A inteligência artificial busca distinguir o choro dos bebês
O que quer um bebê quando chora? Uma equipe da Universidade da Califórnia trabalha para resolver esse desconhecimento. Chora de fome? Cólica? Pesadelo? Separação? A chefe da equipe, Ariana Anderson, neuropsicóloga computacional, têm quatro filhos. Afirma que quando ouvia chorar seu terceiro filho percebeu que existiam padrões no choro. O seguinte passo lógico foi treinar um algoritmo para que melhorasse o entendimento humano.
Chatterbaby, o app que dá uma porcentagem com o motivo do choro.
Com os anos, a equipe da Califórnia construiu um aplicativo: Chatterbaby, disponível em Android e iPhone, que dá uma porcentagem com o motivo mais provável do choro. A base de dados de Chatterbaby têm milhares de exemplos e é capaz de distinguir entre dor (com 90% de êxito), inquietude (com 85% de êxito) e fome (com 60%). "Esse 60% é devido ao fato de que temos ainda pequenas amostras, mas como estamos continuamente treinando nossos algoritmos com dados novos, a precisão crescerá no futuro", diz Ariana Anderson.
O método para classificar o choro dos bebês.
O processo de classificação de choros em Chatterbaby é delicado. O choro de dor é indiscutível: são tirados de punções em bebês feitas nas vacinas ou por agulha na orelha das meninas para colocar brincos. As outras duas categorias que no momento manejam - inquieto e faminto - têm controle de qualidade. "Primeiro são classificados pelos pais (geralmente a mãe). Então, outra mãe e eu escutamos um por um desses choros. Se as duas estamos de acordo, o choro é lançado em nossa base de dados. Se uma está em desacordo, é eliminado", explica Anderson.
Separação, medo e cólicas - o próximo passo de Chatterbay.
A equipe de Anderson está quase pronta para apresentar outros tipos de prantos: separação, medo e cólicas são os próximos choros a entrar no app. "O que entendemos do desenvolvimento normal de bebês é que começam a sentir medo de separação entre 6 e 7 meses", diz a neonatóloga Diana Montoya Williams, da equipe californiana. Também informa que para cólicas ainda não dispõem de amostras suficientes. As pesquisas estão demonstrando que o choro de cólica é muito similar ao choro da punção feita em vacinas. Chatterbaby está procurando mais choros, principalmente de bebês até três meses, mas aceita choros de crianças até dois anos.
Bebê brasileiro chora diferente de bebê norte americano?
Anderson afirma que "o bebê começa a ouvir a melodia da língua da mãe [quando está] no útero". Mas também explica que a base de dados de Chatterbaby é 80% internacional. A resposta à indagação é que efetivamente os bebês choram com linguagens variadas. Quanto a possíveis diferenças entre os sexos, Anderson afirma que não acredita que os meninos chorem diferente das meninas, mas que a equipe está pesquisando essa possível diferença.
Mas, Chatterbaby vem apresentando outros usos. Uma quantidade surpreendente de pais e mães surdos estão acorrendo a esse app. A equipe também pesquisa se será possível distinguir o choro de bebês autistas para que tenham um diagnóstico com poucos meses.
Pesquisando a opinião dos pais usuários desse app constata-se uma surpresa. A imensa maioria lhe concede cinco estrelas - nota máxima -, mas quase não há notas intermediárias, apenas a nota mínima de uma estrela. É possível que as notas mínimas venham de pais que estão com a tecnologia mais avançada do momento para entender seus filhos e que, acordados às três horas da madrugada, entendam o motivo do choro, mas nada possam fazer.