ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEGUNDA  04    CAMPO GRANDE 28º

Cidades

Ralo da corrupção leva mais que um Aquário, revelam operações em MS

Balanço da CGU em Mato Grosso do Sul mostra recuperação de R$ 69,4 milhões nos últimos anos

Aline dos Santos | 04/01/2018 14:05
Ralo da corrupção leva mais que um Aquário, revelam operações em MS

Duzentos e sessenta e dois milhões. O custo da corrupção que deriva das sete operações realizadas no ano passado em Mato Grosso do Sul seria suficiente para pagar um Aquário do Pantanal. O comparativo com a portentosa obra - em formato de elipse e encravada nos altos da avenida Afonso Pena- é utilizada como parâmeto concreto porque a maioria dos sul-mato-grossenses passa longe dos milhões.

Conforme o IBGE, o rendimento mensal da maior parcela da população (26%) varia de um a dois salários minimos. Portanto, no máximo, R$ 22.488 durante todo 2017. O ranking do prejuízo aos cofres públicos é liderado pela operação Lama Asfáltica, que acumula a cifra de R$ 235 milhões desde 2015.

No ano passado, foram mais duas fases, realizadas em 11 de maio e 14 de novembro. Com custo total orçado em R$ 250 milhões pelo atual governo, o Aquário do Pantanal também é investigado pela operação, que abrange o governo do ex-gestor André Puccinelli (PMDB). A obra surgiu em 2011 com previsão de gasto de R$ 84 milhões, mas já consumiu R$ 230 milhões.

Cidade de fronteira tem duas “visitas” da PF e prejuízo de R$ 1 milhão

Paranhos teve duas fases da operação Toque de Midas em 2017.
Paranhos teve duas fases da operação Toque de Midas em 2017.

Toque de Midas - Na fronteira com o Paraguai, marcada pelo tráfico de drogas e com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Econômico), Paranhos, a 469 km de Campo Grande, foi destino de duas operações da CGU (Controladoria Geral da União) e PF (Polícia Federal). A primeira fase da Toque de Midas foi em 4 de abril de 2017, com prejuízo de R$ 1 milhão.

Para se mensurar o impacto, a cidade dispõe de R$ 3,5 milhões por mês para atender os 13.674 moradores. De acordo com as investigações, houve montagem, manipulação de documentos e sobrepreço para aquisições com recursos do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

O esquema teria sido “fabricado” por um contador, com envolvimento de duas empresas de gênero alimentício de Ponta Porã.

Um mês depois, a segunda fase apontou superfaturamento de 367% na compra de livros e R$ 270 mil de prejuízo. O mesmo livro sobre educação ambiental que custou R$ 16 para outras prefeituras, foi adquirido por R$ 75 pela administração de Paranhos em 2016, na gestão do então prefeito Júlio Cesar de Souza.

Considerando os cerca de R$ 84 mil pagos indevidamente, o valor seria suficiente para adquirir mais de 5,2 mil exemplares ao preço normalmente praticado pelo mercado. O material foi fornecido pela Planeta ABC Soluções para Educação, com sede em Campo Grande e alvo de mandado de busca e apreensão.

Empresas tinham três modelos para fraudar licitações em portal do governo federal

Operação Licitante Fantasma foi a primeira de 2017.
(Foto: Marcos Ermínio)
Operação Licitante Fantasma foi a primeira de 2017. (Foto: Marcos Ermínio)

Licitante Fantasma – No dia 21 de março, a primeira operação de 2017 mirou esquema, com prejuízo calculado de R$ 25 milhões, que atuava de três maneiras diferentes para fraudar licitações, por meio do sistema ComprasNet, do governo federal.

Numa única investigação, foi apurado ágio de 600% no valor unitário dos produtos adquiridos, devido à intervenção da organização criminosa.

Um dos alvos da Polícia Federal foi CM Logística Engenharia Comércio e Serviço Ltda, localizada em Campo Grande e apta, no papel, a oferecer 28 serviços, que vão de obra pública a alinhamento e balanceamento de carro.

Dentre os órgãos federais com licitações prejudicadas, aparecem Exército Brasileiro, IFMS (Instituto Federal do Mato Grosso do Sul), Superintendência de Administração do Ministério da Fazenda e Superintendência Federal de Agricultura.

Esquemas para corrupção vão de oficina a medicamentos em prefeituras

Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão na Farmácia Municipal de Naviraí. (Foto: Umberto Zum)
Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão na Farmácia Municipal de Naviraí. (Foto: Umberto Zum)

Cambota e Tarja Preta – No dia 12 de setembro, o alvo foi a prefeitura de Três Lagoas. O esquema de desvio de dinheiro público envolveu o terceiro escalão e três oficinas resultou em perda de R$ 800 mil.

A investigação aponta que, no período de 2015 a 2016, um grupo de servidores da prefeitura e empresários do ramos de oficinas teria direcionado e superfaturado contrato de manutenção da frota de veículos. Num dos casos, foi constatado superfaturamento na ordem de até 486% do valor das peças substituídas pelas oficinas mecânicas.

A sétima operação foi em 24 de maio, no município de Naviraí. A segunda fase da Tarja Preta apura desvio de remédios da farmácia pública. Na primeira etapa, realizada em 2016, calculou prejuízo de R$ 520 mil.

A quadrilha se especializou em desvio de medicamentos e fez outros gastos com a aplicação de recursos federais repassados pelo Ministério da Saúde na aquisição de de medicamentos do Programa de Atenção Básica em Saúde.

Em MS, R$ 69 milhões são recuperados para os cofres públicos

Sistema  Gisa foi  criado para ser modelo em postos de saúde, mas falhou e dinheiro teve que ser devolvido. (Foto: Arquivo)
Sistema Gisa foi criado para ser modelo em postos de saúde, mas falhou e dinheiro teve que ser devolvido. (Foto: Arquivo)

Milhões recuperados – Balanço da CGU em Mato Grosso do Sul mostra recuperação de R$ 69,4 milhões nos últimos anos em Mato Grosso do Sul. O total é lançado como “Benefício financeiro resultantes das ações de controle”.

De acordo com superintendente da Controladoria Regional da União no Estado, José Paulo Barbiere, são valores efetivamente ressarcidos. “O contrato que a gente aponta como prejuízo foi encerrado. Ou deixou de ser pago ou o valor que havia sido pago indevidamente foi devolvido”, afirma.

O maior valor é de R$ 28 milhões durante o ano de 2016 e o total inclui o Gisa. O convênio entre prefeitura de Campo Grande e Ministério da Saúde era para agendamento de consultas por telefone na rede pública. O contrato tinha valor de R$ 9,9 milhões, sendo R$ 8 milhões do governo federal. Ao todo, a empresa deveria implantar 12 módulos, mas apenas dois funcionavam plenamente.

Com base no relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), o Ministério da Saúde rescindiu o contrato do sistema e determinou a devolução do dinheiro.

Sobre as demais operações, como a Lama Asfáltica, a controladoria informa que há bens bloqueados para ressarcimento de valores no caso de condenação.

Nos siga no Google Notícias