Código de açúcar: o glicoma é a próxima grande nova
Graças à atenção mundial conquistada pela conclusão do Projeto Genoma Humano, em 2003, a maioria das pessoas já ouviu falar sobre DNA, genes e genoma. Também é possível que tenham ouvido acerca do Proteômica - o estudo das proteínas. Mas o estudo do glicoma - enormes cadeias de açúcar - está cerca de vinte anos atrás desses outros campos.
Quando você pensa em açúcar, provavelmente pensa no açúcar de mesa branco, doce e cristalino, usado para adoçar café ou fazer biscoito. Mas você sabia que, dentro de nosso corpo, moléculas simples de açúcar podem ser conectadas juntas para criar estruturas poderosas, que recentemente foram ligadas a problemas de saúde, incluindo câncer, doenças auto-imunes e envelhecimento?
Essas longas cadeias de açúcar que revestem nossas células são chamadas de glicanos e, de acordo com a Academia de Ciências dos EUA, nos levará à criação de um mapa de sua localização e a uma nova era na medicina. O objetivo final é catalogar as centenas de milhares de açúcares e suas localizações em vários tipos de células e, depois, usar essas informações para adaptar a terapias médicas de cada pessoa.
Por que preocuparmos com os glicanos?
No futuro, é provável que a análise dos glicanos seja usada para prever riscos de desenvolvimento de doenças como artrite reumatoide, câncer e alergias alimentares. Isso ocorre porque as alterações glicêmicas podem ser especificamente relacionadas a estados patológicos específicos. Além disso, processos biológicos, como o envelhecimento, estão diretamente ligados à inflamação em nosso glicoma. Os cientistas que estudam o glicoma acreditam que auxiliarão a retardar a velhice. Essa é uma nova possibilidade que se abre aos estudos.
Juntamente com o DNA, proteínas e gorduras, os glicanos são uma das grandes moléculas essenciais para nossa vida. Desses quatro, os glicanos são os árbitros finais de como nossas células se comportam.
O DNA orquestra nossa aparência, nossa capacidade de pensar e comportar e até determina as doenças. Dentro de nosso DNA estão segmentos curtos, os genes, que geralmente contêm instruções de como sintetizar proteínas. As proteínas, por sua vez, são os "burros de carga" da célula, realizando muitas das funções necessárias para a vida. No entanto, como uma proteína se comporta muitas vezes depende de como os glicanos estão ligados a ela. O principal trabalho dos glicanos é modificar as proteínas e gorduras que se encontram na superfície de nossas células. Juntos, criam um grosso revestimento de açúcar ao redor das células. Se considerarmos que a superfície da célula é o solo, os glicanos seriam a flora. Determinam a vida maravilhosamente diversa que brotam e dão cor e identidade à célula. De fato, se você fosse capaz de ver uma célula a olho nu, ela seria algo semelhante a um pêssego com dez vezes mais "penugens" (o glicoma).
Glicanos em nossa comida podem desencadear reações auto-imunes.
Muitos estudos foram feitos ligando a ingestão de carne vermelha com doenças como diabetes e aterosclerose. Nenhum conseguiu demonstrar como isso ocorre até recentemente. Um dos mais intrigantes novos estudos propõe que o culpado seja um açúcar com o nome "N-glicolilneuramínico não humano" ou simplesmente Neu5Gc, para abreviar. Esse açúcar é encontrado em todos os mamíferos, menos nos humanos. No entanto, comemos o Neu5Gc com a carne vermelha.
Uma vez que ele se torna parte do revestimento - a penugem - da célula, temos uma substância estranha em nosso corpo. Isso pode causar inflamações porque nosso sistema imunológico avisa que existe esse estranho e o ataca. E agora, algo que nos parece um tanto exagerado. Os cientistas afirmam que essa inflamação, decorrente da incorporação do Neu5Gc, pode ser crônica e assim, levar a ataques cardíacos, derrames e até câncer. Mas, se há algumas dúvidas a respeito do glicoma, com certeza eles produzirão uma nova onda de avanços médicos à medida que desbloquearem o "código de açúcar".