Convencer os antivacinas: Ouvi-los e conquistar a confiança
Durante décadas confiamos em um contrato social que funcionava, graças a uma cidadania muito complacente. Mas os antivacinas já estavam aqui, não caíram da Lua. O desafio começou quando esses pequenos bolsões de antivacinas começaram a comunicar-se entre si. Os negacionistas são a parte extrema desses bolsões, alimentados em grande parte pelas redes sociais.
Não bastam argumentos científicos e racionais.
Hoje sabemos que a maior parte dos negacionistas desconfia das indústrias que produzem as vacinas ou são estimulados por governantes ou por líderes políticos. Por isso, resulta inútil - e frustrante - usar apenas argumentos racionais e científicos para convencê-los. Não é apenas uma mera questão de informação. Não serão convencidos com as tradicionais campanhas midiáticas de informação da vacinação. Pelo contrário, o ceticismo é mais forte nas nações mais ricas, teoricamente mais informadas.
Ouvi-los é a chave.
Os estudiosos dos movimentos antivacinas advertem que há necessidade de ouvir os negacionistas. Mostram que obtiveram ótimos resultados quando aprenderam, há muitos anos, a ouvir os nigerianos e os indonésios. Salvaram milhões de vida. Essa é a saída para vacinar mais de 90% das populações.
A Nigéria e a Indonésia ensinam.
A rebelião das mães nigerianas contra a vacina da pólio em 2004 durou 11 meses e custou a vida de meio milhão de crianças. Foi necessária uma campanha - porta a porta - ouvindo essas mães. Tão importante explicar aquela vacina, foi ouvir as mães. O governo havia perdido a confiança. Tiveram de construir milhares de poços de água para reconquistar a confiança perdida. Outra experiência foi levada a cabo na Indonésia. Tiveram de enviar as vacinas junto com o atendimento da saúde em geral - porta a porta - para que a população readquirisse confiança nos imunizantes. Boatos tinham derrubado a vacinação a percentuais mínimos e o governo não atendia a saúde primária. Ouvir e conquistar a confiança é a chave do sucesso.
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