"Cheirando a velho", o odor corporal que começa aos 30
Não se culpe se em alguma ocasião ao aproximar-se de um idoso percebeu um aroma ligeiramente rançoso. Talvez tenha pensado que estava faltando asseio a esse idoso. Esse odor é real. Não têm nada a ver com o suor ou de outros fluídos corporais nem tampouco com alguma sujeira exterior. Ele é causado por uma molécula denominada 2-nonelal que é gerada na pele pela oxidação de gorduras e não pode ser eliminada por sabonetes convencionais. Essa molécula realmente não cheira bem. Pode ser detectada facilmente em colarinhos de camisas e em fronhas.
Os japoneses da companhia Shiseido foram os primeiros a reconhecê-lo no ano 2001. Em uma sociedade como a deles, onde uma fragrância exagerada é considerada uma invasão do espaço comum, abundam os estudos sobre o funcionamento da oxidação das gorduras e como mitigar o mal odor corporal. Ainda assim, os nipônicos, muito respeitosos com seus idosos, denominam essa peculiar essência corporal dos idosos de "kareishu".
Que existam umas tantas moléculas do 2-nonelal disseminadas pela pele não chama a atenção. O problema surge à partir dos 30-40 anos quando essas poucas moléculas se convertem em uma verdadeira legião. E vai aumentando com o passar dos anos. As mudanças hormonais do envelhecimento trazem como consequência um aumento na produção de lipídeos na superfície da pele. Paralelamente, a nossa capacidade de oxidar esses lipídeos vai se reduzindo. O resultado, é óbvio, é um descomunal aumento do 2-nonelal, do cheiro rançoso.
A diferença do suor é que o 2-nonelal não é solúvel na água.
Mas, ele não sai com o banho? Os lipídeos não são solúveis na água. Daí, esse odor desagradável não é tão simples de ser eliminado. É essa sua diferença do suor que não passa de um caldo aquoso de substâncias e de bactérias com vontade de dissolvê-las. Um pouco de água e sabão, elimina o suor com facilidade.
Como se fosse uma película de ficção-científica, só há uma maneira, até agora, de deter a ação do 2-nonelal - neutralizando-o. A maneira mais barata e natural de conseguir essa proeza é usar um extrato de caqui que pode ser feito em sua casa. Lave as mãos, os frutos e tudo que usará. Descasque os caquis, cuidando para separar bem a casca da polpa. Pegue um copo e uma peneira e comece a espremer as cascas dentro dela. Após alguns segundos, perceberá a liberação de um pouco de extrato oleoso. Na Europa, lançaram um produto feito com micro-organismos do fundo do mar com a mesma capacidade do extrato de caqui, é denominado "Prima-Derm". No Japão, a companhia Mirai Clinical vende extrato de caqui na forma de sabonetes e de desodorantes.
A perda de nossa capacidade olfativa nos impede de notar esse odor.
Se está perguntando o que faz a natureza para nos avisar desse mal odor, a resposta é desanimadora. À medida que envelhecemos, perdemos capacidade olfativa. Pouco a pouco deixamos de sentir o odor de alguém próximo e também a fragrância de uma rosa do jardim.
Concretamente, à partir dos 70 anos a perda do olfato é tão notável que quase somos tão imunes ao mal odor como as crianças menores de 8 anos, que não se alteram ao entrar no banho ou com as ventosidades de seus amigos. Cientistas franceses explicam essa mudança com a idade pela perda de fibras olfativas e a morte de neurônios encarregados de processar os odores, dois processos naturais do envelhecimento. Não se chateie, à partir de agora, se seus parentes idosos se excedam com perfumes ou colônias. Eles não percebem o exagero.