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Em Pauta

A lei que proibiu a evolução

Mário Sérgio Lorenzetto | 06/08/2018 08:54
A lei que proibiu a evolução

Há meio século, no 18 de maio de 1967, o governador do Tennessee, nos EUA, assinava a abolição de uma lei que havia permanecido vigorando por 42 anos. O processo para acabar com tal lei foi ultra-rápido, o parlamento desse Estado a derrubou em três minutos. O fim da chamada "Butler Act", a lei que impedia o ensino da evolução nas escolas, foi tão curioso quanto havia sido seu começo.
Em 1925, o fazendeiro e membro da Câmara do Tennessee, John Butler, fiel da Igreja Batista Primitiva, redigiu um projeto de lei proibindo tal ensino em todas escolas públicas. A proibição vinha acompanhada por multas de US$100 a US$500 para os infratores. O texto de Butler foi aprovado por ampla maioria. Mas, ao contrário do que desejava, a ciência irrompeu no mundo rural do meio oeste dos Estados Unidos. Impulsionou o estudo da evolução em todos os Estados onde tal ideia não tinha importância.
Ao difundir-se a notícia da lei Butler, a União Norte Americana das Liberdades Civis (ACLU) se ofereceu para defender qualquer professor que fosse acusado de violar a lei de Butler. O anúncio da ACLU chegou ao conhecimento do engenheiro George Rappleyea, que vivia na pequena localidade de Dayton, no Tennessee. Convenceu aos líderes locais que um tribunal para julgar algum professor que violasse a lei colocaria a cidadezinha no mapa mundial e revitalizaria sua economia. Rappleyea estava certo. Persuadiram um jovem professor de biologia de 24 anos, John Scopes, que pouco sabia sobre evolução de passar a lecionar essa matéria. O julgamento de Scopes foi celebrado em julho de 1925, com os Estados Unidos inteiro o acompanhando pelo rádio. O processo contou com intenso dramatismo e essa história seria levada ao teatro e ao cinema. O jurado emitiu a sentença de multa de US$100 para o professor. A ACLU continuo lutando contra tal sentença nas instâncias superiores. Mas a lei estava morta. Caiu no esquecimento e só foi lembrada em 1967. Para ser baixada à sepultura em poucos minutos. Dayton é uma das mais famosas cidades do mundo por sua "defesa intransigente das liberdades civis".

A lei que proibiu a evolução
A lei que proibiu a evolução

O monge que "salvou" a teoria da evolução.

Era o ano de 1900 e nem as mentes mais sábias das ciências ainda não conseguiam explicar como era possível que uma pessoa tivesse os pés planos e seus pais não, ou como os filhos de um casal de cabelos escuros tivesse filhos loiros. No meio científico ninguém mais tinha dúvidas sobre a teoria de Darwin, mas havia uma "calcanhar de Aquiles" nessa ideia: estava explicada a origem das espécies, mas não a transmissão das características dos pais para os filhos. De repente, três cientistas, um holandês, um alemão e um austríaco, acreditaram ter descoberta essa explicação. Antes que pudessem lutar por seus nomes na história das ciências, descobriram que essa teoria já estava escrita há 35 anos. Um monge austríaco já tinha estudado e explicado o fenômeno.
Esse monge era Gregor Mendel (1822-1884), um apaixonado pela estatística e pela jardinagem. Mas não era um simples aficionado que descobriu por acaso as bases do que hoje chamamos de Genética. Sabia o que buscava. E encontrou as respostas com um experimento muito bem planejado. Os monges de seu monastério, em Brno, hoje na República Tcheca, tinham fama de excelentes cientistas. O abade desse monastério não só permitiu Mendel de realizar as famosas pesquisas com ervilhas como colocou dois ajudantes para a ingente tarefa de cruzar 30.000 plantas durante oito anos. Algo impensável para a época.
Havia séculos e séculos que cruzavam plantas e animais para obter raças mais uteis. Essa engenharia genética primitiva era parte do saber popular. Só que ninguém entendia como funcionava. Darwin era um deles. Pensava que as característica dos pais se mesclavam nos filhos, como se mesclam as cores para a pintura. Mendel mostrou como funcionava a herança das características dos pais, filhos e netos. Assim nasceu a Genética, talvez a ciência mais importante de nossos tempos. Graças aos cálculos estatísticos de Mendel. Que, aliás, os cientistas de seu país não entenderam quando publicou seu trabalho em 1866. Mendel se resignou. Foi se dedicar a outras tarefas e teve que chegar o século XX para que reconhecessem seus méritos. Muito depois de morto.

A lei que proibiu a evolução
A lei que proibiu a evolução

O maio de 68 das ciências.

A data de maio de 68 está associada às barricadas nas ruas de Paris, protestos, violência policial, e lemas como "seja realista, peça o impossível". Um segunda revolução francesa enquadrada em um contexto mais amplo de turbulências políticas e sociais: os assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy, sobre o pano de fundo da guerra do Vietnã e os distúrbios raciais; ou a Primavera de Praga na Tchecoslováquia, que pretendia abrir o país e foi massacrada pelos tanques da extinta URSS. Mas, se 68 foi transformador nas ruas, também o foi nas ciências tecnológicas. Naquele 68, o engenheiro da IBM Robert Dennard patenteava a memória DRAM (Dynamic Random Access Memory), que é chave na informática até nossos dias. Ao mesmo tempo, na Califórnia Robert Noyce e Gordon Moore fundavam a Intel, hoje líder mundial no mercado de microprocessadores. E, também, nesse maio de 68, Douglas Engelbart, apresentava seu invento: o mouse para computadores pessoais. Engelbart introduzia, além disso, muitos dos fundamentos atuais dos computadores pessoais, como a navegação, as janelas, os gráficos, o hipertexto, a videoconferência e os processadores de texto. Os computadores estavam prontos para invadir os lares e os escritórios. Um mês que nunca seria esquecido pelas suas agitações sociais mas preso na masmorra do esquecimento de sua revolução tecnológica.

A lei que proibiu a evolução

O primeiro protótipo de mouse de computador

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