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Boa Imagem

A pressão para fazer procedimentos estéticos

Pesquisas relevam que metade da população brasileira não se considera bonita

Por Larissa Almeida (*) | 31/10/2024 15:54

O Brasil é o 2º no ranking mundial de procedimentos estéticos, cirúrgicos e não cirúrgicos, atrás apenas dos Estados Unidos. Por aqui, 41% das pessoas fariam algum procedimento estético, de acordo com pesquisa realizada pelo Opinion Box. Para metade da população, a aparência física está relacionada à felicidade pessoal e os mesmos 50% de entrevistados não se consideram bonitos. Resolvi trazer este tema para nossa coluna porque o crescimento exponencial no número de procedimentos nos revela dados que podem servir de alerta.

A nossa imagem pessoal envolve nosso comportamento, nossa comunicação e, claro, a aparência, que precisa sim ser cuidada, tanto para a nossa autoconfiança quanto para transmitir as mensagens que queremos. No entanto, como lidar com os excessos? E o que seria excesso? Acredito que todos podem e dever fazer o que acharem melhor para se sentirem bem e bonitos, mas quanto disso se deve à influência externa, à pressão estética atual?

Eu fui a um spa dia desses para relaxar após uma semana estressante, e escolhi um tratamento que incluía massagem relaxante no couro cabeludo, mãos e pés. Só queria relaxar, e não fazer nada estético, preciso frisar. Sem eu pedir, me encaminharam para uma máquina que fez uma análise de todos os defeitos que eu tenho no rosto e que eu nem queria saber por que até aquele momento não me incomodavam a ponto de querer fazer algo. Descobri que tenho muitas rugas, na testa e abaixo dos olhos, oleosidade excessiva em alguns pontos, uma pele manchada, com muitos poros, uma textura não agradável, e cravos. E que eles têm todos os tratamentos para resolver estas questões.

Só que todas as pessoas têm essas características em menor ou maior grau. É natural de toda pele. Eu me considero com uma autoestima ok, tenho meus dias bons e ruins, mas fiquei vendo defeito em mim após passar pela famigerada máquina. Imagina como essas informações chegam para uma pessoa que não está bem com a própria imagem? Gastaria o que tem e o que não tem com todos estes tratamentos, e nunca ficaria satisfeita porque perfeição não existe. E imagine ainda como tudo isso chega aos adolescentes, que não estão maduros o suficiente para lidar com muitas dessas questões?

A procura pela medicina estética cresceu 40% nos últimos quatro anos em todo o mundo, com destaque para a lipoaspiração (2,2 milhões de procedimentos em 2023), que ultrapassou a procura por próteses de silicone. Os procedimentos minimamente invasivos tiveram participação superior a 50% no mercado de estética mundial, no ano passado. As cinco intervenções minimamente invasivas mais procuradas são: toxina botulínica (43,2% do total), ácido hialurônico (28,1%), remoção de pelos (12,8%), redução de gordura localizada (3,9%) e fotorrejuvenescimento (3,6%).

Entre as cirurgias plásticas, foram mais de 15,8 milhões de procedimentos em 2023, enquanto os não-cirúrgicos chegaram aos 19,1 milhões, segundo reportagem publicada este mês pelo jornal O Globo. Traduzido em cifras, o mercado foi avaliado em US$ 82,6 bilhões em 2023, e alimenta uma expectativa em torno da taxa de crescimento anual composta de 8,3% de 2024 a 2030.

As redes sociais e seus filtros “embelezadores”, assim como a ampla divulgação de inúmeros procedimentos aliados ao investimento enorme de marketing deste setor e o crescimento das tecnologias estéticas têm impacto direto neste cenário. As promessas de que você vai ficar mais bonito (a), mais jovem, mais magro (a), com menos rugas, mais cabelos, pele mais sedosa e sem manchas, e isso de uma maneira rápida, às vezes até indolor e, para isso, precisa “só” precisa de dinheiro, também demonstra como a nossa sociedade está cada vez mais imediatista e claro, se comparando cada vez mais, afinal, a comparação com o outro está a apenas um clique. Acrescente nesta receita perigosa o famoso efeito manada: quanto mais gente está fazendo algo, mais gente quer se juntar a eles, para se integrar, para pertencer, para parecer.

O meu ponto aqui é o seguinte: as pessoas (e até mesmo você, leitor) estão lançando mão de inúmeros procedimentos por conta dessa pressão estética que vivemos, por conta de fatores externos, ou porque isso realmente vai fazer bem para si, para sua vida? Se for a primeira opção, vale a pena repensar. Nosso corpo e rosto, e a nossa saúde, são preciosos, e devemos ter cuidado, porque todo tipo de procedimento tem riscos e pode ter sequelas. Como as mães sabiamente sempre nos disseram: “você não é todo mundo”.

(*) Larissa Almeida é formada em Comunicação Social pela UFMS e pós-graduada em Influência Digital pela PUC-RS. Trabalhou durante 14 anos na área de comunicação e imagem em importantes instituições como Caixa Econômica Federal, Prefeitura de Campo Grande, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Senado Federal, além de ter coordenado a comunicação da Sanesul. Consultora de imagem formada pelo RML Academy e Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Especialista em Dress Code e comportamento profissional por Cláudia Matarazzo e RMJ Treinamento e Desenvolvimento Empresarial. Siga no Instagram @vistavoce_.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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