava com medo de derrubar. É muito pequenininho. Aqui é tranquilo, silencioso e a gente pega ele à vontade. Ele fica quietinho”, relata.
Jéssica e Jonas ocupam um dos oito leitos do Regional, recém-certificado como Centro de Referência Estadual no método, pelo Ministério da Saúde, a implantação do método começou em 2008 com toda uma mudança de paradigmas, explica a médica coordenadora da Linha de Assistência Materno Infantil do HR, Helenita Maria de Oliveira Liberati.
“Desde que a paciente entra até sair, todos tem que falar a mesma linguagem. Ter o mesmo cuidado do ambulatório gestacional, centro obstétrico, UTI neonatal ou unidade intermediária”, explica.
O método nasceu em 1979, na Colômbia. E é uma política humanizada de atendimento prematuro em que a prioridade é contato pele a pele, de forma precoce. “A mãe fica com o bebê na posição canguru o máximo de tempo que quiser. Facilita o vínculo entre os dois. A mãe cuida mais, a família também fica mais envolvida”, completa a médica.
A mudança é gradativa e envolve toda uma equipe, quando o tratamento não tem o foco na doença e sim no atendimento integral de inserir o bebê na família.
Os resultados são, conforme a coordenadora, melhoras entre o vinculo mãe e filho, aleitamento materno, redução de doenças e reinternações e melhora até na rotatividade do leito. “Ele se recupera mais rápido e vai embora mais rápido também. Todos nós precisamos de afeto, mas os pequenos mais ainda”.
Helenita Liberati completa explicando que o prematuro passa por situações de estresse, como ser entubado e processos dolorosos, que tendo a mãe por perto são diminuídos.
Resultados sentidos de imediato seguindo um sistema baseado no calor do afeto. A mudança na forma de pensar traz de volta um olhar mais humanizado para o paciente de forma geral. “Eu me recordo dos nossos ideais”, ressaltou a médica.
Francieli de Souza, 33 anos, também faz o método, não como mãe e sim como técnica em enfermagem da unidade. Há um mês se dedicando aos prematuros ela conta que muda a questão dos cuidados e se forma vínculos até mesmo entre profissional e paciente.
“A gente aprende a deixar esse bebê mais calmo e tem mais tempo para orientar. A gente pode conhecer a mãe, saber como foi a gestação e no final, quando eles vão, a gente sente falta porque se apega também”.