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Em Pauta

A esquerda latino-americana ainda vive

Mário Sérgio Lorenzetto | 10/10/2019 06:40
A esquerda latino-americana ainda vive

Argentina, Bolívia e Uruguai realizarão eleições presidenciais em outubro. E, por enquanto, os esquerdistas são fortes candidatos nos três países. Este é um desenvolvimento um tanto inesperado para muitos. À partir de 2015, os conservadores derrubaram os principais redutos de esquerda, incluindo Brasil, Argentina e Chile. A esquerda latino-americana foi declarada morta várias vezes. Mas a vitória do esquerdista Andrés López Obrador no México, em julho de 2018, mostrava que os ventos políticos na América Latina nem sempre sopram na mesma direção.

A esquerda latino-americana ainda vive

Curva à esquerda na América Latina.

Cerca de dois terços de todos os latino-americanos viviam sob alguma forma de governo de esquerda até 2010. Uma maré esquerdizante havia tomado conta da América Latina após a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, em 1998. Somente a Colômbia e o México estavam fora da correnteza esquerdizante. Havia uma esquerda moderada, social-democrata, que aceitava os preceitos de mercado, no Brasil, Chile, Bolívia e Uruguai e uma esquerda radical, que aspirava por uma economia "livre de patrões" na Venezuela, Nicarágua e Equador. Mas, em 2015, Brasil, Venezuela e Nicarágua se tornaram catástrofes políticas e econômicas. E o governo de esquerda do Chile caiu dramaticamente em popularidade. Mas, o que há em comum entre os derrotados, para além das denúncias de corrupção que ajudam a explicar a queda, mas não seu tamanho? Má administração econômica, distanciamento ou cooptação para a máquina pública de seus apoiadores em movimentos sociais, uma grave inflexão para o autoritarismo e uma completa desconexão com os sentimentos de parcela importante da sociedade quanto ao ordenamento comportamental (o desbunde), em especial com o apoio exagerado à causa homossexual, são algumas das mais importantes causas do tamanho do colapso.

A esquerda latino-americana ainda vive

A tentação autocrática.

Os líderes esquerdistas sucumbiram ao que chamamos de "tentação autocrática" - a ideia de que um líder carismático não só pode falar por uma nação inteira, mas que pode fazê-lo para sempre. Não há exceção, eles sempre perdem contato com seus eleitores. E quando se tornam isolados as salvaguardas contra a corrupção e políticas irresponsáveis enfraquecem ou desaparecem. Reinam, com o reino a seu dispor. Há outra característica em comum para os líderes autocráticos: eles têm menor probabilidade de mudar de rumo quando as coisas dão errado. Perseveram no erro. Degradam a democracia. A tentação autocrática de leonizar seu líder também enfraquece o partido político. Acabam se apegando ao poder apesar dos apelos populares para que eles o deixem.

A esquerda latino-americana ainda vive

Exceções esquerdistas.

Então, como explicar a grande possibilidade de que os líderes da esquerda argentina, boliviana e uruguaia provavelmente vencerão as próximas eleições? A que se deve tamanha resistência em uma região do mundo com claros contornos à direita? A melhor explicação vem dos fortes laços - nunca perdidos - que esses líderes mantiveram com os movimentos sociais e da renovação da esperança em dias melhores para suas economias. Todos são tidos como bons administradores. Na Argentina, o possível retorno da esquerda ao poder têm como seu principal insumo a péssima administração da economia feita pelo direitista Mauricio Macri. O país está - novamente - arruinado.

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