Como as grandes crises mudaram a moda
Ainda que para muitos o assunto da moda seja algo banal, o fato é que ela consegue acompanhar e mesmo prever todas as grandes mudanças sociais. Poucos se perguntam por que a moda masculina muda tão pouco quando comparada com a feminina. O fato é que os homens da nobreza deixaram de ser o grande centro da moda para não perderem a cabeça. Antes da Revolução Francesa havia uma moda masculina muito efeminada. Os nobres do mundo todo, inclusive no Brasil, usavam perucas femininas, joias em profusão e saltos mais altos que os das mulheres. Com a guilhotina, passaram a usar roupas semelhantes às usadas pelos burgueses.
Quando as mulheres usaram calças.
Se os nobres eram homens que se enfeitavam como mulheres, as mulheres também passaram a usar uma roupa tida como essencialmente masculina. Durante a Primeira Guerra Mundial as mulheres que trabalhavam em minas e nas fábricas de armas passaram a usar calças devido à falta de tecidos, que tinham sido deslocados para fazer uniformes dos militares, e por causa da falta de mão de obra nas fábricas de roupas femininas.
E fez-se a depilação e as bijouterias.
Essa também foi a época em que as mulheres começaram a depilar-se. Antes, a moda eram pelos, muitos pelos nos corpos femininos. Até bigodes eram bem vistos. Com a guerra, havia a necessidade de apresentar uma aparência tida como mais saudável. - passaram a depilar-se. As bijouterias também são da Primeira Guerra. Antes dela, as mulheres usavam uma profusão de joias. Na Guerra, os soldados passaram a enfeitar munições, pedras e cristais para presentear suas amadas.
Cosméticos: para os rostos irradiarem otimismo.
Helena Rubinstein e Elizabeth Arden foram as precursoras de uma nova moda de guerra: o uso em quantidade de cosméticos. Por estranho que possa parecer, os cosméticos passaram a ser entendidos como produtos patrióticos. As mulheres deveria. Usá-los para irradiarem otimismo. Tinham de ocultar o estresse provocado pela catástrofe.
A Paris dos nazistas e o perfume da Chanel.
A Paris ocupada pelos nazistas é muito parecida com a ocupada pelo coronavírus. Só as lojas essenciais abriam. Ninguém sabe como, uma moça pouca conhecida, chamada Coco Chanel, conseguiu manter sua loja aberta. Os soldados faziam fila para comprar o perfume número cinco da Chanel.
Churchill pede que usem batons.
Pequenos luxos acessíveis para enfrentar o desastre. Esse é o conceito criado pelo sisudo Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra. Tanto valia para os perfumes da Coco Chanel como para o uso massivo de batons pelas mulheres inglesas. Inclusive por aquelas que iam fuzilar nazistas.
O feísmo dos anos 80.
O movimento da moda que eclodiu nos anos oitenta do século passado recebeu o nome de "feísmo". A feiura ocupou as passarelas e a moda em geral. A marca japonesa de moda Comme des Garçons iria transformar os calçados para sempre. Adepta do feísmo, a Comme des Garçons foi sensível ao perceber que as mulheres norte-americanas estavam sofrendo para ir a pé a seus locais de trabalho usando os longos saltos de então. Fruto de uma greve geral nos transportes, só lhes restavam longos trajetos varados a pé. Os japoneses foram buscar no mundo esportivo um calçado que lhes desse conforto e agilidade. Tiraram dos esportes os feios tênis e os introduziram na moda feminina.
Para onde irá a moda pós pandemia?
Ninguém sabe para onde irá a política, a economia e as relações sociais no mundo que emergirá após a pandemia. É possível prever que o mundo da moda também passará por profundas transformações. Também da para vaticinar que virá forte no novo mundo pois não estamos acostumados a não consumir. A ostentação da moda sempre foi uma resposta aos tempos sombrios. É bem provável que se repita. A moda ostentará novamente.